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Certa noite, em junho, Sheng Tianxing fez jus a seu nome, que significa literalmente "viagem celeste". Com apenas um clique, ele pagou US$ 100 mil (R$ 235 mil), cerca de um terço de sua renda anual, por um lugar em um foguete que o levará ao espaço sideral.

Se tudo der certo, em 2016 Sheng, 41, que é negociante de chá na Província de Zhejiang, no sudeste da China, passará seis minutos flutuando cem quilômetros acima da Terra como um dos primeiros civis a bordo de um voo comercial além da atmosfera.

"Eu sempre quis viajar no espaço e questionava se Armstrong de fato andou na Lua. Então, quero conferir isso pessoalmente."

Há 50 anos, lamentando o atraso socioeconômico de seu país, Mao Tsetung disse que a China não conseguiria lançar sequer uma batata no espaço. Agora, operadoras de turismo dizem que a China está em vias de se tornar o maior mercado mundial para o setor incipiente de turismo espacial.

Mais de 30 chineses já adquiriram passagens ou pagaram 50% de adiantamento pelas viagens da XCOR Aerospace, uma empresa de Mojave, na Califórnia, que pretende fazer voos suborbitais a partir do final do próximo ano.

As viagens foram divulgadas na China em dezembro, dois anos após o lançamento no resto do mundo, e 10% das reservas foram feitas por chineses, segundo a Dexo Travel, a agência que representa a XCOR Aerospace na China.

"Há pessoas ricas no mundo inteiro, mas nem todas têm o sonho de viajar no espaço", disse Alex Tang, diretor-executivo de operações da XCOR Aerospace na Ásia.

Tang atribui a paixão chinesa por viagens espaciais aos êxitos do programa espacial do país. "Muitas pessoas querem ir para o espaço como Yang Liwei", explicou, referindo-se ao astronauta que circundou a Terra em 2003 e virou herói por incluir a China entre as nações que exploram o espaço.

Alguns potenciais turistas espaciais já viraram estrelas muito antes de a experiência se realizar.

Após reservar uma passagem em abril, a banqueira Tong Jingling, 40, diz ter recebido convites de empresas para atuar como sua porta-voz ou fazer experimentos médicos no espaço.

Uma passagem de US$ 95 mil (R$ 223 mil) da XCOR dá direito a um voo no final de 2015 a uma altitude de 50 quilômetros —o que a empresa denomina de "a orla espacial"—, ao passo que uma passagem de US$ 100 mil (R$ 235 mil) levará um passageiro além da atmosfera em 2016. Cada voo leva apenas um passageiro.

Vários chineses que reservaram assentos disseram não ter revelado seus planos para suas famílias. Zhang Xiaoyu, 29, disse que contou a seus pais que pretendia voar a uma "altitude relativamente grande", mas não deu detalhes, como o custo da viagem.

Zhang disse que uma viagem espacial tinha muito mais valor para ele do que dar entrada em um apartamento ou comprar um carro. E afirmou: "Isso permite olhar o planeta no qual você nasceu e sentir o máximo de solidão".

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