Com músculos enormes marcados sob a camiseta, Martin Luther King Addo orientava o exercício de uma de suas clientes mais dedicadas na pequena academia que possui em Manhattan. "Você consegue, Shirley", ele disse.
Shirley Friedman, uma senhora de 90 anos de idade, usa um equipamento para exercitar os joelhos.
"Nunca fiz isso antes, mas ele me dá a confiança de que preciso" ela disse. "Ele é sincero, entende?".
Addo, que desenvolveu os músculos usando uma árvore para fazer barra e blocos de concreto como pesos, é ex-campeão de fisiculturismo de Gana. Anos atrás, seu físico e seu sorriso lhe trouxeram a fama na terra natal, na África. Hoje, ele usa o físico imponente e os conhecimentos arduamente conquistados para ajudar idosos a restaurarem o equilíbrio, a mobilidade e a força.
Ele trabalha na academia que abriu no ano passado em Manhattan, dentro de um conjunto habitacional onde moram muitos idosos. As paredes estão cobertas de pôsteres de Addo sem camisa, exibindo os músculos. "Pergunte-me como construir uma base sólida", diz um dos cartazes em que ele aparece usando uma camiseta amarela minúscula.
Uma tarde, Mary Killoran, de 86 anos, exercitava-se com pesos. Aposentada, ela vive sozinha desde 1971. Há alguns anos, sofreu uma queda e foi forçada a usar um andador.
Addo, de 44 anos, ensinou-lhe exercícios de equilíbrio e técnicas de alongamento. Aos poucos, ela foi se recuperando e trocou o andador por uma bengala.
Agora, toda manhã ela toma um shake de proteína e faz longas caminhadas duas vezes por dia. Malha três vezes por semana, mas passa pela academia quase diariamente para visitar Addo. Ele a ajuda a "ser mais alegre, a não ficar deprimida", disse.
Addo conta que os idosos também o animam. Criado em uma tribo Ashanti, aprendeu que melhorar a vida dos mais velhos é uma virtude. "Elas me lembram minhas avós e tias", comentou ele.
Sua vida mudou quando assistiu "Comando para Matar" pela primeira vez, filme estrelado por Arnold Schwarzenegger, em meados da década de 80. Ele vivia com a avó na aldeia de Asafo e ficou encantado ao ver o ator empurrando carros e arrastando troncos de árvore no ombro. Addo decidiu ser como Schwarzenegger.
Devorava revistas americanas de fisiculturismo e construiu uma academia no quintal da casa da tia. Aos 24 anos, sabia que "finalmente tinha músculos suficientes" para participar de competições da categoria.
Em 1995 e 1996, ganhou o título de Mr. Gana e tornou-se uma celebridade nacional, estrelando comerciais de televisão. Sempre exibia os músculos em público, fazendo as meninas rirem, disse Samuel Kissiedu, ex-repórter esportivo de Gana.
Mas seu sonho era viver nos Estados Unidos "terra de oportunidades", como ele coloca e seguir os passos de Schwarzenegger. Em 1999, chegou a Nova York e se formou como personal trainer. Desde o início, seu objetivo era abrir a própria academia, disse Camille Agro, uma ex-cliente da Dolphin Fitness que se tornou amiga de Addo.
Ele começou a lecionar em uma cooperativa que oferecia aulas de ioga e tricô e tornou-se popular, especialmente entre as senhoras de idade.
Há alguns anos, uma sala vagou, e Addo aproveitou a oportunidade.
Seus frequentadores variam em idade e forma, mas em sua maioria são mulheres idosas. Há Elizabeth Birnbaum, de 72 anos, bibliotecária aposentada que adora os discursos inspiradores sobre a relação entre saúde física e mental e Diane Harris Brown, de 66 anos, que frequenta as aulas de segunda-feira e sofre do mal de Parkinson.
Mas é Shirley Friedman sua cliente mais leal. Ela tem sessões exclusivas duas vezes por semana, e diz com orgulho, "Faço até exercícios de treinamento de recrutas".
Addo quer abrir mais academias e virar ator. Ultimamente, o assunto principal entre seus clientes são seus braços, que parecem crescer a olhos vistos. Ele confirmou que está treinando para o concurso de Mr. Universo da Associação Nacional de Fisiculturistas Amadores no ano que vem.
Pete Molinelli, funcionário público e um dos moradores do conjunto habitacional, disse que os idosos costumavam ser "meio fechados". E então Addo chegou. "De repente, parece que há gente nova no bairro", disse Molinelli. "Mas, não. Eles sempre estiveram aqui".
"Addo fez todo mundo se soltar mais".