Idriss Déby, o presidente do Chade, fala murmurando, usa óculos e pode ser encontrado nos recintos interiores e calmos de um palácio presidencial de mármore situado no centro empoeirado da capital de seu país.

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Apesar disso, ele é um dos ditadores mais temíveis da África.

Ele já sobreviveu a vários ataques rebeldes e tentativas de golpe. Seus homens ganharam reputação quando, certa vez, derrotaram os combatentes do coronel Muammar Gaddafi numa batalha no deserto. Mais recentemente, suas forças vêm combatendo com sucesso a facção terrorista nigeriano Boko Haram e a filial regional da Al Qaeda, a Al Qaeda no Magreb Islâmico.

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Mesmo assim, ao comentar a vitória de suas forças em Damasak, Nigéria, reduto do Boko Haram, Déby não revelou o menor triunfalismo. Estava impaciente: seus homens estão parados, ainda à espera de algum sinal de que forças nigerianas virão assumir seu lugar. Déby disse que não quer ficar parado, protegendo território nigeriano. “Queremos que os nigerianos venham ocupar a área, para que possamos avançar”, explicou. “Estamos perdendo tempo, e isso beneficia o Boko Haram.”

O presidente diz que entrou na guerra contra o Boko Haram com relutância e o fez principalmente em prol da sobrevivência de seu país: o Chade não tem saída para o mar e depende das rotas comerciais terrestres que passam pelo território da facção.

Sua entrada na guerra causou constrangimento à Nigéria —o presidente de um país pequeno vindo socorrer um país maior— e lançou sombra sobre as forças militares de Camarões e Níger, menos bem equipadas. Com isso, o Chade conquistou a simpatia do Ocidente.

Os líderes ocidentais antes repudiavam Déby por seu fraco histórico em matéria de direitos humanos, pelo baixo ranking do Chade em termos de corrupção, pelo nepotismo e pela brutalidade da polícia chadiana.

Essas condições não mudaram.

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O Chade ocupa o 184° lugar entre 187 países no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, com expectativa de vida e níveis de escolarização entre os últimos lugares. A elite chadiana ligada a Déby vive em mansões gigantescas que fazem sombra às moradias decrépitas da população comum. No mês passado, imagens de vídeos clandestinos mostraram policiais do país açoitando manifestantes estudantis seminus.

Mas Déby, 62, deixou de ser pária. Seus soldados ocupam cidades na Nigéria que estava sob o controle do Boko Haram e seus helicópteros militares modernos bombardeiam os terroristas em outros lugares. Pelo menos três cidades importantes do nordeste da Nigéria foram tomadas pelos chadianos —Damasak, Dikwa e Gamboru. E suas tropas, depois de avançar milhares de quilômetros no deserto, ainda estão no norte do Mali enfrentando a Al Qaeda no Magreb Islâmico.

Com bilhões de dólares de receita petrolífera desde o início dos anos 2000, gastos militares pelo menos duas vezes maiores que a maioria dos países africanos e a experiência de 40 anos de guerras civis árduas, tendo Déby participado pessoalmente da maioria delas, o presidente construiu uma máquina militar temível.

Equipado com aviões de combate Sukhoi e tanques leves franceses, o Exército chadiano é composto principalmente por combatentes da etnia do presidente, a Zhagawa, e de sua região natal, no árido norte do país. “Quando Déby se for, este quebra-cabeças vai se fragmentar”, disse o líder oposicionista de longa data Saleh Kebzabo. “Não é um Exército nacional. Em vez de desenvolver o país, Déby superequipou o Exército.”

Idriss Déby conquistou a admiração do Ocidente como tático militar em 1987, quando, como comandante das Forças chadianas, enviou caminhões com seus homens pelo deserto para encurralar as Forças líbias do coronel Gaddafi em um movimento acelerado de pinça. Hoje o comandante se irrita com a falta de coordenação nigeriana com suas Forças e com a aparente imobilidade da Nigéria em seu próprio território. Ele mal conseguiu esconder sua irritação durante a entrevista. “Daqui a pouco a estação das chuvas vai começar”, disse, explicando que isso dificultará as manobras das tropas. “Isso dará ao Boko Haram uma folga de três meses.”

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Os nigerianos continuam a fazer pouco caso do país vizinho, insistindo que são eles que lideram a luta contra o Boko Haram, e não as forças de Déby.

No entanto, a insatisfação dos nigerianos com sua própria liderança ficou clara com as eleições nacionais de 31 de março, em que o presidente Goodluck Jonathan foi derrotado pelo ex-general Muhammadu Buhari, que no passado governou o país com mão de ferro.

Diplomatas e analistas dizem que os nigerianos começaram a participar dos combates ao Boko Haram, com a ajuda de mercenários sul-africanos. Ainda assim, o Chade parece, por ora, indispensável para vencer a facção.