Lembranças das falências de bancos em 2013 incluem lojas fechadas em Nicósia e desemprego. Abaixo, um mercado na cidade| Foto: Angelos Tzortzinis /The New Yor kTimes

O mundo financeiro avançou desde que Chipre foi, por um breve momento, o epicentro da ansiedade do mercado.

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Dois anos atrás, os bancos do país faliram em massa, e a integridade da zona do euro ficou em suspenso. Depois de uma “fiança” mediada internacionalmente, em que muitos correntistas de bancos foram obrigados a ajudar a pagar pelo resgate da zona do euro, os políticos europeus logo encontraram outros temas para se concentrar.

Mas Christos Savvides, diretor e gerente de uma agência de publicidade em Nicósia, não pode se dar o luxo de esquecer.

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As lembranças diárias incluem fileiras de lojas no centro da cidade que antes vendiam marcas de roupas de luxo, mas hoje estão vazias. Ele perdeu centenas de milhares de euros que tinha depositado em bancos de Chipre —dinheiro que foi apreendido no programa de resgate para cobrir os prejuízos dos bancos.

Em retrospectiva, está claro que os líderes europeus, os credores internacionais e os reguladores dos bancos poderiam ter feito mais para limitar o turbilhão econômico causado pelo confisco do dinheiro dos correntistas acima dos 100 mil euros cobertos pelo seguro de depósitos (aproximadamente R$ 340 mil).

Na verdade, uma nova lei da União Europeia escrita depois da crise provavelmente teria isentado Savvides, já que em seu caso os depósitos na verdade pertenciam a clientes dele.

Uma lição surpreendente pode ser que os controles de capital —restrições à retirada de dinheiro e a transferências para fora do país— não foram tão perturbadores quanto se temia, mas ajudaram a evitar que ainda mais dinheiro saísse de Chipre. De todo modo, dizem alguns economistas, as restrições deveriam ter sido aplicadas mais cedo, antes que muitos dos investidores fugissem.

Recentemente e aos poucos, investidores estrangeiros têm voltado a Chipre.

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Chipre representa o que muitos europeus consideram uma insensibilidade de Bruxelas, Frankfurt e Berlim em relação a pessoas como Savvides, que tiveram de sofrer as consequências da gestão da crise na zona do euro.

Entre os cipriotas, há a sensação generalizada de que, como um país com menos de um milhão de habitantes, geograficamente mais próximo do Oriente Médio que da Europa e com a reputação de ser um porto seguro para dinheiro russo, eles foram usados como cobaias para testar políticas novas e mal concebidas.

“Foi uma experiência”, disse Antonis Paschalides, ex-ministro do governo que está processando a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu em nome dos que dizem que seus depósitos foram confiscados ilegalmente.

Os paralelos com a Grécia não são perfeitos. A economia grega é mais de dez vezes maior que a de Chipre. Os bancos tinham um papel muito maior na economia cipriota —com ativos avaliados em seis vezes o Produto Interno Bruto antes da quebra.

O desemprego continua acima de 16%. A economia encolheu 0,7% no quarto trimestre de 2014, comparada ao trimestre anterior, o pior desempenho na União Europeia. Mais da metade dos empréstimos bancários devedores em Chipre são classificados como insolventes —enorme obstáculo ao crescimento.

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John Hourican, CEO do Banco de Chipre, o maior banco comercial e um dos poucos que continuam de pé, admitiu que o nível de empréstimos em moratória é alto.

Ele disse que tem empatia pelos cipriotas que se consideram maltratados pelas instituições europeias. Os correntistas do Banco de Chipre perderam quase a metade de seu dinheiro acima do nível de 100 mil euros, recebendo ações do banco como compensação. Desde então, o valor dessas ações despencou. “Em todos os outros países da União Europeia, sem exceção, isso não ocorreu”, disse ele.

As autoridades europeias afirmam que, se os correntistas de Chipre não tivessem sido obrigados a pagar, os contribuintes teriam de pagar em seu lugar.

As notícias de Nicósia não são de todo más. No Banco de Chipre, os depósitos aumentaram no quarto trimestre, revertendo o fluxo para fora que começou antes da crise de 2013. As últimas restrições que restam às transferências de dinheiro para fora do país serão suspensas em breve, disse Chrystalla Georghadji, do Banco Central.

Entre os cipriotas há um profundo mal-estar sobre o que acontecerá quando a nova legislação der mais poder aos bancos para processar os devedores. Com base na condução canhestra do socorro, poucas pessoas esperam que alguém fora de Chipre se importe.

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“Ficamos ofendidos”, disse Christos Phokas, ex-bancário. “Em vez de nos ajudar, eles agiram como se não nos conhecessem.”