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Karl Ove Knausgaard alçou o sucesso com estilo autobiográfico de escrita | Michael Nagle para the New York Times
Karl Ove Knausgaard alçou o sucesso com estilo autobiográfico de escrita| Foto: Michael Nagle para the New York Times

Karl Ove Knausgaard, belo e esguio escritor norueguês, deixou grande parte da classe literária em estado de adoração desde que seu romance autobiográfico, "My Struggle", de 3.600 páginas e dividido em seis volumes, começou a ser lançado em inglês, em 2012.

Em tom direto e descuidado, os livros combinam um microfoco nos detalhes granulares da vida cotidiana (creches, mercado, brigas entre amigos) com meditações profundas sobre arte, morte, música e ambição.

O romancista Jeffrey Eugenides, chamando esses dois elementos de "auto-ficção" e "ruminação", declarou que misturá-los como faz Knausgaard é algo que "ninguém jamais fez".

Muitos de seus colegas reagem com espanto similar. "Eu os leio compulsivamente; não consigo parar", disse Jonathan Lethem. "Às vezes aparece um escritor que simplesmente faz você esperar ansiosamente pelo próximo livro".

"Boyhood" é o próximo volume da saga de Knausgaard sobre sua vida como filho, pai e escritor açoitado pela vergonha. Muitos podem não ter ouvido falar dele ou ter adiado a leitura dos livros, assustados por seu tamanho proustiano e pela incerteza do que esse título ameaçador pode lhes reservar ("My Struggle", ou "Min Kamp" em norueguês, é "Mein Kampf" em alemão – título do notório manifesto de Adolf Hitler).

Eugenides, autor de "Middlesex" e "As Virgens Suicidas" e ganhador do Prêmio Pulitzer, disse compreender por que alguns leitores abordam "My Struggle" com temor. Ele mesmo o fez. "Achei que seria algum tipo de rígido romance escandinavo", explicou ele. "Mas estava com a impressão errada".

"My Struggle" revela um homem de boas intenções e inseguro na casa dos 40 anos, tentando entender as feridas emocionais de sua infância, para construir uma vida pessoal significativa e suprir suas ambições criativas. O romance traz cada aspecto dessa busca, incluindo longas digressões que descrevem passeios ao posto de gasolina, um salão de cabeleireiro ou uma tediosa festa de crianças.

Lorin Stein, editor de "The Paris Review", defendeu essas digressões. "Ele está interessado em imaginar seu caminho até a mente da criança ou do homem que foi", disse Stein, "mesmo que seja o homem que ele foi um dia antes".

Um tema surge em cada volume. O Livro 1, "A Death in the Family", aborda o período após a morte do pai alcoólatra de Knausgaard. O Livro 2, "A Man in Love", analisa o casamento de Knausgaard com sua segunda esposa, Linda, sua paternidade e sua determinação em escrever. No Livro 3, "Boyhood", ele retorna à sua infância e a recapitula de maneira bastante direta, preenchendo as interrogações que pontuam o Livro 1. Os Livros 4, 5 e 6 devem aparecer em inglês nos próximos dois anos.

Por que "My Struggle" animou tanto o mundo literário? Os árbitros mais criteriosos são atipicamente exuberantes em suas explicações. Segundo Stein, a invenção de Knausgaard de um "narrador que é uma pessoa real e está encarregada da história solucionou um grande problema do romance contemporâneo".

Lethem (autor de "Motherless Brooklyn" e "The Fortress of Solitude") classificou-o como "um brilhante retrato do presente", acrescentando: "Você está na presença de uma voz que é autoritariamente consciente e afirma sua total capacidade de dizer o que está em sua mente. E isso é fascinante".

O coro de aclamação literária não é unânime. O escritor William Deresiewicz atacou "My Struggle" em "The Nation", chamando a prosa de "um registro plano de detalhes superficiais, sem a inspiração da arte literária".

Jonathan Callahan (autor de "The Consummation of Dirk") disse ter percebido uma urgência no trabalho de Knausgaard. Sheila Heti, autora de "How Should a Person Be?: A Novel From Life", sugeriu outras causas para o interesse compulsivo: "Há tanta coisa que se pode ver ali. É como uma mancha de Rorschach. O que você vê é um reflexo de si mesmo".

Os noruegueses – mesmo os não-escritores – evidentemente concordam. Meio milhão de cópias foram vendidas naquele país, que possui uma população de apenas cinco milhões. Logo que o primeiro volume apareceu na Noruega, em 2009, "My Struggle" tornou-se tão popular, lembrou Geoff Mulligan, publisher britânico de Knausgaard, que alguns escritórios de Oslo instituíram "dias sem Knausgaard", quando "era proibido conversar sobre os livros dele nos espaços de descanso".

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