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Cientistas rebatizam alimentos transgênicos

Arroz resistente a inundações melhorou produtividade de lavouras e hoje é cultivado por milhões de agricultores | John Seaton Callahan/Getty Images
Arroz resistente a inundações melhorou produtividade de lavouras e hoje é cultivado por milhões de agricultores (Foto: John Seaton Callahan/Getty Images)

O que há num nome?

Muito, se for “organismo transgênico”, termo que pode provocar imediata rejeição a muitos produtos.

Mas e se os cientistas usassem técnicas da biologia molecular para devolver às plantas genes que há muito tempo foram extirpados em cruzamentos seletivos? E se esse processo fosse chamado de “rewilding” (renaturalização)?

Um grupo da Universidade de Copenhague propôs esse nome para uma técnica em que os cientistas apanham um ou dois genes de uma variedade vegetal antiga e os fundem a espécies modernas para diversos fins, como o de promover maior resistência à seca.

“É algo que vale a pena ser debatido”, disse Michael Palmgren, fitologista da universidade dinamarquesa e coordenador do grupo, que conta com a participação de cientistas, advogados e especialistas em ética e é financiado pela Fundação Nacional de Pesquisas da Dinamarca.

A proposta foi publicada na revista “Trends in Plant Science”.

A melhor maneira de aperfeiçoar as plantas, dizem os cientistas, é com os “cruzamentos de precisão”, usando métodos modernos e bem conhecidos para a inserção e exclusão de genes nas células.

Segundo os pesquisadores, nos EUA e no Canadá, os alimentos não transgênicos não podem conter genes que não ocorreriam naturalmente. Assim, a adição de um gene de peixe a uma planta, por exemplo, é proibida, ao contrário da adição de um gene a partir de uma variedade antiga da mesma planta, usando o cruzamento de precisão.

Na Europa, no entanto, os métodos de engenharia genética é que são proibidos, mesmo que o gene adicionado seja da mesma espécie. Isso significa que alimentos “renaturalizados” poderiam ser rotulados como não transgênicos nos EUA, mas não na Europa.

Brise Tencer, da Fundação de Pesquisa da Pecuária Orgânica, em Santa Cruz (Califórnia), disse que duvida da aceitação desse método entre os adeptos da alimentação não transgênica.

“Eles usam um termo que soa maravilhoso, mas engenharia genética é engenharia genética”, disse. “Não é algo que os agricultores ou consumidores queiram.”

A ideia de restaurar genes perdidos não é nova, disse Julian Schroeder, pesquisador botânico na Universidade da Califórnia, em Davis. Porém, cientes da pecha associada à engenharia genética, os cientistas usaram métodos tradicionais no cruzamento de plantas modernas e antigas, até obterem o gene que desejavam para determinado cultivo.

Esse processo inevitavelmente traz outros genes junto aos desejados. Mas o processo mais antigo é “natural”, segundo Schroeder.

Em 2006, por exemplo, os cientistas redescobriram uma antiga variedade de arroz que, apesar de produzir pouco, era resistente a inundações. Após anos de cruzamentos, eles conseguiram cultivar pés de arroz com o antigo gene da resistência à inundação. Hoje, diz Schroeder, esse arroz é cultivado por mais de 4 milhões de agricultores no Sudeste Asiático.

Muitas das plantas cultivadas hoje por agricultores convencionais e orgânicos foram criadas com métodos imprecisos, segundo os cientistas.

Os pesquisadores promoviam mutações usando produtos químicos e radiação para alterar milhares de genes de uma só vez. Depois, procuravam entre as plantas resultantes aquelas com traços desejados. Apesar de essas plantas terem sido criadas com métodos não naturais, elas podem ser cultivadas com técnicas de agricultura orgânica.

Para Nina Fedoroff, pesquisadora botânica da Universidade Estadual da Pensilvânia, é absurdo uma planta ser considerada “natural” após sofrer mutações decorrentes de produtos químicos e radiação, mas não se um gene de uma variedade antiga da mesma planta for adicionado com métodos de biologia molecular .

No caso do arroz resistente à inundação, os pesquisadores se valeram da hibridização, não do cruzamento de precisão.

A razão para isso, segundo Schroeder, é simples: um labirinto de normas que regem os cultivos geneticamente modificados. Usando a hibridização, disse ele, “as primeiras variedades chegam às lavouras em poucos anos”. E se os pesquisadores tivessem usado o cruzamento de precisão para colocar esse gene no arroz? “Eles ainda estariam parados no processo regulatório.”

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