Quando David Lujana fechou seu restaurante aqui e se mudou para El Paso, Texas, em 2010, sua esposa tinha acabado de sobreviver a uma tentativa de sequestro e a cidade produzia oito homicídios por dia. Era a capital do homicídio no México e um lugar de êxodo em massa, com aproximadamente um terço da população da cidade fugindo em apenas alguns anos sangrentos.
Mas agora, liderados por jovens como Lujana, milhares estão retornando. Com a violência reduzida a 25% de seu auge, Ciudad Juárez, símbolo perene da devastação da guerra às drogas, está vivenciando o que muitos aqui descrevem como um crescimento econômico.
Novos restaurantes surgem semanalmente. As escolas e residências em alguns bairros voltam gradualmente a se encher, enquanto as boates vibram nos finais de semana, lotadas de adolescentes e de pessoas de vinte e poucos anos que insistem em reivindicar a liberdade de trabalhar e brincar sem serem consumidas pela preocupação.
"É uma cidade diferente", disse Lujana, de 31 anos, que retornou há alguns anos. "Os traficantes de drogas recuaram; não é mais bacana ser narcotraficante."
Juárez sempre foi um indicador no México, desde os imigrantes a caminho do norte pelas primeiras ferrovias mexicanas na década de 1880 até o crescimento das fábricas e o livre comércio um século depois. Então, veio o massacre, uma onda de três anos a partir de 2008, e agora um alívio temporário.
Alguns atribuem a queda da violência a uma política agressiva de detenção pela polícia; outros dizem que os piores assassinos morreram ou fugiram, ou que o cartel de Sinaloa simplesmente derrotou os seus rivais, deixando uma espécie de paz que pode ser desfeita de uma hora para outra.
Seja qual for a lição que Juárez tem para o México, ela permanece fugaz, enquanto a luta do México contra a desordem continua a evoluir. As autoridades federais estão lutando pelo controle em dois estados pacíficos que são divididos entre os vigilantes e as gangues, embora, nacionalmente, as fugas de prisões, os assassinatos aterradores e os recordes de sequestros ainda ganhem as manchetes.
No entanto, boa parte da cidade parece renovada. Há dois anos, os outdoors de Juárez eram algo lamentável, velhos e desbotados enquanto empresas fechavam ou operavam à sombra para evitar extorsão.
"Todos tinham de ficar escondidos, como ratos", afirmou Cristina Cunningham, presidente da Associação de Restaurantes do México.
Agora, novos cartazes luminosos anunciam estúdios de dança, imóveis à venda e novos restaurantes no Boulevard Gomez Marin, onde pelo menos 15 restaurantes foram abertos recentemente. Pôsteres promovem eventos que retornaram pela primeira vez há anos, como o circo. Existe trânsito após o anoitecer.
"Agora, podemos caminhar pelas ruas", disse Jesus Rodriguez, de 25 anos. "É preciso ficar atento, mas pode-se fazer isso."
Lujana e Luis Rodriguez, seu sócio no restaurante que tinham em El Paso, estavam infelizes lá.
"Era muito deprimente", contou o Rodriguez, de 40 anos. "Estávamos criando empregos e pagando impostos, mas não éramos bem tratados."
Há aproximadamente um ano, eles começaram a procurar espaço novamente no lado mexicano da fronteira, onde os aluguéis estavam por volta de 60 por cento mais baixos. Eles encontraram um local onde alguns restaurantes recentemente incluíram o serviço de jantar após muitos anos fechando cedo, e recriaram a churrascaria brasileira que fecharam em El Paso.
"Estou otimista", Lujana disse. "Antes, os meus amigos iam para El Paso em busca de diversão. Agora, eles vêm para cá."
Algo que era considerado loucura uma viagem noturna até Juárez atualmente, para muitos, é uma aventura que vale a pena. O Aura, um dos primeiros clubes a abrir no novo boom, até mesmo oferece um pacote da quinta-feira até sábado, com serviço de ônibus desde El Paso, open bar no clube, um quarto de hotel, e uma viagem de volta ao outro lado da fronteira no dia seguinte por aproximadamente 350 dólares.
"Os negócios vão bem", disse Arturo Velarde, de 26 anos, sócio do Clube Aura, que tem capacidade para cerca de 1200 pessoas. "Não está como era antes, mas espero que fique."
Especialistas dizem que Juárez, onde a população triplicou entre 1970 e 2000, alcançando 1,2 milhões de pessoas, pode nunca alcançar o crescimento anterior. O turismo é a metade do que era em 2007, e as estimativas são de que apenas 10 por cento dos que partiram tenham retornado.
As taxas de condenação penal ainda são péssimas. A extorsão ainda é um problema e muitos bairros pobres continuam mortíferos. Mas para muitos aqui, a esperança está apenas começando a surgir. Segundo Lujana, nos últimos tempos a maioria de seus amigos e parentes voltou, muitos com novas ideias e a determinação de tornar Juárez mais próspera, responsável e divertida.
"Nós, os jovens daqui, agora queremos uma cultura diferente", disse. "Queremos uma vida diferente."
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura