Helen Phillips parou de cobrir a cabeça com um lenço em 2011. Ela o usava até então não por motivos religiosos, mas porque era calva havia 18 anos.
Phillips pode não parecer uma americana típica, mas não é a única a ser calva.
As pessoas frequentemente a confundem com outras nova-iorquinas que, como ela, sofrem de alopecia universal, condição que provoca a perda de cabelos e pelos.
“Já fui abordada por desconhecidos que me cumprimentam, me perguntam sobre meu cachorro e me lembram que nos conhecemos numa festa ou que eu estava na aula de ioga deles no dia anterior”, escreveu no “The New York Times”. Assim, quando conheceu suas “sósias” —Megan Sanders, Rachel Fleit e Brittany Myers—, foi como se elas já fossem velhas conhecidas.
Embora vivam em Nova York, “onde uma mulher calva raramente é a coisa mais esdrúxula que as pessoas vão ver num dia qualquer”, não é raro elas serem alvo de olhares espantados ou perguntas sobre sua aparência.
Mesmo assim, elas já fizeram as pazes com a falta de cabelos e estão decididas a não deixar que isso as atrapalhe. Myers gosta de praticar escalada e correr ultramaratonas. São atividades “que não podem ser praticadas usando uma peruca”, escreveu Phillips.
A própria Phillips diz que, se pudesse voltar a ter cabelos, não o faria.
Porém, mesmo que elas ainda usassem um lenço, chamariam a atenção, como é o caso de muitas mulheres muçulmanas.
Mais de 2 milhões de muçulmanos vivem em Moscou, mas, na Rússia, o islã é visto há décadas como ligado ao terrorismo e aos combates no norte do Cáucaso.
Hoje mulheres como a estilista Rezeda Suleyman e a especialista em relações públicas Natalia Narmin Ichaeva enxergam uma oportunidade de projetar uma imagem positiva de seu modo de vida. Suleyman recorda uma época em que, ao ver seu lenço de cabeça, as pessoas iam se sentar em outro vagão do metrô.
Para contestar esse modo de pensar, Suleyman e Ichaev lançaram iniciativas como um bazar beneficente de moda muçulmana. Uma participante não muçulmana, uma atriz de TV que usou um dos vestidos que faziam parte do bazar, comentou: “É claro que vou usar as roupas. Não interessa qual é a religião da estilista.”
Ben Mattlin gostaria que mais pessoas reagissem a ele desse mesmo modo. Por sofrer de atrofia muscular espinhal, uma condição genética, ele sempre precisou se mover em cadeira de rodas. Em 26 anos de casamento, sempre precisou mostrar às pessoas o equívoco de suas ideias preconcebidas de que sua mulher seria sua irmã, sua enfermeira ou “uma santa” por ficar casada com ele.
Mattlin disse que, quando era estudante em Harvard e queria ter colegas de quarto, um reitor rejeitou seu pedido por temer que sua deficiência pudesse ter efeito negativo sobre os outros estudantes. Mesmo hoje, visitantes às vezes falam com seu assistente como se Mattlin não estivesse presente.
Sendo alguém que faz parte de “um segmento enorme e muitas vezes marginalizado da população”, ele quer que as outras pessoas olhem para além dos estereótipos. Que não enxerguem uma cadeira de rodas, mas um ser humano.