Uma década atrás, Ivan Zamora, 23 anos, já poderia ter partido em direção dos Estados Unidos. Só que pelo contrário, ele se formou em maio numa nova universidade daqui, depois foi trabalhar como engenheiro estagiário.
Seus dias agora começam dentro da nova fábrica da Volkswagen e, quando deixa o trabalho à noite, ele se junta a outras pessoas que estão subindo na vida trabalhando na vizinha nova fábrica da Pirelli, para fornecedores de autopeças japoneses e numa nova unidade da Nivea.
"Existem mais oportunidades para estudar e ter sucesso", afirmou Zamora. "Meus pais são professores. Eles viveram uma era completamente diferente."
Educação. Mais trabalho sofisticado. Salário mais alto. Esta é a fórmula de desenvolvimento que o México busca há décadas. Porém, depois que a onda de mercado livre da década de 1990 não conseguiu produzir muita coisa além de postos de trabalho para operários de baixa qualificação, o país finalmente está atraindo as indústrias de ponta que, segundo especialistas, poderiam levar à prosperidade duradoura. Aqui, num estado em grande medida pobre e há muito tempo conhecido como uma das principais fontes mexicanas de imigrantes ilegais para os Estados Unidos, um novo México começou a surgir.
Dezenas de empresas estrangeiras estão investindo. Há moradias novas em toda parte e novas universidades recebem levas de estudantes ávidos por estudar engenharia, aeronáutica e biotecnologia. Num país onde os contatos e a corrupção ainda são meios comuns de enriquecimento, muitas pessoas estão começando a acreditar que podem subir na vida estudando e trabalhando com afinco.
O novo emprego de Zamora, por exemplo, começou com os pais dando prioridade à educação, economizando para lhe dar um computador e aulas de alemão. O estado de Guanajuato aumentou os investimentos ao construir um centro politécnico acessível e um grande porto interior para atrair empresas internacionais. Agora Zamora tem um emprego cujo salário ajuda a irmã a estudar biologia marinha.
Este é um México muito diferente da concepção popular norte-americana: não é nem o desgastante trabalho de montagem de baixa capacitação das "maquiladoras", as fábricas multinacionais nas proximidades da fronteira, nem a feiura dos cartéis de drogas. Porém, a pergunta que muitos estão fazendo é se o México consegue atender a demanda crescente por mão de obra qualificada e vencer preocupações ligadas ao crime e à corrupção para levar seus 112 milhões de habitantes ao clube de nações desenvolvidas.
A indústria automotiva tem sido o ponto de destaque do México. Pelo menos cem mil empregos foram criados no país desde 2010, segundo relatório recente da Brookings Institution, e General Motors, Ford, Chrysler, Honda, Mazda, Nissan, Audi e Volkswagen anunciaram planos de expansão, com quase US$ 10 bilhões sendo investidos nos próximos anos.
Muitos operários ganham perto de US$ 3,65 por hora, mas 30 por cento dos empregados das muitas fábricas automobilísticas daqui são profissionais de salários mais altos.
Aproximadamente 40 por cento de todos os empregos do setor automotivo da América do Norte estão no México, contra 27 por cento em 2000. Segundo especialistas, o crescimento está acelerando onde as autoridades aumentaram os incentivos.
O porto interior de 1.050 hectares, por exemplo, se tornou uma atração porque, além da escola politécnica que oferece diplomas técnicos, o estado construiu instalações alfandegárias, estação ferroviária e uma ligação ao aeroporto local. Guanajuato ajuda a encontrar candidatos para as empresas e paga a estas um bônus por enviarem trabalhadores para estudar no exterior.
Mauricio Martínez, 29 anos, engenheiro da fabricante italiana de pneus Pirelli, disse que ele e a esposa, Mariana, ainda viam a viagem a Praga depois do seu treinamento na Romênia como um conto de fadas.
"Sou de uma cidade pequena", ele disse. "E lá estava eu; uma empresa italiana de Milão contratou um mexicano de uma cidadezinha."
Martínez contou ganhar US$ 2.250 mensais, muito mais do que no antigo emprego na empresa de reboque e quase o dobro da renda média familiar nacional. É mais do que o suficiente para uma vida de classe média por aqui.
Contudo, muitos empregadores estrangeiros dizem que não é fácil encontrar trabalhadores qualificados. Somente 36 por cento dos mexicanos entre 25 e 64 anos têm diploma do ensino médio, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Apesar do rápido crescimento do investimento externo, o país continua batalhando. O índice de pobreza caiu somente 0,6 por cento para 53,3 milhões de pessoas praticamente 45 por cento da população entre 2010 e 2012. O crime e um sistema judiciário fraco debilitam a economia.
Em Guanajuato, no entanto, o sucesso individual está criando uma sensação de possibilidade. Na politécnica, estudantes como Javier Eduardo Luna Zapata, 24 anos, sonham com mais do que trabalhar numa fábrica de automóveis.
Ele e colegas ganharam um prêmio de design neste ano por um aparelho que procura entulho nas pistas dos aeroportos. "Nós queremos abrir uma empresa. Vamos procurar investidores quando nos formarmos."