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O governo búlgaro está construíndo uma nova barreira para reduzir o fluxo de refugiados que chegam ao país | Fotos: Andrew Testa /The New York Times
O governo búlgaro está construíndo uma nova barreira para reduzir o fluxo de refugiados que chegam ao país| Foto: Fotos: Andrew Testa /The New York Times

Menos de duas décadas após a trabalhosa remoção da barreira que impedia a população de sair do país, as autoridades da Bulgária estão construindo, em um processo igualmente trabalhoso, uma nova cerca ao longo da fronteira com a Turquia, para impedir a entrada de imigrantes.

Confrontada com o aumento do fluxo de refugiados do Oriente Médio e do norte da África —e com o risco de que entre eles haja jihadistas dispostos a lançar ataques terroristas—, a Europa reforça suas barreiras em muitas frentes. Uma delas, é essa nação ex-comunista que, pouco mais de um quarto de século atrás, estava mais preocupada em frear o êxodo de seus cidadãos que partiam em busca de liberdade.

Nos últimos 16 meses, a Bulgária acionou um plano defensivo que inclui a adoção de mais funcionários de fronteira, novos equipamentos de vigilância e a construção de uma cerca na divisa, cuja primeira seção, com 32 km de extensão, foi concluída em setembro.

O endurecimento da fronteira entre Bulgária e Turquia é um símbolo da agitação de todo o continente diante das ramificações econômicas, sociais e políticas do aumento da imigração.

Os países do sul da Europa estão aumentando seus funcionários de fronteiras, acrescentando barreiras técnicas, ampliando as instalações para refugiados e erguendo barreiras.

Sabe-se que mais de 200 mil refugiados atravessaram as fronteiras da Europa em 2014. O número de migrantes que chegaram ao continente nos dois primeiros meses deste ano subiu muito em relação ao mesmo período do ano passado.

O sentimento de repúdio à imigração é crescente no Reino Unido, na França, na Hungria, na República Tcheca e em outros países do continente. Os partidos políticos que defendem o nacionalismo étnico estão se fortalecendo. “A ascensão da direita na Europa é uma reação ao fluxo de refugiados”, disse Boris B. Cheshirkov, principal porta-voz na Bulgária do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados.

Centro de Harmanli

Como boa parte da Europa ainda está se recuperando da crise financeira de 2008, o aumento dos custos do atendimento aos refugiados —especialmente em países como a Bulgária, o membro mais pobre da União Europeia— está pressionando os Orçamentos nacionais.

Ao mesmo tempo, episódios como o ataque de janeiro à sede do semanário satírico “Charlie Hebdo”, em Paris, intensificam o temor de que tanto jihadistas formados na própria Europa quanto combatentes estrangeiros possam chegar no meio da enxurrada de refugiados. “Eu já vi pessoalmente combatentes desses aqui”, disse Slavcho Velkov, especialista búlgaro em segurança. “Quando lhes perguntei para onde iam, disseram: ‘Vamos ao paraíso’.”

Até certo ponto, ações como a nova cerca que está sendo construída pela Bulgária apenas bloqueiam uma rota de entrada para a Europa, levando traficantes de pessoas a procurar outra.

“Em 2012, a segurança foi intensificada na fronteira da Grécia com a Turquia. As medidas incluíram a construção de uma cerca”, disse Gil Arias Fernández, da Frontex, que coordena a proteção de fronteiras em toda a União Europeia. O resultado, ele acrescentou, foi que o fluxo de refugiados se voltou para a fronteira búlgara.

A Bulgária reagiu em 2013, adotando seu próprio “plano de contenção”, que inclui a construção contínua da barreira, prevista para chegar a 160 quilômetros de extensão.

O impacto foi grande. O número de travessias ilegais sabidas caiu de 11 mil em 2013 para cerca de 4.000 no ano passado.

Segundo Fernández, os milhares que deixaram de ingressar na Bulgária foram contrabalançados por um número ainda maior de refugiados que deixaram a Turquia pelo mar e entraram na Europa por meio de ilhas gregas vizinhas da Turquia.

Mais de 170 mil refugiados (em sua maioria do Oriente Médio, da África e do Afeganistão) entraram na Europa em 2014 pela rota marítima rumo ao sul da Itália.

Nos primeiros dois meses deste ano, o número de migrantes foi 42% superior ao do mesmo período do ano passado.

Aqui no leste do Mediterrâneo, onde a Frontex mede as travessias de migrantes para a Bulgária e a Grécia por terra e por mar, o número de pessoas que chegaram neste ano foi 107% superior ao do ano passado. Os migrantes que entraram na Bulgária e na Grécia foram contabilizados em 5.275, chegando perto dos 7.834 que usaram a rota marítima para a Itália.

“Estamos prevendo um grande aumento para abril e maio”, disse Jordan Malidov, diretor de um centro de refugiados na Bulgária na cidade de Harmanli, 35 quilômetros ao norte da fronteira turca.

A chegada da primavera anima as pessoas que tentam a arriscada travessia do Mediterrâneo ou que tentam atravessar fronteiras remotas caminhando.

No final dos anos 1990, quando Nikolay Radulov era vice-ministro do Interior, uma de suas incumbências era comandar a demolição da barreira antiga, uma relíquia da Guerra Fria que era a extremidade sul da Cortina de Ferro.

A barreira era formada por duas cercas, separadas por um campo minado, e seu intuito era impedir que os habitantes de países comunistas tentassem fugir para o Ocidente.

Radulov contou que ela foi desmontada parte por parte, “e removemos as minas muito cuidadosamente, uma por uma”.

Hoje professor na Nova Universidade Búlgara, ele assiste com incredulidade à construção da nova barreira. “A teoria vigente na época rezava que era antidemocrático erguer esse tipo de barreira na fronteira”, disse.

A nova barreira, do lado búlgaro, é feita de tela de arame em uma estrutura de aço. Do lado turco, é uma cascata ameaçadora de fita farpada em concertina.

Usando dinheiro da União Europeia e de outras fontes, o governo búlgaro diz que neste mês vai começar a estender a barreira até ela cobrir toda a fronteira terrestre com a Turquia que não é bloqueada pelo rio Rezovo.

As autoridades esperam mostrar que o país merece ser admitido no grupo Schengen de nações, cujos cidadãos não precisam de passaportes ou vistos para viajar entre um e outro país do grupo.

A Bulgária foi admitida na União Europeia em 2007, mas não no grupo Schengen, em parte por problemas com suas fronteiras.

Enquanto isso, os refugiados vão continuar a encontrar maneiras de atravessar a fronteira em pontos mais remotos e perigosos.

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