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Yannis Stamatiou é um dos muitos empresários que dizem que os problemas econômicos da Grécia não se devem unicamente à austeridade. Basta lhe perguntar sobre a burocracia, com seu labirinto de regras, que o novo governo prometeu combater.

Stamatiou recorda, revoltado, a visita que fez no ano passado a uma repartição da Receita grega em Atenas. A grande fábrica de plásticos que sua empresa comanda há 40 anos, que emprega 150 pessoas e é uma das poucas a sobreviver à grave crise econômica do país, estava prestes a receber um raro empréstimo bancário. Mas, devido à multidão de mudanças efetuadas nos últimos anos nas normas tributárias gregas, o funcionário da Receita não conseguiu encontrar um documento crítico que o banco exigia.

“Chegamos muito perto de fechar a empresa porque o governo não conseguia me dar aquela folha de papel”, disse Stamatiou, da Stamatiou Plastics. “A Grécia nunca vai avançar a não ser que este novo governo combata a disfunção, a burocracia e a incerteza que não estamos resolvendo desde a crise.”

Não há dúvida de que a Grécia está tendo dificuldade para se recuperar das medidas de austeridade impostas por seus credores internacionais como condições para a concessão de empréstimos no total de US$ 274 bilhões.

Mas os problemas estruturais que inibem a eficiência econômica são igualmente nocivos. As empresas se veem paralisadas por normas trabalhistas e políticas fiscais que no governo anterior frequentemente mudavam de semana em semana: 2.200 novos regulamentos fiscais foram promulgados apenas nos últimos dois anos.

Firmas como a de Stamatiou, além de investidores e start-ups, enfrentam altos custos administrativos e ineficiência burocrática que, segundo associações comerciais gregas, comprometem empregos e sugam cerca de € 14 bilhões por ano da economia. A corrupção ainda é disseminada, e há quem combata a abertura de setores da economia à livre concorrência.

“Acabar com a austeridade é ótimo”, comentou Constantine Mihalos, presidente da Câmara de Comércio de Atenas. “Mas essa só será a solução se houver reformas estruturais nos setores público e privado, gerando condições para o crescimento.”

Stamatiou, que comanda a empresa de plásticos com seu filho Filippos, 26, é favorável ao esforço para pôr fim à austeridade. Quando a crise os atingiu, eles não reduziram os salários de seus funcionários, buscando outras maneiras de cortar custos. “Quando você reduz o salário dos funcionários durante anos, eles não têm mais ambições de inovar”, explicou Filippos Stamatiou. “Não é produtivo para eles nem para a economia.”

Economistas dizem que os planos do premiê Alexis Tsipras para fomentar o consumo, reduzindo a austeridade, podem ajudar. Mas empresários consideram que o crescimento começaria em muito menos tempo se o governo se concentrasse em fomentar a capacidade produtiva do país, em parte com a adoção imediata de mudanças básicas, como a redução da burocracia e o incentivo à competição.

Esses problemas não se limitam à velha economia, como bem sabe Tina Kyriakis, 30.

Em 2012, para aproveitar o único setor dinâmico da economia —o turismo—, ela criou um pequeno negócio, promovendo tours culturais de Atenas. “Eu sabia que o consumo interno ficaria morto por pelo menos dez anos, então decidi focar a receita que não tem relação com a economia local”, disse Kyriakis.

Mas o dinamismo do cenário das start-ups não conseguiu resistir à burocracia.

Como as normas de licenciamento do governo limitam a concorrência no setor dos guias de turismo, os cinco profissionais freelancers que trabalham para Kyriakis não podem conduzir tours da Acrópole.

Quando um deles consegue trabalhar, Kyriakis é obrigada a ir pessoalmente ao escritório da Previdência Social para registrar as horas trabalhadas.

Se o horário do profissional muda, ela tem que voltar para acrescentar essa informação. “Você passa horas e horas em repartições públicas”, disse a empresária.

Alex Tsipras prometeu ajudar as start-ups a se tornarem fontes de milhares de novas vagas de trabalho, mas Kyriakis não é otimista em relação a isso.

“Eles precisam entender que as mudanças só virão por meio de iniciativas privadas. Precisamos que o ambiente econômico e político mude de maneira que permita o florescimento da iniciativa privada.”

A mensagem que ela quer transmitir a Tsipras é: “Não crie obstáculos para nós, só isso”.

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