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| Foto: MAD Architects

Esse é o mais novo acontecimentosurrealista em um país cheio deles. Quando for inaugurado daqui dois anos no lado leste de Pequim, o Chaoyang Park Plaza, conjunto de torres de vidro moldado como montanhas em uma típica pintura paisagística chinesa, e projetado pelo renomado arquiteto Ma Yansong, ele contará com apartamentos, escritórios e lojas.

Mas em uma campanha publicitária on-line incomum que começou no final de outubro, o incorporador do projeto vangloria-se de que este "poderia ser o último marco estranho de Pequim a chegar ao mercado nos próximos 10 anos". Recentemente no site, uma vendedora ansiosamente advertiu que o governo poderia proibir "esse tipo de formato artístico".

O aviso também foi uma clara tentativa de capitalizar a fala recente do presidente Xi Jinping que pediu o fim da "arquitetura estranha". Desde que fez essa advertência em um simpósio sobre as artes em 15 de outubro, autoridades, planejadores e construtores em toda a China vêm tentado descobrir o significado disso.

Nenhum relatório oficial surgiu falando sobre o que Xi quis dizer com "estranho". Mas outro relatório realizado em uma plataforma de mídia social pelo Diário do Povo, o porta-voz do Partido Comunista, previu que "no futuro é improvável que Pequim tenha outros edifícios estranhos como as ‘calças gigantes’" — uma referência coloquial à sede da Televisão Central da China, projetado por Rem Koolhaas e Ole Scheeren.

A uniformidade comunista deu lugar a um emaranhado de forças políticas e comerciais nas últimas três décadas; a avant-garde estrangeira e os arquitetos chineses formados no exterior estouraram na cena, transformando a expansão chinesa das megacidades em exibições de uma visão radical que não poderia existir em outro lugar, argumentam os críticos. Escândalos sobre o custo, a corrupção e a segurança têm perseguido a construção das novas maravilhas de Pequim, incluindo prédios equipados com CCTV, o centro Nacional da Arte Performática (o Giant Egg, ou Ovo Gigante) e o estádio nacional construído para as Olimpíadas de 2008 (o Bird’s Nest, ou ninho do pássaro).

O comentário de Xi reverberou entre arquitetos e urbanistas da China. Planejadores do governo disseram que foram convidados por seus superiores a aplicar diretrizes de design mais rigorosas para a aprovação de projetos. Designers e incorporadores disseram que o comentário reacendeu o debate sobre os excessos financeiros e estéticos do desenho urbano na China. Muitos se perguntam se isso comprometeria a criatividade e não seria apenas um controle sobre as formas estranhas.

Desde a declaração de Xi, Wang Kai, da Academia Chinesa de Planejamento Urbano e Design, e outros urbanistas deinstituições estaduais exploram maneiras de traduzir em medidas concretas o que foi dito.

O vice-prefeito de Pequim, Chen Gang, disse que a cidade apresentaria requisitos de planejamento urbano mais detalhados, "adotando normas necessárias com relação ao tamanho, estilo, cor, forma e materiais de edifícios", reportaram jornais.

Yang Shichao, diretor-adjunto da Academia de Pesquisa de Construção da Província de Guangdong, disse que o Ministério pretende estabelecer normas gerais. Um edifício não será considerado "estranho se não consumir materiais em excesso, se for adaptado ao clima local, se se encaixar à cultura local e se oferecer as funçõesnecessárias", disse Yang.

Wang afirmou que, com base em discussões que presenciou, o Ministério provavelmente não definirá o que é estranho com base unicamente na forma, cores ou materiais de um edifício. Em vez disso, os incorporadores procuram controlar custos e construir edifícios "verdes e com baixas emissões de carbono". Mas o governo local também irá definir amplas diretrizes de estilo para arquitetos e adotar procedimentos mais rigorosos para a aprovação de projetos públicos, acrescentou.

Muitos "edifícios estranhos" pela China foram projetos de vaidade de autoridades, sem levar em consideração os custos, disse Wang. "Por que todos têm objeções a certos edifícios em Pequim? Porque são feitos com dinheiro público, das pessoas comuns."

Desde que assumiu o poder, Xi empreendeu uma campanha contra a corrupção e a extravagância, e a arquitetura estranha aparece se encaixar nisso.

Wang Shu, o arquiteto que em 2012 se tornou o primeiro chinês a ganhar o prêmio Pritzker, disse que Xi se refere a um problema real. "A maior quantidade de edifícios estranhos no mundo veio parar na China", disse ele.

Mas transformar a observação do líder em normas pode ser igualmente problemático, acrescentou Wang. "Não ter mais construções estranhas não significa que elas precisem ser entediantes."

Ao contrário dos promotores do Chaoyang Park Plaza, a maioria dos desenvolvedores tenta evitar o rótulo de "estranho". O presidente da SOHO China, Pan Shiyi, cuja empresa é quase sinônimo de projetos excêntricos, incluindo dois recentes em Pequim feitos por Zaha Hadid, vencedora do Pritzker, declarou que Xi estava se referindo "àqueles prédios feios", construídos pelos outros, e não às suas lindas construções.

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