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Como a usina elétrica estatal na província de Shanxi está temporariamente fechada para reduzir a poluição atmosférica, um de seus engenheiros, Liu Cixin, está tendo mais tempo para se dedicar ao seu hobby: reinar como o escritor chinês com mais livros vendidos de ficção científica.

Além de escrever um novo romance e ajudar na adaptação audiovisual de obras anteriores, Liu, 51, atualmente divulga a tradução para o inglês de "The Three Body Problem" [o problema dos três corpos], primeira parte da sua bem-sucedida trilogia apocalíptica-espacial. Lançado no mês passado nos EUA, é um dos poucos romances de ficção científica chineses a serem traduzidos para o inglês.

O sucesso da série "Três Corpos", como é chamada na China, atrai cada vez mais seguidores.

Desde que o terceiro livro foi publicado, em 2010, cada volume vendeu cerca de 500 mil exemplares na versão original em chinês, fazendo de Liu o autor com mais livros de ficção científica vendidos na China nas últimas décadas.

Além de adolescentes e universitários, os fãs habituais da ficção científica, os setores aeroespacial e de internet na China também adotaram o gênero. Muitos interpretam a batalha de civilizações retratada na trilogia como uma alegoria sobre a implacável competição empresarial na internet chinesa.

A série revigorou um gênero que, na China como em qualquer outro lugar, é muitas vezes marginalizado pela indústria editorial.

A ficção científica, que antes havia sido um veículo de popularização da ciência para fins socialistas, foi criticada em 1983 por jornais do Partido Comunista por "espalhar a pseudociência e promover elementos capitalistas decadentes". Quando a prestigiosa revista chinesa "Literatura Popular" publicou quatro contos de Liu, em 2012, foi um sinal de que o gênero havia sido reabilitado.

Numa China em rápida evolução, histórias que projetam o que pode ocorrer nos próximos anos encontram forte ressonância entre os leitores. "A China está no caminho de uma rápida modernização e progresso, semelhante ao dos EUA durante os anos dourados da ficção científica, nas décadas de 1930 e 60", disse Liu. "Aos olhos das pessoas, o futuro está cheio de atrações, tentações e esperança. Mas, ao mesmo tempo, também está cheio de ameaças e desafios."

A ficção científica chinesa tem outro propósito, na opinião de Xia Jia, escritora de ficção científica e professora da Universidade Xian Jiaotong. "A ficção científica chinesa, de certa forma, carregou o peso do ‘sonho chinês’ desde que o gênero surgiu na China, no final da dinastia Qing", disse, em referência à virada para o século 20. "O sonho tem a ver com querer superar os países ocidentais e se tornar uma poderosíssima China moderna, ao mesmo tempo preservando esses elementos antigos", acrescentou.

A trilogia "Três Corpos" relata a marcha da espécie humana universo adentro, tendo como pano de fundo o passado recente —os turbulentos anos da Revolução Cultural. É uma história de ficção científica clássica, no estilo do mestre britânico Arthur C. Clarke, cujo trabalho Liu diz ter lido em sua formação. Alguns especialistas atribuem a popularidade da trilogia à crescente confiança dos chineses a respeito do papel do seu país no cenário mundial.

"Sempre houve histórias de ficção científica contemplando a China como líder mundial", disse Wu Yan, estudioso da ficção científica e professor da Universidade Normal de Pequim. "As pessoas podiam até gostar [das histórias], mas, no fundo, não acreditavam nelas, ou achavam que aquilo era realmente um futuro distante. Agora, com a série ‘Três Corpos’, as pessoas pensam: ‘Uau, realmente pode ser possível que a China exerça um papel no destino da humanidade’."

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