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Cidade-berço de gravações históricas ganha reconhecimento tardio

Rick Hall, 83, lançou um livro de memórias sobre seu trabalho em Muscle Shoes | James Dimmock/The New York Times
Rick Hall, 83, lançou um livro de memórias sobre seu trabalho em Muscle Shoes (Foto: James Dimmock/The New York Times)

Mesmo com seu legado musical de elite, Muscle Shoals, no Alabama, nunca recebeu o mesmo tipo de elogios que Detroit ou Memphis —até recentemente.

Nos anos 1960 e 1970, aquela pequena cidade à margem do rio Tennessee foi o local improvável de gravações históricas de soul, rock e country de inúmeros artistas —de Aretha Franklin e Wilson Pickett a Paul Simon e Rolling Stones.

Apesar de seu rico legado, Muscle Shoals teve pouca divulgação.

No entanto, um ressurgimento começou em 2013, com o aclamado documentário de Greg Camalier, “Muscle Shoals”. Desde então, surgiram um livro de memórias, “The Man From Muscle Shoals” [O homem de Muscle Shoals], de Rick Hall —o fundador dos estúdios de gravação Fame—, e o anúncio de que uma produtora pretende desenvolver uma série dramática de televisão sobre a legado musical da região.

Muscle Shoals não tem a ver só com música. A história é ainda mais notável porque alguns dos maiores cantores negros conhecidos viajaram ao chamado Sul Profundo, em uma época de tremenda tensão racial, para gravar com um produtor branco e uma banda de maioria branca. O grupo de músicos, conhecido como The Swampers, sobreviveu até mesmo a um racha em seu apogeu criativo.

No início, Hall ganhou um mentor em Sam Philips, nativo de Florence, cidade próxima no Alabama, que fundou a Sun Records, onde muitos dizem que nasceu o rock’n’roll. “Sam me dizia: ‘Rick, não vá a Nashville, porque eles vão comer sua alma vivo’. Eu queria ser como Sam”, disse ele.

O que ele realmente queria fazer era gravar música negra, o que não era uma pequena ambição para um branco no Alabama.

“Eu adorava aquele estilo e queria ser como eles”, disse Hall. Mas alguns artistas negros precisaram ser convencidos de que Muscle Shoals era o lugar certo para trabalhar. “Pickett relutou em vir ao Alabama”, recorda.

Hall lembra-se de ir a restaurantes locais para jantar com visitantes como Otis Redding. “Era perigoso, e passamos alguns maus momentos, mas era isso ou nada”, explicou.

O guitarrista dos Swampers, Jimmy Johnson, comentou que, embora os músicos de Muscle Shoals tenham crescido no sul, suas influências não vieram da música country, mas de Chuck Berry, Bo Diddley e Ray Charles. “Quando as pessoas perguntavam: ‘Por que vocês soam tão negros?’, era o maior elogio que poderiam nos fazer.”

Os resultados foram simplesmente revolucionários —uma enxurrada de obras-primas soul, na maioria lançadas pela Atlantic Records, que colocaram a produção da Fame em um nível semelhante ao da Motown e da Stax Records.

O filme “Muscle Shoals” provocou um grande aumento do turismo e de trabalho para os músicos locais.“De repente, após 50 anos, as pessoas souberam que toda aquela música tinha sido gravada aqui”, disse David Hood, o baixista dos Swampers.

Hoje, com a série de TV em gravação, o improvável legado de Muscle Shoals parece destinado a continuar. Johnson disse: “Tentamos fazer coisas que eram impossíveis e conseguimos o que queríamos”.

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