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Caçadores de Falcão viram defensores

No outono, milhões de falcões passam pela Índia, indo da Rússia para a África | Sreenivasan/Conservation India
No outono, milhões de falcões passam pela Índia, indo da Rússia para a África (Foto: Sreenivasan/Conservation India)

Os últimos 32 quilômetros da estrada que dá nessa aldeia são percorridos em pelo menos duas horas, então é difícil imaginar que essa área de selva, perto da fronteira com Mianmar, irá se tornar um destino popular para observadores de aves.

Mas aqueles que enfrentarem a estrada poderão testemunhar uma das migrações mais extraordinárias de uma espécie de ave de rapina.

Apenas dois anos atrás, os moradores abatiam centenas de milhares de pássaros — o Falco amurensis — e os vendiam em mercados locais aqui em Nagaland e em Assam, uma área que abrange partes de Bangladesh, da China e de Mianmar. Mas em outubro e novembro, milhões de falcões passaram pela Índia sem ser molestados, indo da Rússia para seu retiro de inverno no sul da África.

Essa mudança foi o resultado de uma campanha orquestrada por alguns ambientalistas, cujo vídeo mostrando a matança gerou repulsa no mundo inteiro e envergonhou o estado e as autoridades locais, fazendo-os entrar em ação. Os moradores daqui, surpreendentemente, transformaram-se em entusiasmados defensores dos pássaros que antes abatiam para alimento.

"Víamos as aves como uma bênção de Deus, como o maná do céu, e as caçávamos mais e mais", disse R. Obemomo Jami, gerente da aldeia Pangti, que como muitos Nagas, é fervorosamente cristão. "Então o mundo achou que as pessoas da aldeia Pangti cometiam um grande pecado. E a aldeia o proibiu."

Por causa da proibição, muitos habitantes têm passado por problemas. Duas escolas particulares que dependiam do dinheiro gerado pela caça ao falcão estão sofrendo agora que as famílias se esforçam para pagar as mensalidades, disseram funcionários e caçadores.

Então, a população espera atrair turistas. Alguns moradores reformaram suas casas e conservacionistas ajudaram a construir várias plataformas de observação de pássaros.

Até agora, porém, os turistas não descobriram essa belíssima paisagem.

"Mesmo assim, não voltaremos a caçar. Não fui caçar nenhuma vez", disse Zanthungo Shitiri, presidente do sindicato de pescadores locais, cujos membros eram os maiores caçadores.

Esses falcões são pequenas aves de rapina que se alimentam principalmente de insetos. Eles se reproduzem na primavera na Sibéria e na China Oriental e depois, auxiliados por fortes ventos de oeste, migram em hordas em outubro e início de novembro, passando pela Índia a caminho da África do Sul.

Um estudo recente mostrou que o Falco amurensis voa até 3.200 quilômetros sem parar, durante dois ou três dias, quando passa pelo Mar Arábico. Essa façanha pode ser possível graças à migração contrária de libélulas, que os pássaros comem. Eles também se alimentam de cupins, gafanhotos, formigas e besouros, além de rãs e pequenos pássaros.

Os falcões sempre passaram por Nagaland, mas uma barragem do Rio Doyang criou uma reserva em 1999 que parecia atrair milhões a mais para Pangti. Os Nagas atiravam indiscriminadamente nos pássaros, mas logo perceberam que redes de pesca nas árvores capturavam milhares de uma só vez. Caçadores disseram que em cinco semanas de trabalho conseguiam ganhar cerca de US$ 500, quase metade do rendimento anual médio na Índia. Eles matavam entre 100 mil e 400 mil aves anualmente.

Talvez o mais bem sucedido esforço para parar com a matança seja o programa educacional nas escolas.

"Fazemos caminhadas pela natureza com as crianças, e também falamos sobre os falcões na sala de aula", disse a professora Yibeni K. Tanthan.

Shitiri disse que a aceitação das aves pelas crianças é crucial. "Muitas delas optaram rapidamente pela preservação. Essa é a principal razão pela qual optamos pela preservação total."

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