A primeira classe de um avião da Emirates; empresa prosperou abrindo rotas para países emergentes e assusta concorrentes| Foto: Ali Haider/European Pressphoto Agency

Há poucas dúvidas sobre as ambições das gigantescas companhias aéreas do Oriente Médio, mas recentes encomendas de grandes aviões demonstram a agressividade com que essas empresas planejam competir nos próximos anos.

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As três companhias aéreas —Emirates, Etihad Airlines e Qatar Airways—, todas com sede no mesmo canto do golfo Pérsico, já operam mais aviões de fuselagem larga do que todas as companhias aéreas dos EUA somadas. Na feira Dubai Air Show, em novembro, elas anunciaram a intenção de comprar mais 350 aeronaves de longo alcance, da Boeing e da Airbus, com encomendas num valor recorde de US$ 162 bilhões e entrega ao longo da próxima década.

Só a Emirates encomendou 150 unidades do novo Boeing 777X, com a opção para outros 50, além de mais 50 Airbus A380, o maior jato comercial do mundo. O negócio, apontado como "a maior encomenda de aeronaves já feita na aviação civil", vale US$ 99 bilhões pelo preço de tabela.

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O tamanho dessas encomendas surpreendeu observadores do setor. Elas dão uma noção da escala que as companhias aéreas estão buscando. A American Airlines, para efeito de comparação, encomendou 600 aviões para a próxima década a fim de substituir sua frota envelhecida, mas a maior parte é de aviões com um só corredor entre os assentos, usados no mercado doméstico.

A Emirates, fundada em 1985 com apenas um jato, tem sido o principal motor desse crescimento, fazendo de Dubai um dos principais polos mundiais do transporte aéreo. A companhia, que transportou 39 milhões de passageiros no ano passado, pretende chegar a 70 milhões por ano em 2020, segundo seu executivo-chefe, Tim Clark. Isso faria da Emirates a maior companhia aérea em termos de passageiros internacionais, segundo ele.

A estratégia dessas companhias é simples, segundo Richard Aboulafia, analista de aviação do Teal Group, na Virgínia. "Elas querem dominar o mundo", afirmou.

A Emirates opera cerca de 3.200 voos por semana para 135 cidades em 76 países. Ela prosperou ao abrir rotas para países em desenvolvimento, durante muito tempo negligenciados pelas empresas aéreas mais tradicionais, e por representar uma alternativa em relação às companhias locais —ligando assim a Europa à Índia, a África à Rússia e a China ao Oriente Médio. Em vez de voar por "hubs" tradicionais, como Londres ou Frankfurt, essas novas rotas passam por Dubai, que a companhia transformou em um centro global de conexões aéreas graças ao apoio da família que governa a cidade.

O sucesso do modelo de Dubai acendeu a inveja dos países vizinhos, que buscaram copiar o fenômeno com suas próprias empresas aéreas de abrangência global. Na feira aérea, a Qatar Airways, companhia de bandeira desse emirado, disse que irá comprar 50 Boeings 777X —novo avião que deve ser lançado até 2020. A Etihad, a menor dessas três empresas, com sede no vizinho Abu Dhabi, encomendou 143 aviões na feira aérea, incluindo 30 Boeings 787 e 50 Airbus A350.

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As ambições do trio propagam ondas de preocupação entre os concorrentes, especialmente nos EUA, onde a Associação de Pilotos de Linhas Aéreas, maior sindicato do setor, qualificou as companhias árabes como uma "ameaça econômica". As empresas americanas não estão dispostas a dar chance para o azar depois de verem como a Emirates perturbou companhias tradicionais, como Air France, Lufthansa e Air India.

Alguns analistas não acreditam que as companhias do golfo — particularmente a Emirates— possam sustentar seu atual ritmo de crescimento. O consultor de aviação Mike Boyd se disse surpreso com a encomenda dos A380 pela Airbus. "O A380 é uma máquina maravilhosa, mas não há muitos aeroportos onde ele possa pousar e não há muitas rotas que possam receber tantos assentos."