Misty Copeland e James Whiteside em “O Lago dos Cisnes”, no American Ballet Theater; abaixo, fãs esperam na porta do teatro| Foto: Julieta Cervantes para o The New York Times

Misty Copeland estava se tornando a mais famosa bailarina dos EUA —tinha sido capa da revista “Time”, ganhado um perfil no programa jornalístico “60 Minutes”, virado sensação nas redes sociais e executado os principais papéis do balé clássico em alguns dos seus palcos mais grandiosos.

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No entanto, algo havia lhe escapado: ela ainda não tinha se tornado a primeira-bailarina de sua companhia.

Isso mudou em 30 de junho, quando Copeland, 32, tornou-se a primeira afro-americana a ocupar essa posição nos 75 anos de história do American Ballet Theater.

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Apesar de a promoção ter sido comemorada por seus fãs, ela gerou questionamentos sobre a persistente sub-representação dos bailarinos afro-americanos, especialmente mulheres, nas principais companhias de dança no século 21.

O fato também mostrou como a mídia e as comunicações mudaram a dança, já que Copeland usa habilmente as ferramentas mais modernas —um comercial que ela fez para a marca de roupas esportivas Under Armour foi visto mais de 8 milhões de vezes na internet— para levar sua fama para muito além dos tradicionais círculos do balé.

Numa entrevista coletiva para o anúncio da sua nova função, Copeland contou que fez suas primeiras aulas de dança numa escola da organização juvenil Boys and Girls Club, mas que inicialmente hesitou ao perceber que havia poucas afro-americanas de destaque nas principais companhias.

 

Não sou eu que estou aqui... São todas as pessoas que vieram antes de mim

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“Houve momentos em que duvidei de mim e quis parar, porque não sabia que haveria uma futura afro-americana que chegaria a esse nível”, disse. “Ao mesmo tempo, isso me deixou ávida por crescer, por representar a próxima geração. Por isso, não sou eu que estou aqui em cima —e estou constantemente dizendo isso—, são todas as pessoas que vieram antes de mim e que me fizeram chegar a esta posição.”

Ao longo do último ano, quando Copeland dançou papéis de protagonista com o Ballet Theater, suas apresentações se transformaram em eventos, atraindo aplausos de multidões diversificadas e entusiasmadas. Ela então protagonizou “O Lago dos Cisnes” com o Ballet Theater, tornando-se a primeira afro-americana a ocupar esse papel na companhia ligada ao Metropolitan Opera House. A fila de gente pedindo autógrafos era tão grande que precisou ser organizada em outro lugar, longe do acesso ao palco.

Rompendo a tradição do balé, Copeland foi excepcionalmente franca sobre sua ambição de se tornar a primeira negra a dirigir o Ballet Theater. Ela escreveu sobre seus objetivos e lutas numa autobiografia lançada em 2014.

A escassez de negras nas grandes companhias de dança é atribuída a diversos fatores, desde o legado de discriminação e a persistência de estereótipos sobre o aspecto ideal de uma bailarina até a falta de exposição ao balé e a oportunidades de formação em muitas comunidades negras.

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Primeiros-bailarinos conquistam não só o respeito do mundo da dança como também ganham salários e papéis maiores, além de figurarem nas fotos dos programas, com seus nomes em letras maiores. Copeland já parecia prestes a ser promovida em 2012, após uma atuação marcante no papel-título do balé “O Pássaro de Fogo”, de Igor Stravinsky, mas foi preterida por causa de uma lesão.

Em “O Lago dos Cisnes”, os aplausos a Copeland interromperam a apresentação em diversas ocasiões. Celulares foram sacados para gravar sua aclamação final

Em seguida, meninas apareceram com exemplares do livro ilustrado dela, chamado justamente “Firebird” (“pássaro de fogo”), para serem autografados, e adultos com sua autobiografia. A multidão aplaudiu quando ela saiu do teatro.

Antes de dar autógrafos e posar para fotos, Copeland se dirigiu à multidão com a voz calma, mas embargada. “Muitíssimo obrigada por seu apoio —é muito importante para mim ter vocês todos aqui”, disse.

“É um dia muito especial para mim e para muitas das pessoas que vieram antes de mim.”

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