Além de ações e imóveis, os ricos estão apostando em uma nova forma de segurança econômica: passaportes.
Investidores abastados do mundo todo agora estão adquirindo visto ou cidadania de outros países para se protegerem de governos e economias voláteis, na maioria milionários e/ou bilionários de nações emergentes como China, Rússia e do Oriente Médio. Os destinos geralmente são a Europa, os EUA, o Canadá e a Austrália. Os especialistas calculam que esses "cidadãos econômicos" estão gastando US$2 bilhões/ano no segundo ou terceiro passaporte e/ou visto. A procura é tanta que os governos já começaram o que mais parece uma corrida armamentista por vistos VIP, oferecendo residência quase instantânea e passaportes por preços exorbitantes. No último ano, Austrália, Canadá e diversas nações europeias aumentaram os preços ou investimentos necessários para os chamados "vistos de ouro", criando uma via inédita e ágil para a obtenção de cidadania.
Os críticos, porém, afirmam que esses programas têm potencial para oferecer um porto seguro àqueles que fizeram fortuna através de atividades ilegais; outros acusam esses governos de venderem cidadania aos ricos. "Esses programas oferecem benefícios enormes aos oligarcas russos e aos chineses que querem se aproveitar da estabilidade, do excelente nível de educação e dos mercados de capitais sólidos, mas a questão é: o que os outros ganham com isso?", questiona David Metcalf, presidente do Comitê Consultivo de Imigração do governo britânico. As críticas aumentam, mas os governos só pensam em faturar. Em janeiro, Malta, uma nação de 425 mil pessoas, começou a vender cidadania por uma taxa de 650 mil euros (mais de US$800 mil), sem exigência de residência e uma vez que o país faz parte da União Europeia, quem comprar o passaporte maltês pode se estabelecer em qualquer um dos 28 membros de bloco.
Depois que o plano começou a gerar protestos, as autoridades passaram a fazer reivindicações, incluindo o investimento de pelo menos 350 mil euros em imóveis e a compra de 150 mil euros de papéis do governo. Nos seis primeiros meses, mais de 200 investidores se prontificaram, rendendo US$200 milhões para os cofres públicos.
Recentemente a Austrália anunciou planos de criar o visto para Investidores Premium, mas já existe a versão Investidor Significativo, que oferece residência permanente após quatro anos em troca da aplicação de 5 milhões AUD (US$4,15 milhões). O novo programa garantirá residência em doze meses a quem empatar 15 milhões AUD em operações.
Consultores, advogados e assessores afirmam que os vistos de ouro oferecerão muitos benefícios ao país anfitrião, como conhecimento especializado e investimento, mas quem é contra a medida alega que as benesses serão anuladas pela inevitável subida dos preços de imóveis e serviços. "Uma vez que a maioria dos investimentos é revertida em papéis do governo que pagam juros, estamos essencialmente pagando aos oligarcas para se estabelecerem no país", dispara Metcalf.
No Reino Unido, um programa semelhante oferece residência por dois milhões de libras (US$3,14 milhões) e o candidato tem direito de "permanecer por tempo indeterminado" após cinco anos, mas o governo já criou opções mais ágeis para aqueles que investem cinco milhões de libras (a espera mínima é de três anos) e dez milhões (a espera cai para dois anos).
Para Metcalf os vistos, se fossem para serem vendidos, deveriam ser oferecidos através de leilões formais, com a renda destinada a programas educacionais.
"Vamos ver qual será o teto. As pessoas reclamam dizendo que estamos vendendo cidadania; pior que isso, estamos vendendo acordos e no momento está praticamente saindo de graça."