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Combustíveis fósseis resistem

Como os preços do carvão estão em baixa, o índice de carvão da Dow Jones caiu 86 por cento desde 2011. Uma usina em Ohio, Estados Unidos | Greg Sailor/ The New York Times
Como os preços do carvão estão em baixa, o índice de carvão da Dow Jones caiu 86 por cento desde 2011. Uma usina em Ohio, Estados Unidos (Foto: Greg Sailor/ The New York Times)

Este mês, a Noruega se tornou um improvável líder de um movimento social em ascensão: persuadir investidores a vender suas ações em empresas de combustíveis fósseis.

No caso da Noruega, seu fundo de pensão de 890 bilhões de dólares – o maior fundo soberano do mundo – vai começar a se desfazer de suas participações em empresas de carvão. A medida deu um aval poderoso a uma tática que, dizem seus apoiadores, tem o potencial de reduzir as emissões de carbono.

O movimento de parar de investir em combustíveis fósseis, que começou no campus da Faculdade Swarthmore, na Pensilvânia, em 2011, ganhou força em apenas quatro anos. O AXA, um grupo de seguros francês, anunciou a venda de 560 milhões de dólares em investimentos em carvão. A família Rockefeller avisou que seu braço filantrópico vai se livrar dos investimentos em combustíveis fósseis. E os fundos de doações de diversas universidades têm deixado de lado as ações de empresas de carvão.

“Houve um ponto de inversão nos últimos seis meses”, conta Ben Caldecott, da Universidade Oxford. Os preços do carvão estão em baixa. O índice de carvão do Dow Jones caiu 86 por cento desde 2011.

A lógica da campanha de desinvestimento é que diminuir o apoio dos mercados criará uma dificuldade financeira que, no final, levará os produtores de combustíveis fósseis a buscar mudanças. O impacto real da campanha é a vergonha que ela causa.

Em 2013, Caldecott e outros especialistas de Oxford examinaram movimentos anteriores de desinvestimento – como os contra o apartheid na África do Sul e os contra as empresas de tabaco. O estudo concluiu que mesmo que todos os fundos públicos de pensão e os fundos de doação das universidades vendessem suas ações de combustíveis fósseis, o efeito seria insignificante.

Isso ocorre principalmente porque a maior parte das ações das companhias de energia é de investidores institucionais, como BlackRock e Fidelity, cujos administradores são pouco suscetíveis a usar seu portfólio em favor de causas morais ou sociais.

“O desinvestimento por si só não está aqui nem ali”, diz Atif Ansar, um dos autores do estudo e professor da Escola de Negócios Saïd, de Oxford. “Sozinho, não vai causar nenhum impacto real.”

No caso do carvão, as ações estão em queda porque a mineração de xisto e o gás natural barato diminuíram a demanda pelo minério.

Mas isso não significa que as campanhas de desinvestimento não tenham consequências. De novo, há o fator vergonha.

Os críticos, no entanto, argumentam que o prejuízo para as reputações das empresas de petróleo e carvão não ajudam a diminuir a dependência de combustíveis fósseis.

“Eu apoio muito políticas agressivas do clima”, afirma Robert Stavins da Escola de Governo Kennedy, de Harvard. “Mas a mensagem do movimento de desinvestimento é fundamentalmente mal conduzida.”

Ele acha que o problema é uma economia que continua dependente da produção e do consumo de combustíveis fósseis. Apesar de a produção de energia limpa estar crescendo, as economias ocidentais estariam em um impasse amanhã sem os combustíveis fósseis. E o movimento de desinvestimento foca nas empresas ocidentais, enquanto a Índia e a China continuam a mineração e a queima de imensas quantidade de carvão. A Noruega, hoje o país líder do movimento, acumulou seu gigantesco fundo soberano extraindo petróleo e gás do Mar do Norte.

“O desinvestimento atrapalha ações mais significativas”, explica Frank Wolak, da Universidade Stanford. “Não vai ajudar a diminuir as emissões globais de gases do efeito estufa. Não vai impedir que essas empresas levantem capital.”

Um uso mais efetivo da energia dos ativistas, dizem Wolak e Stavins, seria trabalhar para que houvesse uma cobrança pelas emissões de carbono, por meio de uma taxa de carbono ou de um sistema de limitações e comércio.

“Precisamos focar em ações que farão diferença de verdade”, afirma Stavins. “E não em ações que parecem boas, mas têm pouco impacto no mundo real.”

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