O pintor Julien Meert, 32, recorda-se do momento em que percebeu que sua cidade tinha se tornado um centro importante no mapa internacional das artes. “Foi quando a Almine Rech chegou”, disse, aludindo à eminente galeria parisiense de arte, que abriu uma filial em Bruxelas em 2007.
Na época, Meert ainda era estudante, mas entendeu imediatamente que teria que competir com grandes nomes, mesmo em seu próprio quintal. “Pensei: ‘C’est fini’”, contou. “Agora o jogo é outro. Vou ter que ser corajoso.”
Meert dava a entrevista em um café do Wiels, o maior espaço de arte contemporânea de Bruxelas, onde recentemente foi um dos 13 artistas participantes do evento “Un-Scene III”, a terceira trienal a agrupar artistas emergentes da capital belga.
Bruxelas é hoje uma das cidades artísticas mais dinâmicas da Europa, um misto imprevisível e dinâmico do local e do global.
Diferentemente de Berlim, onde geralmente se faz arte, mas não se compra arte, ou de Paris, onde o que vale muitas vezes é o contrário, Bruxelas é uma cidade onde a arte é negociada e também criada.
A capital atrai artistas graças a seus aluguéis, ainda muito mais baratos que os de Paris ou Londres. Além disso, é possível chegar dali facilmente a essas duas cidades em trens de alta velocidade. Quase 50 galerias de arte foram abertas em Bruxelas desde 2006, segundo uma porta-voz da feira anual Art Brussels.
A Bélgica tem forte tradição colecionadora. Os colecionadores flamengos, em especial, são vistos como alguns dos mais ousados do mundo, com gosto sofisticado e desdém por consultores de arte. Os negócios estão sendo favorecidos também pela chegada de uma onda de franceses ricos que se radicaram na Bélgica para fugir dos impostos.
O programa de residência artística do centro Wiel recebe centenas de candidaturas para suas nove vagas anuais e também atrai artistas internacionais a Bruxelas. Muitos deles acabaram ficando na cidade.
O fato de a Bélgica ser um país minúsculo e complicado, profundamente dividido entre suas populações de língua flamenga e francesa, diferencia Bruxelas de outras capitais europeias, incluindo Paris ou Berlim, cuja vida cultural às vezes é mais insular e mais dependente do tom e dos recursos de instituições públicas.
Esse fato pode ser positivo para artistas. “Adoro ser outsider aqui”, comentou a artista plástica escocesa Lucy McKenzie, 38, que se mudou para Bruxelas em 2006, atraída pelo cenário de design da cidade, sua arquitetura Art Déco e seus espaços artísticos sem fins lucrativos.
Bruxelas também possui forte caráter pós-colonial. O artista Sammy Baloji, 36, mudou-se para Bruxelas em 2010, vindo da República Democrática do Congo, em parte em função dos arquivos do Museu Real para a África Central. A instituição é um manancial de inspiração para seu trabalho, que soma fotos de arquivo e explorações multimídia do passado colonial do Congo. “Bruxelas é ao mesmo tempo uma cidade pequena e uma capital”, disse Baloji.
As galerias internacionais de Bruxelas tendem a abrir espaço para mais artistas do exterior, de olho nos colecionadores interessados em ampliar e aprofundar seus acervos, enquanto as galerias belgas frequentemente introduzem artistas nacionais.
Essa situação, no entanto, pode mudar. A galerista Barbara Gladstone, de Nova York, abriu uma filial em Bruxelas em 2008 e acaba de abrir espaço para o belga Walter Swennen.
Yoann Van Parys, 33, artista belga, comentou que Bruxelas é um laboratório cultural fértil, mas teme que essa situação não perdure. “O que é ruim é que esta concorrência vai acabar com o espírito de camaradagem.”
A artista Marina Pinsky, 28, espera que o hype em torno de Bruxelas se acalme. “Não quero fazer propaganda demais”, disse. “Não quero que o mundo inteiro se mude para cá.”