Quando, no ano passado, havia corpos pelas ruas e os doentes acabavam morrendo em frente às clínicas de tratamento, o presidente Obama ordenou a maior intervenção americana até hoje em uma crise de saúde global, na esperança de conter a pior epidemia de ebola da história.

CARREGANDO :)

Porém, depois de gastarem centenas de milhões de dólares e enviarem quase três mil soldados para construir centros de tratamento, os Estados Unidos acabaram criando instalações que, em grande parte, estão vazias: apenas 28 pacientes de ebola foram tratados nas 11 unidades de tratamento construídas pelos militares dos EUA, dizem autoridades americanas.

“Minha tarefa era convencer as organizações internacionais, ‘Não precisamos de mais UTEs’”, disse o Dr. Hans Rosling, sueco especialista em Saúde Pública, conselheiro do ministério da Saúde da Libéria, referindo-se às unidades de tratamento de ebola.

Publicidade

“E avisei a eles, ‘a única coisa que teremos é uma UTE vazia. Não faça isso’.”

A resposta americana foi ultrapassada pela doença veloz e imprevisível. Enfrentando a crítica que dizia que sua reação à epidemia devastadora havia sido lenta, Obama anunciou seu plano em meados de setembro, com foco na Libéria. Mas, antes mesmo que o primeiro centro de tratamento construído pelos militares americanos fosse aberto, o número de casos de ebola havia caído drasticamente.

A ênfase na construção dos centros acabou tendo muito menos impacto do que as medidas ágeis e baratas tomadas pelos moradores para brecar a epidemia, dizem as autoridades.

A Libéria poderia ser declarada livre do ebola em um mês, mas com autoridades da saúde avisando que é apenas uma questão de tempo até que outra epidemia apareça nessa região, elas aprendem lições importantes com os sucessos e as deficiências da resposta de líderes internacionais e da África Ocidental.

Se os americanos e outros doadores tivessem sido mais flexíveis, argumentam críticos e algumas autoridades, o dinheiro poderia ter sido colocado na reconstrução do sistema de saúde da Libéria, que está quebrado, ou para apoiar os esforços das comunidades locais. Os Estados Unidos gastaram US$ 1,4 bilhão na sua missão contra o ebola na África Ocidental. O custo para o deslocamento dos militares foi de US$ 360 milhões, sem contar as despesas da construção, do pessoal e do funcionamento dos centros montados.

Publicidade

Os Estados Unidos também apoiaram uma ampla gama de esforços, como a construção de um novo cemitério e o aumento das equipes encarregadas de recolher os cadáveres. No entanto, grande parte do auxílio, cerca de 90 por cento, veio depois que o número de casos de ebola na Libéria começou a cair.

Dos 11 centros construídos pelos militares americanos, todos menos um foram abertos depois de 22 de dezembro. Nessa altura, os casos de ebola haviam caído muito, a ponto de que autoridades da Libéria e estrangeiras já discutiam o fechamento de unidades de tratamento construídas por outras organizações.

Autoridades americanas disseram que a construção dos centros fazia sentido, dada a trajetória da epidemia, quando a decisão foi tomada. O violento surto na Libéria atingiu seu pico apenas uma semana após o anúncio de Obama. Estimativas aterradoras sugeriam que até 1,4 milhão de pessoas no país e em Serra Leoa poderiam ser infectadas se o mundo não agisse imediatamente.

Jeremy Konyndyk, que chefiou a resposta ao ebola pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, responsável pela campanha americana, disse que não havia nenhum “modelo” para enfrentar uma epidemia dessa escala, como há para desastres convencionais como fome e terremotos.

A epidemia desafiou as previsões sinistras. A Libéria teve 9.862 infecções totais e a maior parte das mortes registradas — 4.408. Em todo o mundo, mais de 25.500 casos e mais de 10.500 mortes foram registrados, e as infecções continuam na Guiné e em Serra Leoa.

Publicidade

Antes que as tropas terminassem sua missão aqui há algumas semanas, o major-general Gary J. Volesky observou que os soldados americanos treinaram 1.500 trabalhadores de saúde da Libéria para operar os centros, transferindo seus conhecimentos que podem ser úteis mesmo após a epidemia. “Algumas dessas UTEs podem nunca ter visto um paciente de ebola, mas havia trabalhadores de saúde nas comunidades que entendiam a doença”, ele disse.

No bairro onde o surto em Monróvia começou em junho, uma força-tarefa de 200 voluntários foi formada em julho, e os residentes compraram cloro e baldes para distribuir por áreas públicas e doaram dois veículos para que voluntários pudessem monitorar os doentes.

Em outro bairro, moradores coletaram US$2 de cada casa para comprar botas de borracha e megafones, para que voluntários pudessem combater rumores de que o ebola era uma farsa, e implorar às pessoas para que não escondessem os doentes e os mortos.

“Não queríamos ver nosso povo sofrendo e ninguém aparecia” para ajudar, disse Amos Marjohn, de 37 anos, líder da força-tarefa em um bairro. “Foi preciso uma resposta e uma mobilização rápida.”