Os defensores de armas querem legalizar seu uso no câmpus universitário e, para isso, usam um argumento atraente: com elas, as alunas ajudariam a reduzir a violência sexual.
É difícil, no entanto, vender a ideia, apesar de seus proponentes alegarem que isso poderia impedir massacres como o ocorrido em Virginia Tech, em 2007. O Porte Oculto no campus universitário é proibido em 41 estados, assim como não é permitido fazê-lo explicitamente.
Este ano, porém, os legisladores de dez estados defendendo leis que permitem o uso de armas nos câmpus torcem para que a atenção dedicada à agressão sexual os ajude a aprovar essas normas.
Criadora da regulamentação em Nevada, a deputada Michele Fiore disse: “Se as meninas tiverem o direito de portar armas, imagino que os rapazes não vão querer abordá-las. O número de abusos cairia drasticamente se esses predadores sexuais começassem a levar bala na cabeça”.
Já os que se opõem à novidade defendem que a universidade deve continuar sendo um refúgio contra os riscos representados pelas armas e que os alunos, por causa dos excessos de bebida e outros incidentes, podem sofrer sérias consequências.
Alguns especialistas dizem que as universitárias, de modo geral, são atacadas por gente que conhecem, ou seja, mesmo que tivessem acesso a armas, não poderiam usá-las.
“Isso reflete também que, de maneira geral, as pessoas têm uma ideia errada do que seja o abuso sexual. A situação geralmente começa com certo consentimento, mas quando se torna uma imposição, assumindo os contornos de estupro, já é praticamente impossível pegar a arma”, afirma John D. Foubert, professor da Universidade Estadual de Oklahoma e presidente da One in Four, ONG que oferece programas educacionais sobre violência sexual.
Outros alegam que quem defende as leis de porte de arma nos câmpus são, em geral, republicanos com uma postura pró-armas bem conhecida que estão apenas explorando uma questão de alta conotação emocional.
“O lobby de armas adotou essa tática e apela sempre para o abuso sexual”, explica Andy Pelosi, diretor executivo da Campanha para Manter as Armas Fora do Câmpus. Colorado, Wisconsin e outros sete estados permitem que quem tem arma registrada mantenha porte oculto no câmpus. Vários tinham proibições, mas as revogaram recentemente.
O debate no Colorado, Michigan e Nevada inclui o depoimento de Amanda Collins que, em 2007, foi estuprada na Universidade de Nevada em Reno. E ela afirma que, se tivesse acesso a uma arma na época, poderia ter impedido o ataque.
Pesquisas mostram que a maioria dos reitores e membros das faculdades é contra o porte de arma no câmpus; já entre os alunos o apoio é maior, mais 67 por cento dos homens e 86 por cento das mulheres não aprovam a ideia.
Muitos alunos que defendem a legislação atual se uniram ao grupo lobista Students for Concealed Carry (Alunos pelo Porte Oculto). Crayle Vanest, estudante da Universidade de Indiana e membro do conselho nacional, diz que deveria poder carregar sua pistola registrada no câmpus.
“As universidades estão sendo investigadas exaustivamente por causa da forma que lidam com a violência sexual”, diz ela, sinalizando que os câmpus não são seguros.
O debate mais interessante pode acontecer na Flórida: sua universidade estadual teve vários casos de ataques sexuais de grande destaque, além de um tiroteio em novembro, no qual um homem de 31 anos feriu duas estudantes e um funcionário antes de ser morto pelos policiais.
O reitor da universidade, John Thrasher, apesar de defensor explícito do direito de porte de armas, é contrário à medida no câmpus, principalmente por causa da morte ocorrida em 2011: Ashley Cowie, segundanista e filha de um amigo seu, foi morta quando um aluno, exibindo seu fuzil no grêmio estudantil, não percebeu que a arma estava carregada.
“O câmpus universitário não é lugar para armas; nossa filosofia interna reforça essa ideia, assim como as nossas leis”, resumiu Thrasher.
O próximo passo da lei da Flórida será uma audiência este mês: Greg Steube, criador da lei, espera que, com o depoimento de Amanda Collins, a ex-aluna de Nevada que foi estuprada em 2007, ela chegue à mesa do governador republicano Rick Scott e seja aprovada.
Mariana Prado, aluna da Universidade Stetson em DeLand, diz: “Acho uma péssima ideia. Pelo que vi e ouvi, a agressão sexual geralmente está ligada a situações em que as pessoas estão bebendo, ou seja, permitir o uso de armas só torna a situação ainda mais perigosa”.