• Carregando...
Genevieve Bell, da Intel, lidera equipe que pesquisa como tornar a tecnologia mais amigável | Leah Nash para The New York Times
Genevieve Bell, da Intel, lidera equipe que pesquisa como tornar a tecnologia mais amigável| Foto: Leah Nash para The New York Times

A antropóloga Genevieve Bell se considera "apenas uma garota selvagem da Austrália". Mas, para a Intel, ela personifica algo maior: as aspirações da empresa de ser vista como algo além de uma mera fabricante de chips.

Bell ocupa o cargo de diretora de pesquisa de experiências do usuário nos Laboratórios Intel, o braço de pesquisas da empresa. Ela supervisiona cerca de cem cientistas sociais e projetistas que viajam pelo mundo observando como as pessoas usam a tecnologia. As descobertas da equipe ajudam a subsidiar o processo de desenvolvimento de produtos da empresa e são também frequentemente compartilhadas com fabricantes de laptops, montadoras de veículos e outras companhias que incorporam processadores Intel em seus artigos.

Alguns anos atrás, por exemplo, a equipe de Bell entrevistou na China pais que viam os computadores domésticos como algo que distraía os filhos das tarefas escolares. A Intel desenvolveu então o protótipo de um computador, mais tarde fabricado por um cliente da Intel, que possuía um código que os pais poderiam ativar para evitar que seus filhos brincassem com jogos eletrônicos durante o horário da lição de casa.

"Você precisa compreender as pessoas para construir a próxima geração da tecnologia", disse Bell.

A Intel foi surpreendentemente lenta para reconhecer o florescente mercado dos chips para smartphones. Na verdade, Bell e sua equipe, entre outros, haviam previsto logo no começo a tendência dos celulares, mas, na época, a Intel não deu prioridade ao produto. Os fabricantes de PCs ainda formam a maior base de clientes da Intel, respondendo por US$ 33 bilhões da sua receita de US$ 52,7 bilhões no ano passado.

Agora, em parte por causa dos esforços de Bell e de sua equipe, a Intel está tentando recuperar o atraso, avançando gradualmente em áreas como a dos aparelhos "vestíveis", que podem ser uma vitrine para seu novo e minúsculo chip de baixo consumo energético. Os futurólogos da equipe de Bell estão também desenvolvendo um robô pessoal customizável que usa os novos minichips.

Alguns anos atrás, Bell e sua colega Alexandra Zafiroglu, antropóloga da Intel, viajaram pelo mundo examinando o que havia dentro dos carros das pessoas e perguntando aos motoristas como eles usavam aqueles objetos. Embora os fabricantes de veículos já tenham incorporado sistemas de comando por voz aos seus modelos, com a ideia de reduzir a desatenção ao volante, a dupla concluiu que, quando os motoristas ficam entediados no trânsito, eles costumam pegar seus aparelhos pessoais portáteis.

No semestre passado, a Intel anunciou uma colaboração com a Jaguar Land Rover para desenvolver maneiras mais adequadas de fazer os consumidores sincronizarem seus aparelhos pessoais com seus carros. A Intel também tem uma iniciativa semelhante com a Toyota. O objetivo é tornar mais adequada a tecnologia incorporada aos veículos, suplantando assim o impulso do motorista de pegar seu smartphone.

Num esforço para tornar os laptops mais relevantes, o laboratório de Bell projetou um protótipo de software para um TaiChi —notebook de duas telas feito pela Asus, cliente da Intel. O programa permite que as pessoas postem fotos e mensagens de texto de até 140 caracteres nas telas externas do laptop. O objetivo era encorajar a comunicação em tempo real entre pessoas que estão num mesmo lugar na mesma hora. "Como seria ter tecnologia que celebrasse a presença, não a ausência?" disse Bell.

Mas, com tanta gente sendo agora mais atraída por dispositivos móveis, esse software pode nunca aparecer nos computadores portáteis dos consumidores. Ou pode, em vez disso, surgir em smartphones com duas telas. Recentemente, Bell vem refletindo sobre a possibilidade de criação de computadores que possam assumir vida própria.

Um número cada vez maior de objetos, como termostatos e semáforos, estão sendo equipados com chips e sensores capazes de coletar e transmitir informações sobre seus arredores. Bell vê esses objetos como precursores de dispositivos que se relacionarão com as pessoas.

O futurólogo Brian David Johnson está comandando um projeto para desenvolver um robô pessoal, chamado Jimmy, que se relacionaria com as pessoas na condição de indivíduo. Branco e curvilíneo, Jimmy é um sistema personalizável que chega à altura dos joelhos no qual os consumidores podem baixar aplicativos.

"Jimmy é uma plataforma computacional que pode andar por aí", explicou Johnson. "Ele tem poder computacional suficiente para perceber como está o seu humor e onde você está, enfim, ter uma compreensão baseada no relacionamento." Jimmy tem sua raiz na crença de Bell de que o futuro da computação está em dispositivos personalizados, focados na pessoa. Na realidade, a Intel planeja lançar o software neste semestre, de modo que as pessoas com acesso a impressoras 3-D possam criar seus próprios Jimmys.

Mas Bell é a primeira a dizer que não é nenhum oráculo da tecnologia. "Será que achamos que, daqui a dez anos, as pessoas ainda vão querer conversar umas com as outras? Sim. Elas ainda vão querer compartilhar fotos de gatos? Sim. Elas ainda vão querer contar piadas ruins? Sim. As pessoas vão querer estar com uma câmera? Provavelmente", conjectura. "Com o que isso vai se parecer?" Ela dá de ombros.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]