Com um chapéu amarelo, uma camisa verde berrante e uma gravata vermelha grande demais, De Professor dançava no palco, os longos dreads flutuando à sua volta enquanto cantava sobre os desmandos do governo.

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"Com toda a corrupção que rola solta, nós é que levamos a culpa", canta ele em "God Nah Sleep". "Enquanto eles roubam, roubam, roubam, nós ficamos sentados, como se não tivéssemos forças", reclama da falta de iniciativa pública face à corrupção generalizada.

A apresentação foi tão bem recebida que rendeu ao cantor de 43 anos, cujo nome verdadeiro é Lester Charles, a vitória na competição anual de calipso realizada este ano na Guiana, país minúsculo da América do Sul.

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Só que irritou tanto o Ministro dos Transportes e Sistemas de Energia Hidrelétrica, Robeson Benn, que ele invadiu a rádio logo depois e, segundo inúmeros relatos, exigiu que a execução da música fosse proibida, assim como a de várias outras.

Desde então só cresceu o conflito entre o governo e os cantores de calipso, que denunciam a repressão em relação à sua música.

A disputa é reforçada pelas tensões étnicas antigas entre os descendentes dos escravos africanos e dos servos indianos contratados, dois grupos que brigam pelo poder há mais de 50 anos neste país de 740 mil habitantes.

"O calipso é reprimido aqui na Guiana porque fala a verdade", diz Charles, que também é mineiro de bauxita. "O pessoal adora a música porque é bem agitada, mas é assim que é o calipso. Só quem não gosta do meu trabalho é o governo."

Numa entrevista recente na capital, Benn descreveu a canção de Charles e outras como "difamatórias e vulgares, não passam de ataques políticos explícitos". E negou que teria instruído a estatal National Communications Network, ou NCN, a não tocar as músicas. Apesar da negativa, fotos dos avisos chegaram ao Facebook.

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A antiga colônia é um oásis de cultura caribenha e britânica, protegida das influências latino-americanas pela imensidão da selva amazônica.

"Temos uma cultura de corrupção que é denunciada pelo pessoal do calipso", explica David Hinds, ativista político aqui e professor da Universidade Estadual do Arizona. "No governo atual, o calipso vem passando por ataques cada vez mais acintosos."

Michael Gordon, presidente da NCN, disse que os avisos que mandavam os funcionários não tocar calipso foram um ato de "exuberância excessiva" de alguém sem seu consentimento — e afirmou que a rádio já tinha aberto seus estúdios para os músicos gravarem seus discos, embora eles não tenham aceitado.

O presidente Donald Ramotar é muito cuidadoso ao apoiar o gênero musical tão popular. "Há uma conexão muito forte entre a Guiana e o calipso. A arte e a cultura estão se desenvolvendo mais que nunca desde a independência."

Num canavial na frente de sua casa modesta, Mighty Rebel, de 67 anos, presidente da Associação de Calipso local, falou da importância do estilo: "No calipso, você fala dos políticos, dos pastores, de todo mundo que faz alguma coisa que precisa ser denunciada".

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"Somos os porta-vozes do povo. O governo precisa pegar leve e nos deixar cantar."