Lamborghinis, Porsches e Bentleys ocupam as garagens de mansões milionárias em Sentosa Cove, e iates lotam as 400 vagas da marina próxima. Mas os sinais de uma desaceleração estão à espreita. No W Residences, condomínio recém-inaugurado, menos da metade das unidades foi vendida.

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Cingapura se apresentou durante anos como o lugar ideal para os ricos da Ásia, e Sentosa Cove atraiu milionários chineses, malásios e indonésios. Mas o impulso por trás desse crescimento agora perdeu força.

Diante do latente descontentamento dos cingapurianos com o aumento dos custos de vida e moradia, o governo executou medidas de resfriamento. Um imposto de 18% sobre a venda de imóveis para estrangeiros reduziu o entusiasmo dos compradores. As alíquotas são quase igualmente altas para quem deseja se desfazer de casas e apartamentos no primeiro ano após a aquisição.

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“Até agora, Sentosa Cove foi a área mais atingida, porque o frenesi do mercado provavelmente foi mais ostensivo por lá”, disse Wee Siang Ng, diretor de pesquisas da empresa Maybank Kim Eng Securities. O valor das propriedades de primeira linha subiu 80% desde 2004, atingindo seu pico em 2013, segundo ele.

O dinheiro começou a entrar por volta de 2004, após a crise financeira asiática e a epidemia da Sars (síndrome respiratória aguda grave). O governo promoveu o país como um centro global para o setor de finanças e “private banking”, oferecendo incentivos fiscais e outras políticas para atrair empresas estrangeiras.

Na época, as autoridades abrandaram as regras para a compra de terrenos por estrangeiros e começaram a vender lotes em áreas aterradas de Sentosa, ao sul da ilha principal de Cingapura. Na orla, mansões de todos os formatos e estilos foram construídas. Uma casa foi erguida à imagem de uma tumba egípcia, com as estátuas de dois cães-faraós como guardiões. Outros têm telhados de palha de palmeira, evocando quiosques polinésios.

As obras prosseguiram durante anos, inabaláveis. “Chamamos aqui de a Monte Carlo da Ásia”, disse Stephane Fabregoul, do hotel W Singapore.

Outras áreas de Sentosa também estavam sendo urbanizadas. Em 2010, um cassino da rede Resorts World foi aberto na parte principal de Sentosa. Um parque temático Universal Studios também foi construído com a intenção de atrair turistas.

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Por toda Cingapura, o mercado imobiliário crescia. Os juros eram baixos, levando os compradores a contraírem mais dívidas. A confiança estava elevada. Bancos construíam suas sedes regionais aqui, e empregos eram criados. A silhueta de Cingapura mudou drasticamente. A nova área financeira cresceu, e estima-se que um só edifício, o Marina Bay Sands, com três torres e um cassino adornado por um navio no topo, tenha custado US$ 5,4 bilhões.

Mas o governo foi incapaz de conter o aquecimento desse mercado, e então a crescente presença de estrangeiros e a alta no custo habitacional se tornaram motivos de insatisfação.

Nas eleições de 2011, o Partido Ação Popular, que governa Cingapura desde que o país se tornou independente da Malásia, em 1965, venceu pela menor margem da sua história. “Houve uma preocupação, expressa na última eleição, de que a participação dos estrangeiros no mercado imobiliário estaria contribuindo com a alta dos preços”, disse Christopher Fossick, da consultoria imobiliária Jones Lang LaSalle.

Para reduzir a demanda, uma taxa adicional passou a ser cobrada dos estrangeiros que adquirissem imóveis. Além disso, quem quisesse revender uma propriedade menos de um ano depois de comprá-la precisaria pagar um imposto de 16% sobre o valor de venda. A medida mais eficaz do governo foi impor um teto aos financiamentos imobiliários em relação à renda do comprador.

Desde então, a venda de imóveis caiu drasticamente em Cingapura. Em 2014, o número de imóveis vendidos foi equivalente a metade da cifra do ano anterior.

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As poucas vendas recentes indicam um quadro sombrio. Em um prédio chamado Turquoise, uma unidade foi vendida em julho passado pelo equivalente a US$ 2,9 milhões. Dados do governo mostraram que o vendedor havia adquirido o apartamento em 2007 por US$ 5,1 milhões.