| Foto: Harry Campbell/

Os indícios de que um copiloto derrubou propositalmente um avião da empresa Germanwings numa montanha da França, no mês passado, abriram um debate global sobre a melhor forma de identificar doenças mentais em tripulantes e garantir que ninguém poderá ficar sozinho na cabine de controle dos aviões comerciais.

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Mas, para muitos especialistas em aviação, a discussão tomou outro rumo. Quantos pilotos humanos, perguntam-se alguns, são realmente necessários a bordo de aviões comerciais?

Um? Nenhum?

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Os avanços na tecnologia de sensores, na informática e na inteligência artificial fazem com que pilotos humanos se tornem menos necessários na cabine. Agências governamentais estão testando a substituição do copiloto, ou talvez até mesmo de ambos os pilotos, em aviões de carga, que passariam a ser operados por robôs ou por controle remoto.

“O setor está começando a vir a público para dizer que está disposto a colocar nisso a sua verba de pesquisa e desenvolvimento”, disse Parimal Kopardekar, gerente do projeto de operação segura de sistemas autônomos no Centro de Pesquisas Ames, da NASA (agência espacial dos EUA).

Os aviões modernos geralmente são guiados por um piloto automático computadorizado, que rastreia sua posição via GPS, corrigindo-a conforme necessário. Softwares especiais também são usados para auxiliar no pouso de aviões comerciais.

Em uma recente pesquisa, pilotos de Boeings-777 disseram que, num voo típico, gastam apenas sete minutos pilotando manualmente. Entre pilotos de aviões Airbus, esse tempo cai pela metade.

E os aviões comerciais estão cada vez mais inteligentes. “Um Airbus de carreira sabe o suficiente para não voar na direção de uma montanha”, disse David Mindell, professor de aeronáutica e astronáutica no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “Ele tem um sistema de alerta que avisa o piloto. Mas não assume o comando.”

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Não assume, mas poderia assumir, se fosse permitido. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos implantou um software de pilotagem automática nos seus caças de combate F-16. Esse sistema já teria salvado um avião e um piloto durante uma missão de combate contra as forças do Estado Islâmico no Oriente Médio, em novembro.

A Agência de Projetos Avançados de Pesquisa em Defesa (Darpa, na sigla em inglês, o órgão de pesquisas do Departamento de Defesa dos EUA) está planejando o próximo passo na automação aérea, ao lançar o chamado Sistema de Automação em Cabine do Trabalho da Tripulação Aérea. Neste ano, a agência iniciará os voos-teste de um robô que pode ser rapidamente instalado no assento direito de aviões militares para funcionar como copiloto. O robô portátil de bordo será capaz de falar, ouvir, manipular os controles de voo e ler instrumentos.

A máquina terá muitas das habilidades de um piloto humano, incluindo a capacidade de pousar e decolar. Ajudará o piloto e poderá assumir o controle do voo em caso de emergência. A agência planeja que esse robô seja “visualmente consciente” e consiga manipular equipamentos fabricados para mãos humanas. O ideal é que os robôs contem com tecnologias de reconhecimento de voz e síntese de voz para se comunicar com os pilotos e controladores de voo.

“Isso tem a ver realmente com a maneira como podemos promover um novo tipo de automação estruturada em torno da ampliação do fator humano”, disse Daniel Patt, gerente de programa do Departamento de Tecnologia Tátil, da Darpa.

A Nasa também explora a hipótese de transferir o copiloto para fora da cabine em voos comerciais e de usar um único operador remoto para atuar como copiloto em vários aviões simultaneamente.

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O caso da Germanwings “elevou a questão sobre se deve ou não haver formas de controlar externamente uma aeronave comercial”, disse Mary Cummings, diretora do Laboratório de Humanos e Autonomia da Universidade Duke, na Carolina do Norte, e também pesquisadora no projeto da Darpa. “Poderíamos ter um avião com um só piloto e a capacidade de controlar remotamente a aeronave a partir da terra, de forma mais segura que os sistemas atuais? A resposta é sim.”

A Nasa também tem realizado simulações de um novo software destinado a tornar mais automatizado o controle de tráfego aéreo.

Mas será que algum dia os passageiros porão os pés em aviões pilotados por robôs ou por seres humanos a milhares de quilômetros da cabine?

Até mesmo em um recente simpósio da NASA os especialistas se mostravam preocupados com isso. Como disse Amy Pritchett, professora-associada do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta: “Se você colocar mais tecnologia na cabine, terá mais tecnologia para falhar”.