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Ela entrou no escritório de sua campanha como uma candidata de quase qualquer parte do mundo, preparando-se para conversar com um bando de repórteres.

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Estes, porém, não queriam fazer uma entrevista e insistiram para que ela comprasse espaços publicitários em seus jornais.

"Se você fizer negócio, nós lhe daremos cobertura, mas se você não nos der dinheiro —bem, mesmo assim lhe daremos cobertura", disse um repórter.

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Para Shefali Misra, candidata do presunçoso Partido Aam Aadmi, a ameaça foi clara. "Eles vão me caluniar se eu não pagar", comentou ela sombriamente depois que os repórteres saíram.

Misra, assistente social que concorre pela primeira vez em uma eleição, disputa uma das 543 vagas no Parlamento nas eleições nacionais na Índia, onde há 814 milhões de eleitores registrados. Essa é a maior eleição de todos os tempos no mundo. No entanto, a realidade desse espetáculo que incita o otimismo é que as eleições na Índia envolvem dinheiro ilegal, muita violência e expedientes escusos.

A compra de votos é tão comum que a Comissão Eleitoral indiana começou a monitorar aeroportos regionais para flagrar a chegada de aviões e helicópteros, e a polícia montou barreiras em estradas por todo o país para confiscar grandes volumes de dinheiro, ouro e bebidas alcoólicas usados para comprar a lealdade nas urnas eleitorais. Esse é um mundo novo e desafiador para Misra, 39, que estudou na London School of Economics e deixou seu emprego em novembro no Programa de Desenvolvimento da ONU.

Ela promete combater a corrupção, construir uma escola secundária para meninas e tornar os serviços do governo mais acessíveis à população. E quer ardorosamente melhorar as condições de vida das mulheres, cuja posição na sociedade indiana é notoriamente baixa. Mas os dias passados com Misra no rastro de sua campanha evidenciaram os obstáculos constantes enfrentados por ela. Para sua enorme frustração, nenhuma mulher compareceu a seus comícios em mais de dois dias. Em uma reunião, um homem trancou a porta, de forma que várias mulheres ficaram espiando por uma rachadura na cozinha adjacente.

E há o imenso abismo entre as esperanças das pessoas e o que o governo da Índia realmente pode fazer. Em muitas reuniões, eleitores pediram empréstimos isentos de juros e teares automáticos grátis, mas não mencionaram a incapacidade do governo para fornecer saneamento básico e água potável.

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"Eu não faço política como a maioria", disse Misra em um discurso recente. "Se eu fosse uma política qualquer, faria todas essas promessas falsas que não teria condições de cumprir." Ela é afiliada ao Aam Aadmi, um novo partido cuja plataforma principal é acabar com a corrupção política endêmica na Índia. Quando Misra iniciou uma carreata com dez riquixás, membros de sua campanha enfeitaram os veículos com braçadas de vassouras, símbolo que passa a imagem de limpeza.

Aos repórteres que a pressionavam, Misra disse pacientemente: "Não cabe a mim decidir onde comprar espaços publicitários. Isso é decidido por um comitê central do partido".

E embora o Aam Aadmi evite apelos religiosos, Misra se viu de joelhos pedindo o apoio de um anão de turbante que se diz líder religioso e curandeiro.

Sentado no pátio de uma ordem religiosa devotada à deusa hindu Kamakhya, o líder, Munnalal, lhe disse: "Você terá ao menos 75 mil votos dessa área".

Misra ajoelhou-se diante dele e pediu a bênção. "Eu lhe darei, mas você deve se empenhar mais para pedir votos e levantar mais cedo", disse Munnalal.

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"Farei isso", prometeu Misra, que em seguida se curvou para receber a bênção.