O Supremo Conselho Militar, na Síria, expulsou seu líder e nomeou o General Abdul-Ilah al-Bashir, acima| Foto: ayman oghanna Para The New York Times

Parecia ser um enorme avanço para os grupos rebeldes que lutam para derrubar o presidente da Síria, Bashar al-Assad: a criação de um corpo central de comandantes da insurgência, que serviria como uma força unificadora para o diversificado movimento.

CARREGANDO :)

Entretanto, 14 meses após sua criação, o corpo, conhecido como Supremo Conselho Militar, está em desordem total. Grupos islâmicos apreenderam suas armas, os próprios membros roubaram suprimentos e um respeitado comandante se uniu publicamente a um ramo da al-Qaeda.

A disfunção do conselho chamou atenção recentemente, quando um grupo de seus membros expulsou seu chefe de gabinete, o General Salim Idris.

Publicidade

Embora a liderança exilada da oposição, a Coalizão Nacional Síria, tenha parabenizado o novo líder, a ação chocou muita gente – incluindo o próprio novo líder.

"Meu amigo me ligou e disse ‘Parabéns’", contou o Brigadeiro-General Abdul-Ilah al-Bashir após sua nomeação, acrescentando: "Eu não sabia nada sobre isso".

O caos no Conselho Militar da oposição reflete a desconfiança e rivalidades internas entre os rebeldes sírios e seus poderosos apoiadores estrangeiros, o que vem consistentemente prejudicando sua capacidade de formar uma frente unida contra Assad.

Entrevistas com comandantes rebeldes, combatentes, oficiais e autoridades da oposição mostram um movimento minado por lutas internas.

A desordem dentro do conselho, o grupo genérico para rebeldes moderados com apoio do Ocidente, deixa os Estados Unidos e seus aliados com um parceiro confiável a menos.

Publicidade

Desde sua formação, em dezembro de 2012, o Supremo Conselho Militar nunca fez jus ao nome. Mesmo servindo como um canal de entrada para apoio militar estrangeiro, ele nunca recebeu ajuda suficiente para equipar totalmente suas brigadas. Graças a isso, grupos de combate tiveram de desenvolver redes independentes de sírios ricos ou patrocinadores do Golfo Pérsico.

Durante a guerra, o governo sírio caracterizou o movimento rebelde como produto de uma trama financiada por nações estrangeiras. As operações do Supremo Conselho Militar (SCM) emprestaram alguma credibilidade a esse argumento. O Qatar e a Arábia Saudita, os dois maiores financiadores, pressionaram pela criação do corpo e ofereceram a maioria do apoio. E a Turquia permitiu que combatentes e remessas regulares de armas cruzassem sua fronteira ao sul.

Contudo, muitos rebeldes dizem que o apoio estrangeiro tem agravado as tensões entre os grupos. "O SCM se tornou nada mais do que um armazém", afirmou o Coronel Ziad Obeid, que ajudou a administrar seu apoio estrangeiro. "Era um ponto de distribuição, e não uma instituição militar operando por conta própria".

Arábia Saudita e Qatar nunca revelaram a extensão de seu apoio, ou se a ajuda fazia parte de alguma estratégia coerente – alimentando especulações entre os rebeldes sobre quem estaria apoiando quem.

Como o conselho fracassou em virar a maré contra Assad, muitos rebeldes culparam o General Idris, acusando-o de não conseguir impedir derrotas rebeldes e pelo surgimento de grupos ligados à al-Qaeda.

Publicidade

"Não há uma batalha que você possa apontar e dizer ‘O SCM fez isso’, ou uma força que tenha sido fundada pelo SCM", garantiu Ibrahim al-Hamwe, coordenador de armas para a Irmandade Muçulmana Síria.

Outros acusaram os membros do grupo de distribuir armas a seus amigos ou vendê-las.

Safi al-Safi, que comandou uma brigada rebelde, disse ter comprado 22.000 balas e 80 rifles de assalto de um membro do Conselho Militar, vendendo os itens por um lucro superior a US$20 mil. "De que outra forma eu poderia alimentar meus homens?", questionou ele.

No fim do ano passado, Saddam al-Jamal, um assistente do chefe de pessoal que havia recebido armas do grupo, anunciou que havia se juntado ao Estado Islâmico no Iraque e Síria, um ramo da al-Qaeda, e acusou seus antigos colegas de corrupção.

"Toda essa conversa é 100 por cento verdadeira", afirmou o Coronel Fateh Hassoun, um dos representantes do General Idris. "O SCM não deu aos combatentes o que eles precisavam, pois nunca recebeu apoio suficiente". Segundo ele, o General Idris havia combinado de devolver remessas de armas ao conselho, mas o abalo da liderança o impediu.

Publicidade

"Alguns países haviam prometido enviar armas, mas eles pararam e disseram: ‘Não vamos enviar nada até vocês resolverem seus problemas’", afirmou ele.

Enquanto o General Idris estava fora do país, recentemente, um grupo de membros do conselho anunciou que ele havia sido substituído – uma ação que o general definiu como "ilegal" e "um golpe".

Após sua nomeação para substituir o General Idris, o General Bashir declarou que iria cooperar com qualquer um lutando para derrubar o governo. Todavia, ele não apresentou planos concretos que possam mudar o destino do conselho.

"Faremos o possível", disse ele. "Conversaremos com os combatentes em ação e, se Deus quiser, faremos jus a nossas responsabilidades".