A notícia de que uma enfermeira com traje protetor completo foi contaminada pelo ebola levantou questões perturbadoras. O vírus teria evoluído para algum tipo de agente superpatogênico? Poderia em breve se transformar em algo ainda mais aterrorizante?
Biólogos evolucionistas em geral estão de acordo sobre as respostas a essas perguntas: não para a primeira; e provavelmente não para a segunda.
O vírus ebola que assola a África ocidental hoje não é fundamentalmente diferente dos tipos que provocaram os surtos anteriores, dizem. E é muito improvável que uma seleção natural dê ao vírus a capacidade de se espalhar mais facilmente, especialmente tornando-o transmissível pelo ar.
"Fiquei consternado com algumas especulações sem sentido que existem por aí", disse Edward Holmes, da Universidade de Sydney, na Austrália.
O vírus foi descoberto apenas em 1976. E só agora os cientistas começaram a responder algumas das questões mais importantes sobre o assunto.
No mês passado, por exemplo, Derek Taylor, da Universidade de Buffalo no Estado de Nova York, e seus colegas publicaram provas de que o vírus ebola é extremamente antigo, tendo surgido a partir da divisão de outras linhagens virais há pelo menos 20 milhões de anos. A pesquisa de Taylor sugere que, durante a maior parte daquele período, variantes do ebola infectaram roedores e outras espécies de mamíferos.
Em 1976, o vírus se espalhou entre seres humanos. E, de tempos em tempos, um novo surto aparece em diferentes partes da África Central. Cada um deles foi causado por um descendente da linhagem de 1976, de acordo com uma nova pesquisa realizada por Andrew Rambaut, da Universidade de Edimburgo.
Biólogos evolucionistas dizem que, embora o vírus ebola esteja em mutação à medida que se espalha, não há evidência de que isso seja a causa da grande dimensão do surto.
"É muito mais plausível que a diferença seja o fato de ele agora ter penetrado em uma população humana diferente", disse Rambaut. Enquanto a atual epidemia se espalhar, o vírus continuará em mutação.
Pardis Sabeti, geneticista da Universidade Harvard, disse que é vital acompanhar a evolução das mutações no ebola. De outro modo, uma vacina experimental poderia atacar uma versão anterior do vírus.
Seria um erro, alertou Holmes, imaginar que com uma única mutação o ebola poderia se tornar um agente patogênico transmissível pelo ar.
"O vírus está se saindo muito bem atualmente", disse Holmes. "Então teria que ser benéfico para o vírus dar esse grande salto."
A história antiga do ebola indica que podemos nos deparar com mais primos dele no futuro. Essa temível linhagem viral pode ter dado origem a muitos ramos evolutivos durante dezenas de milhões de anos, disse Holmes.