Já passava da meia-noite. A matilha se dividiu em dois grupos, correndo para as extremidades opostas de um beco desolado no centro de Manhattan. Um homem que recolhia latas de lixo escapou pouco antes de os proprietários soltarem os cães.
A caçada aos ratos começou.
Os cachorros correram para uma pilha de sacos de lixo na viela. O menor deles vasculhava os sacos e expulsava os ratos em direção aos cães maiores.
Ernie, terrier de caça de três anos, agarrou um rato em sua mandíbula e o sacudiu com força. O roedor rapidamente ficou inerte. A dona de Ernie o elogiou pelo feito foi o primeiro rato de Ernie, depois de apenas algumas saídas para caçar pragas.
Essa foi mais uma saída ocasional de um grupo que leva seus cães de estimação para o centro de Manhattan para matar ratos.
A caçada é conduzida um pouco como uma caça à raposa no campo, mas em ambiente urbano. Os membros dizem que permitem que seus cães na maioria, raças conhecidas por caçar pequenos animais e insetos liberem seus instintos básicos, matando cerca de uma ou duas dúzias de ratos a cada vez que são soltos.
"Não fazemos uma grande diferença na população de roedores, mas os cachorros se divertem muito", disse Richard Reynolds, um dos organizadores do grupo. Ele se reúne há 15 anos, principalmente no centro de Manhattan, em áreas onde há muito lixo.
"Nós adoramos o lixo quando há comida por perto, há ratos", disse Reynolds, que é criador de cães no Estado vizinho de Nova Jersey.
Pouco antes da recente caçada no beco, o grupo se reuniu no City Hall Park, com os pequenos cachorros enérgicos puxando suas guias em direção aos arbustos e fazendo posições de localização de animais. Um morador local que caminhava com sua Jack Russell terrier de 12 anos, Chloe, parou para conversar e ficou incrédulo quando lhe contaram que o grupo usava seus cachorros para encontrar, capturar e matar ratos nas ruas.
"Vocês podem fazer isso?", perguntou o dono de Chloe, Andrew Luan, 42. "Quero dizer, vocês não vão ser multados, a prefeitura permite isso?"
Na verdade, parecia que os caçadores de ratos não estavam violando qualquer lei ou o código de saúde.
"A prefeitura nos adora", afirmou Reynolds, projetando seu grupo como uma força livre de extermínio.
A dona de Ernie, que disse ser uma veterinária de Manhattan em sua terceira caçada, pediu que seu nome não fosse publicado porque "não cairia bem com alguns de meus clientes".
"Depois que ele pegou o gosto por isso, não parou de procurar ratos", disse ela, acrescentando que a caçada "oferece estímulo mental" para os cães.
Caçar ratos apresenta riscos, já que eles são portadores de doenças como a leptospirose, doença bacteriana que costuma afetar animais.
Reynolds disse que seu cachorro sofreu algumas feridas de mordidas de ratos e outros acidentes, mas nada sério. Ainda assim, ele disse que carrega "um hospital portátil" em sua camionete, por via das dúvidas.
O grupo às vezes recebe dicas de pessoas sem teto ou de policiais, disse Reynolds.
Mas nem todo mundo apoia a caça aos ratos. Brian Shapiro, diretor da Sociedade Humana dos EUA no Estado de Nova York, disse que houve vários casos de cães que morderam ratos e ingeriram veneno consumido pelo roedor.
Reynolds afirmou que nenhum dano havia ocorrido com qualquer um dos cachorros e acrescentou que o veneno de rato causa uma morte lenta e dolorosa, comparada com a morte rápida na mandíbula de um cachorro.
Jimmy Hoffman, 37, técnico em veterinária que possui um Patterdale terrier chamado Mighty, disse que não é insensível à situação do rato. Na verdade, ele trata ratos de estimação em seu trabalho em Queens.
"Não tenho preconceitos, mas caçada é caçada", disse.