Dois aspirantes a ator conversavam sobre o seriado "True Detective", o novo drama televisivo da HBO do qual Matthew McConaughey é um dos protagonistas. A conversa então se deslocou para McConaughey e para sua interpretação de um paciente com Aids em "Clube de Compras Dallas". Então surgiu este comentário: "Esse é o tipo de carreira que eu quero", disse um dos homens. O outro meneou a cabeça em sinal de aprovação.
Aparentemente se esquecendo de que a autopromoção continua sendo o caminho número um para crescer em Hollywood, ele não quis dar o nome. Talvez tenha ficado envergonhado: Matthew McConaughey, modelo de carreira? Não faz muito tempo, as únicas pessoas que diziam isso eram tocadores de bongô que atuam nus.
Mas esse é o antigo McConaughey, o cara que aparecia sem camisa em ensaios fotográficos da "Us Weekly" e estrelava comédias como "Minhas Adoráveis Ex-Namoradas" e "Armações do Amor" (e que foi preso em 1999 em um incidente relacionado ao bongô).
O novo McConaughey, 44, que levou para casa o Oscar de melhor ator por seu desempenho em "Clube de Compras Dallas" e provavelmente estará na disputa pelo Emmy por sua atuação em "True Detective", tornou-se um ator sério, além de inspiração para uma porção de candidatos a ator.
Já surgiu até uma frase de efeito no mundo do cinema: "O modelo McConaughey". "Quando ele começou a fazer escolhas que eram menos focadas em sua aparência e tinham integridade artística, muitos atores jovens ficaram bastante impressionados", disse Laura Gardner, atriz e professora do Howard Fine Acting Studio, em Los Angeles. "McConaughey demonstrou compromisso com a arte, para encontrar a verdade em seus personagens." Ela destacou que ele perdeu 19,5 quilos para fazer "Clube de Compras Dallas".
Ao mesmo tempo em que McConaughey se tornou o garoto-propaganda para atividades mais intelectualizadas, uma multidão de atores está buscando participações de mais qualidade, depois que grandes papéis em obras comerciais (e grandes salários comerciais) os deixaram críticas negativas e bilheterias decepcionantes.
Fazer sucesso em Hollywood é tão difícil que há uma tendência entre atores em apuros e seus representantes de apostar naquilo que esteja dando certo.
Dave Karger, especialista em Oscar e correspondente-chefe do site Fandango.com, disse que McConaughey está "numa fase ridícula [de tão boa]". Acrescentou: "Que ator na faixa dos 30 anos não iria invejá-lo?".
Nascido no Texas, McConaughey se destacou no filme independente "Jovens, Loucos e Rebeldes", de 1993. Há alguns anos, deixou para trás papéis de protagonista em comédias românticas e franquias de filmes para fazer personagens mais interessantes: um advogado em "Bernie", um repórter em "Obsessão" e um fugitivo em "Amor Bandido". Ao longo do caminho, recusou uma oferta de US$ 15 milhões da Universal para ressuscitar "Magnum".
Essas decisões acabaram lhe trazendo uma grande recompensa: Christopher Nolan contratou McConaughey como protagonista para seu épico de ficção científica "Interestelar", filme considerado viável tanto comercial quanto artisticamente, com lançamento previsto para novembro. (O último filme original de Nolan, "A Origem", arrecadou mais de US$ 825 milhões no mundo todo em 2010; sua trilogia "O Cavaleiro das Trevas" alcançou US$ 2,4 bilhões.)
As escolhas de McConaughey também o levaram a trabalhos mais gratificantes. "O herói nem sempre tem muita identidade, porque ele tem de jogar em muitas posições diferentes. Ele tem de ajudar a história a andar", disse McConaughey. Anos atrás, ele disse a seu agente, Jim Toth, que queria mudar o tipo de papel que estava interpretando: menos herói, mais inferiorizado.
"Mesmo em um grande filme, eu quero algo pelo que lutar."
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