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Castração química é usada em cães

A dra. Julie K. Levy estudou a esterilização não cirúrgica de animais | Kelly Jordan para The New York Times
A dra. Julie K. Levy estudou a esterilização não cirúrgica de animais (Foto: Kelly Jordan para The New York Times)

Todd Bruce, 28 anos, capataz responsável pelo rebanho numa fazenda de Oregon City, Oregon, resistia há muito tempo a castrar Cody, cão boiadeiro australiano de cinco anos.

"Eu não queria que ele perdesse a capacidade de trabalho", disse Bruce. "Eu tive outros cachorros castrados que ganharam bastante peso, seus corpos passaram por mudanças enormes e não queria que isso acontecesse com meu cachorro desta vez."

Foi então que a irmã de Bruce, estudante de veterinária, lhe falou sobre o Zeuterin, medicação que esteriliza os machos sem a remoção dos testículos, preservando dessa forma alguma produção de testosterona. Em junho, Bruce foi voluntário ao levar Cody ao procedimento em Portland. No dia seguinte, Cody estava de volta ao trabalho, cercando com entusiasmo o gado.

O movimento de 40 anos que busca convencer os norte-americanos de que devem castrar os bichos de estimação acumula triunfos: 83 por cento dos cachorros e 91 por cento dos gatos que têm donos nos Estados Unidos são castrados, comparados a somente dez por cento na década de 1970.

Em outros lugares do mundo, a castração química está começando a deslanchar. Nos últimos anos, donos resistentes à castração na Austrália, Nova Zelândia e países europeus se voltaram ao Suprelorin, implante que esteriliza cães machos de seis a 12 meses ao neutralizar a produção de hormônios reprodutores.

Um implante como o Suprelorin, que deve ser trocado regularmente, não é prático para animais de rua.

Porém, a vacina GonaCon, desenvolvida pelo Departamento da Agricultura dos Estados Unidos para esterilizar veados e cavalos selvagens pode ser uma alternativa viável, disse a Dra. Julie Levy, da Universidade da Flórida.

Estudos demonstraram que uma única injeção de GonaCon basta para esterilizar a maioria dos cães e gatos por até quatro anos – mais ou menos o tempo de vida de animais de rua. E por bloquear os hormônios reprodutores, o GonaCon elimina boa parte dos comportamentos incômodos associados aos bichos de rua, tais como brigas.

A remoção cirúrgica dos órgãos reprodutivos de cada animal ainda é demorada para veterinários, impopular em meio a um subconjunto de proprietários e criador de problemas éticos para defensores do bem-estar animal.

Algumas opções de esterilização não cirúrgica, capitaneadas pelo Zeuterin, poderiam reduzir ou até mesmo eliminar a necessidade de castração.

O Zeuterin, combinação de gluconato de zinco e arginina, é injetado nos testículos do cachorro, matando o esperma e fechando a passagem por meio da qual ele normalmente passaria. Os resultados são permanentes e o processo leva apenas algumas horas, representando pouco risco em relação à cirurgia, e funciona em 99,6 por cento dos cachorros, segundo testes clínicos.

"Acho que é um produto impressionante", disse Levy, que usou o medicamento quase uma década atrás para esterilizar cães selvagens nas Ilhas Galápagos.

Lançado em 2003, o Zeuterin, que precisa ser injetado com precisão, era vendido a veterinários sem muito treinamento. Em 2005, a medicação havia desaparecido. Joe Tosini, fundador da Ark Sciences, que comprou os direitos da droga, espera a aprovação da FDA, agência norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos.

A ideia de que a castração cirúrgica causa ganho de peso ou mudanças comportamentais nos cães ainda é questão de debate entre os veterinários. Contudo, o procedimento continua impopular entre donos de bichos que se valem dos cachorros para caça, esportes ou proteção, temendo que a castração afete o desempenho dos animais.

Alguns proprietários simplesmente não conseguem pagar pelo procedimento, que pode custar US$ 400, dependendo da região; a Ark Sciences pretende fornecer o Zeuterin às clínicas por apenas US$ 15. Outros donos, principalmente de machos, tomam a decisão consciente de não castrar.

"Em determinadas culturas, como a latina, a castração é vista como um ato muito emasculador, e eu acho que as pessoas se identificam com os cachorros", afirmou Levy.

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