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Uma estação de recarga em um campo de migrantes em Calais, França. Os refugiados esperavam cruzar o canal da Mancha para a Grã-Bretanha | Peter Nicholls/Reuters
Uma estação de recarga em um campo de migrantes em Calais, França. Os refugiados esperavam cruzar o canal da Mancha para a Grã-Bretanha| Foto: Peter Nicholls/Reuters

As dezenas de milhares de migrantes que inundaram os Bálcãs nas últimas semanas precisam de comida, água e abrigo, assim como os milhões de pessoas deslocadas pela guerra em todo o mundo.

No entanto, também há outra coisa sem a qual eles juram que não podem viver sem: uma tomada para carregar seus smartphones.

“Toda vez que chego a um novo país, compro um chip de celular e ativo a internet para baixar o mapa e me localizar”, explicou Osama Aljasem, professor de música de 32 anos de Deir al-Zour, na Síria, que estava em Belgrado planejando seu próximo movimento em direção ao norte da Europa.

“Eu não teria conseguido chegar ao meu destino sem o smartphone”, acrescentou. “Fico estressado quando o nível da bateria começa a baixar.”

A tecnologia transformou esta crise de refugiados, facilitando a movimentação de milhões de pessoas. Ela intensificou as pressões sobre as rotas que se mostraram bem-sucedidas —como esta que atravessa os Bálcãs, onde, segundo as Nações Unidas, recentemente cerca de 3.000 pessoas cruzavam por dia a fronteira da Grécia para a Macedônia.

Mapas, aplicativos de GPS e redes sociais tornaram-se ferramentas essenciais. Os migrantes dependem delas para publicar atualizações em tempo real sobre rotas, detenções, movimentos de guardas de fronteiras e transportes, assim como lugares para ficar e preços, enquanto mantêm contato com parentes e amigos.

Grande parte da mudança é conduzida pelas dezenas de milhares de sírios de classe média que foram deslocados pela guerra. Essas ferramentas também são usadas por migrantes da África e do Oriente Médio, do Afeganistão e do Paquistão.

Os traficantes anunciam seus serviços no Facebook, com fotos das cidades de destino e ofertas generosas.

No grupo do Facebook Tráfico para a Europa, em língua árabe, um traficante oferece desconto de 50% para crianças com menos de cinco anos.

O preço de 1.700 euros (cerca de R$ 7.000,00) pela viagem de Istambul a Tessalônica, na Grécia, inclui a viagem de carro antes e depois da fronteira e uma caminhada de duas horas para atravessá-la.

O grupo Tráfico para a Europa, com cerca de 6.000 membros, é apenas um recanto de um novo mundo de redes sociais disponível para sírios e outros que fazem a perigosa jornada para a Europa.

Os sírios são ajudados em sua jornada por grupos do Facebook em língua árabe como Contrabando para os EUA, com cerca de 24 mil membros, e Como Emigrar para a Europa, com 39 mil.

Na verdade, a facilidade e a autonomia que os aplicativos oferecem podem estar atrapalhando os negócios do contrabando.

“Neste momento, os traficantes estão perdendo negócios porque as pessoas estão indo sozinhas, graças ao Facebook”, disse Mohamed Haj Ali, 38, que trabalha com uma agência de ajuda em Belgrado, capital da Sérvia.

A única parte da jornada que a maioria dos migrantes ainda paga para os traficantes, segundo ele, é a travessia da Turquia para a Grécia.

O Alto Comissariado para Refugiados da ONU distribuiu 33 mil chips de celular para refugiados sírios na Jordânia e cerca de 85 mil lanternas solares que podem ser usadas para carregar celulares.

Pawel Krzysiek, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Damasco, na Síria, disse que os smartphones permitiram que os refugiados interajam com as agências internacionais, em vez de apenas receber passivamente a informação.

Uma página popular no Facebook na Síria relata a contagem em tempo real de disparos de morteiros contra Damasco e mapeia suas localizações, permitindo que os usuários evitem certas áreas, disse Krzysiek.

Mohammed Salmoni, 21, de Cabul, Afeganistão, que tinha parado para carregar a bateria do telefone em uma banca de jornais em Belgrado, disse que o aparelho salvou sua vida.

Ele o usou para realizar uma caminhada de 40 horas pela província de Nimruz, no Afeganistão, até Zahedan, no Irã. “Era muito perigoso”, disse.

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