Autoridades na região de Xinjiang, no oeste da China, oferecem dinheiro e mais incentivos para estimular casamentos entre minorias e a etnia han, grupo étnico dominante no país, em esforço para aplacar a violência étnica na região.
Os incentivos são parte de uma nova política no condado de Cherchen, no sul de Xinjiang, onde a violência entre uigures um povo de língua túrquica, majoritariamente muçulmano e hans explodiu nos últimos anos.
Em agosto, autoridades do condado de Cherchen passaram a pagar 10 mil yuanes (R$ 3.680) por ano, durante cinco anos, para recém-casados em que um deles seja han e o outro pertença a uma das 55 minorias da China.
Reportagens na imprensa chinesa dizem que os pagamentos têm por objetivo ajudar os casais a investirem em pequenos negócios e iniciar famílias.
Os casais também terão prioridade na solicitação de moradias e empregos públicos. A família receberá R$ 7.360 por ano em benefícios à saúde e os filhos desses casais terão educação gratuita até o ensino secundário.
O diretor do condado, Yasen Nasier, disse que os casamentos são "um passo importante na integração e desenvolvimento harmonioso de todas as etnias".
Ele definiu essas uniões como "energia positiva" e meio pelo qual Xinjiang poderia realizar o "Sonho Chinês", termo popularizado pelo presidente Xi Jinping.
James Millward, especialista em Xinjiang na Universidade Georgetown, em Washington, disse que os uigures poderão ver a política de um modo diferente.
"Há o risco", disse ele, "de que os esforços de mistura e fusão patrocinados pelo Estado sejam vistos pelos uigures na China ou por críticos da China em qualquer lugar como tendo de fato o objetivo de assimilação dos uigures à cultura han em outras palavras, como uma tentativa de achinesar os uigures".
Ele acrescentou: "Isto acontece num momento em que muitos uigures veem algumas políticas recentes, como a destruição da velha Kashgar em nome do desenvolvimento, a eliminação da educação na língua uigur e a contínua migração han para as terras tradicionais em Xinjiang, tudo isso, como uma ameaça à preservação das características próprias da cultura uigur".
Cherchen tem uma população de 10 mil pessoas, das quais 73% são uigures e 27% hans, segundo dados de um site do governo.
Em Xinjiang, uma região de desertos e montanhas que ocupa cerca de um sexto do território chinês, mais de 43% da população é uigur e mais de 40% são hans, segundo o censo de 2000.
A população han cresceu depois da tomada do poder pelos comunistas, em 1949, causando receio entre os uigures. Os cazaques são 8% da população.
A política de casamentos em Xinjiang é semelhante a iniciativas no Tibete. Em junho, o "Diário do Tibete" publicou uma reportagem dizendo que Chen Qianguo, o chefe do Partido Comunista da Região Autônoma do Tibete, se havia encontrado com 19 casais interétnicos e ouviu histórias de casamentos felizes.
Chen disse que "políticas favoráveis" tinham levado a um aumento dos casamentos interétnicos, que passaram de 666 em 2008 para 4.795 em 2013.
Numa reunião de alto escalão em maio em Pequim, o Partido Comunista discutiu como assimilar melhor os uigures e suprimir a violência em Xinjiang.
Xi, presidente chinês e líder do partido, disse que mais uigures deveriam ir a partes da China dominadas pelos hans, atraídos pela educação e emprego.
Ele afirmou que o partido e o Estado deveriam estabelecer "visões corretas sobre a pátria e a nação" entre todos os grupos étnicos, de modo que as pessoas reconheçam a "grande mãe pátria" e "o caminho socialista com características chinesas".
Colaborou Mia Li, reportagem