O aquecimento diplomático entre EUA e Cuba foi acompanhado por um inesperado surto de bandeiras tremulantes —só que das americanas.
As estrelas e listras vermelhas têm sido vistas em prédios e táxis bicicleta. Elas se espalham por camisetas e lenços. Até aromatizantes para carros levam sua imagem.
“Estou vendo coisas em Cuba que nunca pensei que veria”, disse um homem de meia idade, vendo as calças de uma jovem.
A mulher, temendo falar sobre o símbolo de um país que discorda de Cuba em muitos assuntos, disse que as calças foram um presente. “É apenas moda. Não é uma declaração política.”
É claro que existe um lugar onde a bandeira americana ainda não é vista: na frente do posto diplomático dos Estados Unidos, que costumava ser a embaixada até que as relações se romperam em 1961.
Depois de anunciar em dezembro que pretendiam avançar para o restabelecimento de laços diplomáticos, Washington e Havana ainda discutem a reabertura das embaixadas.
As roupas estampadas com bandeiras, porém, causaram consternação em alguns membros do governo. Um artigo no site oficial Cubadebate.com chamou a moda de uma forma de imperialismo cultural.
“Fico triste ao ver uma cubana enrolada numa bandeira americana”, disse um comentarista do site. “Minha mentalidade não aceita isso.”
Os moradores dizem que muitas roupas com bandeiras são importadas secretamente da Flórida ou do Panamá e que os trajes não são permitidos em lojas, mesmo com o incentivo do governo ao empreendedorismo.
Então parece que muita gente tem amigos e parentes no exterior: um mecânico de carros com uma camiseta “I Love USA”; um carro com um adesivo de bandeira americana na periferia de Havana; um menino com short estampado com a bandeira caminhando em uma rua; uma jovem em uma quitanda enfeitada do pescoço aos pés com a bandeira dos EUA.
Alguns dissidentes disseram considerar o traje um grito por mudanças, mas os cubanos há muito tempo são amistosos com os americanos e acompanham a cultura e os esportes dos EUA.
Os preços variam, mas alguns artigos com bandeira custam mais de US$ 15 (R$ 45), o que é caro em um país onde o salário médio é de US$ 20 (R$ 60).
“Muitos cubanos estão entusiasmados com os potenciais benefícios econômicos e sociais que as relações cubano-americanas renovadas poderão trazer”, disse Marc D. Perry, antropólogo da Universidade Tulane em Nova Orleans. “Esse é o clima atual em Cuba, e se reflete nessas expressões culturais.”
A visão da bandeira listrada provavelmente seria menos extensa se Fidel Castro, 88, estivesse no poder. Desde a revolução em 1959 até uma carta recente lamentando as sanções contra a Venezuela, ele teve um relacionamento muito mais antagônico com os EUA.
As únicas bandeiras agitadas que os EUA inspiraram foram massas de bandeiras cubanas em protestos contra “o império”, mas essas manifestações perderam força desde 2006, quando Raúl Castro assumiu o governo.
Hoje, a popularidade das bandeiras parece ser um gesto em direção ao que muitos cubanos consideram um aquecimento de relações e até um abraço.
“É o que nossos países são hoje”, disse Elisabet, lojista que usava calças com a bandeira americana. “Amigos.”