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Imagem de alta resolução de Plutão, enviada pela sonda New Horizons da NASA, antes do recente sobrevoo | NASA / JHUAPL / SWRI / HANDOUT/EPA
Imagem de alta resolução de Plutão, enviada pela sonda New Horizons da NASA, antes do recente sobrevoo| Foto: NASA / JHUAPL / SWRI / HANDOUT/EPA

Quando era garoto, eu queria cavalgar sobre as colinas e montanhas do Oeste norte-americano, por onde passávamos nas viagens de férias, para ver o que havia do outro lado.

Imaginava que além delas, haveria novas colinas e montanhas, novas fronteiras. Sei que não sou o único. O ser humano busca novos territórios desde que saiu da África. Durante grande parte da minha vida, as colinas que atraíram alguns de nós são outros mundos: as terras sob o Sol, mas além do nosso céu. E nossos cavalos são robôs como nomes como Mariner, Viking, Voyager.

Acabamos de concluir a etapa no último grande outeiro: depois de uma jornada de 9,5 anos e 4,8 bilhões de quilômetros, a sonda New Horizons sobrevoou Plutão, que já foi o nono planeta – e o mais distante –, o último dos mundos conhecidos a ser explorado. É o início do fim de uma fase da busca humana: a parte do sair do berço e olhar ao redor já acabou.

Além das colinas há sempre novas colinas; assim, a New Horizons deve prosseguir e passar pelos icebergs cósmicos do Cinturão de Kuiper, onde restos dos primórdios do sistema solar foram preservados, em temperaturas inconcebivelmente baixas, espalhados por uma faixa de até oito bilhões de quilômetros do Sol. Se tudo correr bem, naves como a Dawn, no momento orbitando ao redor de Ceres, e Rosetta, sobre o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, continuarão atuando como coadjuvantes para personagens do Sistema Solar que, em como muitos filmes, podem acabar se tornando os grandes destaques.

Mas a verdade é que o inventário de planetas – contando Plutão ou não – já está encerrado. Ninguém que esteja vivo hoje verá um planeta novo de perto pela primeira vez novamente. Como bem descreveu Alan Stern, líder da missão da New Horizons:

“Esse foi o último show de imagens”.

Nunca sonhei, quando os astronautas do Apollo partiram da Lua, em 1972, que chegaria o dia em que, de toda a humanidade viva, ninguém tivesse ido à Lua, como é o caso agora. Não é desolador?

Dá para dizer que chegamos ao mar, aquela extensão gelada e escura entre nós e as estrelas; quem pode dizer se um dia chegaremos a cruzá-la?

O que também não significa que descobertas maravilhosas não possam ser feitas. O primeiro reconhecimento do Sistema Solar resultou em mistérios que levarão mais de uma vida para serem solucionados. Sondas continuarão aterrissando em Marte de vez em quando. A NASA, Agência Espacial Norte-Americana, agora tem planos de enviar uma nave a Europa, uma das luas de Júpiter, que tem um oceano de água salgada sob o gelo, e pode chegar a levar uma sonda para conferir os gêiseres da lua saturnina de Encélado. A minha ideia favorita é a de mandar um barco que flutue nos mares e lagos de metano de Titã, a maior das luas de Saturno. E a descoberta de um micróbio em qualquer lugar lá fora seria o maior evento científico de todos os tempos.

Tudo começou quando a Mariner 2 passou por Vênus, em 1962. Desde então surgiram vários mitos e esperanças, a começar da Mariner 4, que sobrevoou Marte três anos depois e enviou imagens de um mundo cheio de crateras, morto. Adeus, sonhos de encontrar canais e civilizações antigas; olá, peneira para vasculhar as areias vermelhas em busca de micróbios ou qualquer vestígio orgânico.

Entrei para esse jogo quando, depois de descobrir o sucesso tardio como redator da revista Discover, montei nos dois cavalos chamados Voyager, em 1980, para a primeira de duas voltas por Saturno. Mal pude acreditar na minha sorte.

Na sala de imprensa do Laboratório de Propulsão a Jato, nós, repórteres, pudemos ver as imagens da nave voltando do espaço ao mesmo tempo em que os cientistas, em seu próprio prédio, a alguns metros dali. Estávamos testemunhando um território novo, coisas que ninguém tinha visto antes, todos ao mesmo tempo. Era como estar no bico de uma nave espacial.

Depois, a Voyager continuou avançando, e passou por Saturno, Urano e Netuno, para mostrar como os detalhes do universo material podem ser diversos e imprevisíveis.

Cada planeta era uma surpresa. A ideia de ter algo, qualquer coisa que fosse, se movendo a tamanha distância da luz e do calor do Sol, às margens do Sistema Solar, para mim parecia um milagre.

E ainda é assim.

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