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Cidades renovam espaços com demolições

Casas demolidas na cidade de Baltimore; diminui população de cidades dos Estados Unidos que foram polos industriais | Gabriella Demczuk/The New York Times
Casas demolidas na cidade de Baltimore; diminui população de cidades dos Estados Unidos que foram polos industriais (Foto: Gabriella Demczuk/The New York Times)

O bairro onde Shivihah Smith vive com sua mãe e avó está desaparecendo. O quarteirão vizinho já sumiu. Doze casas geminadas num outro quarteirão próximo foram demolidas numa tarde do ano passado.

Na esquina da casa de Smith, algumas semanas atrás, duas casas danificadas em um incêndio desabaram. A prefeitura demoliu as duas e duas outras, deixando que catadores de lixo revistassem os escombros à procura de pedaços de metal e fios de cobre. "A prefeitura não quer casas velhas", lamentou Smith, 36. Para sua família, a demolição de quarteirões inteiros da cidade é motivo de angústia.

Mas, para Baltimore e muitas cidades do nordeste e meio-oeste dos EUA, que perderam parcelas consideráveis de seus moradores, a demolição vem sendo vista, cada vez mais, como caminho para a salvação. Não obstante os casos amplamente divulgados de jovens profissionais que abraçaram os centros antes decadentes de Nova York, Seattle e Los Angeles, para muitas cidades o planejamento urbano virou uma forma de destruição criativa.

"Não é o imóvel, propriamente dito, que tem valor, mas o terreno que ele ocupa", disse Sandra Pianalto, presidente e executiva-chefe do Federal Reserve Bank de Cleveland, Ohio. "Esse fato nos levou ao conceito contraintuitivo de que a melhor política para estabilizar bairros talvez não seja sempre a recuperação. Pode ser a demolição."

A destruição em grande escala não constitui novidade em Detroit, mas também está sendo feita em Baltimore, Filadélfia, Cleveland, Cincinnati, Buffalo e outras cidades, a um custo total que passa dos US$ 250 milhões.

Autoridades vêm demolindo dezenas de milhares de imóveis desocupados, muitos deles habitáveis, num esforço para estimular o crescimento, reduzir a criminalidade e aumentar a sustentabilidade ambiental.

Um estudo do Brookings Institution, de Washington, concluiu que entre 2000 e 2010 o número de imóveis residenciais desocupados em todo o país tinha aumentado em 4,5 milhões, ou 44%.

As dificuldades enfrentadas por cidades que foram centros manufatureiros no passado alteraram o planejamento urbano, tradicionalmente baseado no crescimento e na expansão.

Hoje o planejamento urbano também trata de padrões de desinvestimento, para ajudar a determinar quais bairros despovoados valem a pena ser salvos, quais quarteirões devem ser demolidos e reconstruídos e —com base na atividade econômica, opções de transporte, infraestrutura e densidade demográfica— quais os melhores lugares para os quais transferir pessoas. Em alguns casos, o planejamento prevê a conversão de espaços urbanos abandonados em áreas verdes.

Ao todo, mais da metade das 20 cidades dos EUA que eram as maiores do país em 1950 perdeu pelo menos um terço de sua população. Desde 2000, várias cidades perderam por volta de 10% de seus habitantes. Cleveland perdeu mais de 17%, e mais de 25% dos moradores de Detroit deixaram a cidade, cuja declaração de falência, neste ano, intensificou a ansiedade em outras cidades.

Os resultados desse encolhimento, também chamado de "right sizing" [redução ao bom tamanho], têm sido a compressão da base fiscal, o aumento da criminalidade e do desemprego, a compressão dos orçamentos e o abandono de bairros.

A questão é o que fazer com as áreas urbanas que viraram cidades-fantasmas e que, devido à suburbanização e desindustrialização contínuas, têm pouca probabilidade de serem repovoadas.

"No passado, as prefeituras analisavam os imóveis individualmente, determinavam que havia um problema, os demoliam e então rapidamente encontravam outra utilização para os terrenos", comentou Justin B. Hollander, professor de urbanismo na Universidade Tufts, nos arredores de Boston. "Hoje elas analisam o DNA da cidade inteira e concluem: ‘Há estruturas demais para a população que temos’."

Cleveland, que perdeu 80 mil habitantes nos últimos dez anos, caindo para 395 mil, gastou US$ 50 milhões nos últimos seis anos para demolir casas. A demolição custa US$ 10 mil por imóvel.

Em St. Louis, Missouri, que possui pelo menos 6.000 imóveis desocupados, há uma floresta decídua desabitada na área de 30 hectares antes ocupada por um conjunto habitacional, demolido pela prefeitura porque poucas pessoas viviam ali.

Filadélfia, que tem 40 mil terrenos baldios, está autorizando pessoas que vivem em bairros com densidade demográfica muito baixa a ocuparem o terreno ao lado do delas, que antes era ocupado pela casa de um vizinho.

Ao mesmo tempo em que as prefeituras derrubam milhares de imóveis vazios, Baltimore —cuja população caiu de 950 mil habitantes em 1950 para 621 mil hoje— e outras cidades continuam a buscar novos moradores.

A prefeita de Baltimore, Stephanie Rawlings-Blake, quer atrair 10 mil novas famílias para a cidade em dez anos. Casas geminadas de três andares, recém-reformadas, estão sendo vendidas pela prefeitura por US$ 100 mil.

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