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O banco Monte dei Paschi, fundado em 1472, sobreviveu a pragas e guerras, mas a ganância financeira foi sua perdição | Gianni Cipriano/The New York Times
O banco Monte dei Paschi, fundado em 1472, sobreviveu a pragas e guerras, mas a ganância financeira foi sua perdição| Foto: Gianni Cipriano/The New York Times

Jardins de infância e o serviço de ambulância tiveram de encontrar novas fontes de financiamento. Uma empresa de biotecnologia decretou falência. O time de futebol da cidade foi rebaixado depois de dar calote nos funcionários. Mesmo a Palio di Siena, famosa corrida de cavalos, foi afetada: agora os participantes precisam pagar os próprios uniformes.

Siena, que fica no centro da Toscana, tenta tapar o buraco financeiro causado pelo quase colapso do Monte dei Paschi di Siena, o banco mais antigo do mundo.

A fundação que detinha o banco financiava uma série de serviços sociais e eventos culturais em Siena e região, injetando mais de 150 milhões de euros por ano na economia local. O banco era o principal empregador do setor privado na cidade. Agora, Siena tenta mostrar que é capaz de criar empregos para atrair investimentos estrangeiros.

Desde sua fundação, em 1472, o Monte dei Paschi e sua fortuna foram centrais para a vida de Siena. O banco resistiu a pragas, pânicos e guerras. Sua sede ainda se encontra em uma fortaleza medieval. No entanto, a ganância financeira moderna comprometeu essa instituição multicentenária.

Em 2008, o Monte dei Paschi comprou um de seus concorrentes e se tornou o terceiro maior banco da Itália. Os 9 bilhões de euros investidos foram considerados altos demais, mesmo naquela época, e os gestores do banco iniciaram diversas transações com derivativos que, mais adiante, resultaram em perdas enormes.

Em meados de junho, o Monte dei Paschi finalizou a venda de ações avaliadas em 3 bilhões de dólares e se capitalizou novamente. No entanto, o banco está afogado em dívidas que não foram pagas e foi colocado à venda, o que significa que sua sede pode sair da cidade. Fabrizio Viola, executivo-chefe do banco, afirmou que o Monte dei Paschi continuará a ser o banco de Siena, mas já não pode mais ser o mecenas da cidade.

“Havia muito dinheiro. Tudo era fácil demais”, afirmou Marcello Clarich, presidente da Fundação Monte dei Paschi. “Agora, nós voltamos à normalidade.” Com um centro medieval grande e bem preservado, Siena enche de turistas no verão, mas costuma ficar vazia no resto do ano.

Muito trabalho tem sido feito para melhorar a rodovia que liga Siena a Florença, e as autoridades realizaram eventos para atrair turistas esportivos, aumentando em 10% o volume de visitantes no ano passado. Porém, o turismo não é capaz de substituir os altos salários pagos pelo Monte dei Paschi.

Para preencher essa lacuna, as autoridades estão tentando tornar essa região da Toscana em um centro internacional de pesquisa médica. O laboratório britânico GlaxoSmithKline conta com uma grande filial em Siena. A iniciativa sofreu um duro golpe quando a Siena Biotech decretou falência em abril. Apesar de ter gasto 14 anos e 160 milhões de euros na busca por tratamentos para as doenças de Alzheimer e Huntington, a empresa não conseguiu produzir medicamentos vendáveis. A falência da Siena Biotech, que dependia exclusivamente da Fundação Monte dei Paschi, é vista como um alerta.

Agora, as autoridades estão em busca de uma nova estratégia.

A Toscana Life Sciences funciona como uma incubadora para 16 start-ups que desenvolvem novas tecnologias e novos produtos. Ela está tentando reunir as pequenas empresas farmacêuticas espalhadas pela região para criar um centro capaz de se retroalimentar, tirando proveito da proximidade com a GlaxoSmithKline e com a Eli Lilly, que conta com uma fábrica de medicamentos nos arredores de Florença.

A organização apoia pesquisas sobre a qualidade terapêutica de ingredientes encontrados em produtos locais, como o azeite de oliva e o vinho tinto, entre outras atividades. Além disso, ela também trabalha em parceria com as universidades da região.

Contudo, a iniciativa também exige que o governo repense seu papel. Os investidores não virão à Toscana “só porque ela é mais bonita e o vinho é melhor”, afirmou Andrea Paolini, diretor-geral da Toscana Life Sciences.

Os empreendedores da região, assim como em boa parte da Itália, encaram uma montanha de burocracia. Por isso, as autoridades estão tentando simplificar as coisas.

“Isso é fundamental para as empresas”, afirmou Luigi Marroni, ministro regional da saúde. “Se demora seis meses para conseguir uma aprovação na Toscana e só dois em Nova Jersey, os empreendedores vão para Nova Jersey”.

Em janeiro, o Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, organização sem fins lucrativos que fornece tratamentos médicos, decidiu abrir um centro para diagnosticar doenças no fígado e no trato digestivo em Chianciano Terme, cidade próxima a Siena conhecida por suas águas. As autoridades de Siena ajudaram a acelerar o processo de aprovação, e o centro abriu as portas em junho.

“Nossa impressão é a de que o governo local realmente está se esforçando”, afirmou Bruno Gridelli, da UPMC International. “Eles entendem que, se querem melhorar a economia, especialmente depois dos problemas com o Monte dei Paschi, precisam atrair investimentos.”

As autoridades querem centralizar procedimentos como as concessões para a construção civil. Bruno Valentini, prefeito de Siena, afirmou que “a única forma de salvar a cidade é renová-la”.

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