Nesse canto dos Estados Unidos conhecido por suas vastas paisagens, montanhas irregulares e desfiladeiros de rios profundos, os sinais da devastação causada pelo minúsculo besouro da tamargueira estão em todos os lugares. Em trechos ao longo do Rio Colorado, centenas de tamargueiras também conhecidas como tamarizes estão cinzentas e murchas. Seus galhos secos parecem vítimas de incêndio ou de secas.
Mas esse não é um caso de árvores queridas sendo destruídas por uma praga invasiva. Agricultores, pecuaristas e autoridades hídricas estão ansiosos para se livrar das tamargueiras, que não são naturais do Arizona e que, segundo eles, consomem água demais.
Eles recepcionaram os besouros, que se espalharam pelo Colorado e Utah na última década, e observam os insetos de um centímetro destruindo as árvores, comendo suas folhas espigadas. A esperança é que os besouros agora acabem com essas árvores no Arizona. "A tamargueira é vista como uma praga", declarou Joseph Sigg, funcionário do Gabinete de Agricultura do Arizona.
Porém, os cientistas dizem que a natureza não é tão simples assim, e que retirar as tamargueiras de raízes profundas o que as autoridades têm tentado com escavadeiras, motosserras e agora com os besouros não produzirá mais água. Novas tamargueiras ou outras árvores substituirão as que caíram, afirmam os cientistas, e os pássaros que precisam delas, como os papa-moscas do salgueiro do sul, serão prejudicados.
E mais, assim que os besouros acabarem com a tamargueira, é provável que se alimentem de outras árvores.
As secas destruidoras e o rápido crescimento da população dessas árvores nos últimos anos estressaram o vulnerável abastecimento de água do estado e aumentaram a corrida para encontrar novas soluções, indo da dessalinização e bombardeamento de nuvens, ao manejo da vegetação, incluindo a eliminação da tamargueira.
A espécie, originária da Ásia, foi importada há mais de um século para prevenir a erosão. Com uma rede densa e ampla de raízes e uma capacidade de prosperar em terreno árido, ela desempenhou bem essa tarefa.
No entanto, quando os rios foram represados, as margens recuaram, matando as árvores nativas e expulsando os insetos, pássaros e outros tipos de vida selvagem que dependiam delas. No lugar das árvores nativas, as tamargueiras assumiram.
Os defensores da eliminação das tamargueiras alegam que uma árvore adulta pode consumir mais de 750 litros de água por dia. Porém, existe pouca prova de que seu fim aumentará a quantidade de água. E caso árvores com mais sede a substituam, poderia haver ainda menos água. Embora o besouro pareça ser eficiente em desfolhar as tamargueiras, ele tem sua própria programação, razão pela qual muitas delas ainda sejam eliminadas manualmente. Para economizar dinheiro e evitar o abate constante, o Departamento da Agricultura dos Estados Unidos estudou um modo de introduzir o besouro da tamargueira, o predador natural da árvore. Há cerca de uma década, os primeiros besouros foram soltos no Colorado, e apesar das previsões de que eles se moveriam lentamente, acabaram chegando ao norte do Arizona antes da expectativa. É provável que os besouros atinjam as áreas ao sul do Arizona em cerca de dois anos, declarou Stacy Beaugh, da Coalisão Tamargueiras, que restaura as margens dos rios. "Não será logo, mas acabará sendo antes do esperado", ela disse.
Nesse trecho do Rio Colorado perto do Parque Nacional do Grand Canyon, o trabalho do besouro é evidente. Porém, as raízes das árvores são tão grossas que pode levar várias estações para que morram, disse Gibney Siemion, ecologista do Conselho das Terras Selvagens do Grand Canyon, que gastou 24 mil dólares com a eliminação das árvores.
Kelly Burke, integrante do Conselho, disse que 15 pessoas passaram 10 dias cortando tamargueiras na margem de 14 quilômetros da Represa Glen Canyon. Eles aplicaram o herbicida Garlon nos troncos, e as árvores caídas foram queimadas. Não obstante, cinco anos depois, mudas de tamargueiras brotaram próximo dos troncos queimados, um lembrete do quão difícil é eliminar uma árvore. "Dificilmente chegaremos à última árvore", Siemion disse. "Fazemos o possível, mas a tamargueira é muito adaptável".