A comédia é usada há muito tempo para atenuar o medo e o preconceito. Por isso, comediantes muçulmanos usaram recentemente o humor para contra-atacar a islamofobia nos Estados Unidos.
O Muslim Funny Fest [Festival de Humor Muçulmano] aconteceu de 21 a 23 de julho em Nova York. Segundo os organizadores, foi o primeiro evento do gênero realizado no país.
Dean Obeidallah, que apresenta um programa semanal de rádio na Sirius XM e escreve uma coluna para “The Daily Beast”, organizou o festival de três dias com Maysoon Zayid, conhecida por sua popular palestra TED “I Got 99 Problems... Palsy Is Just One”.
Os dois ficaram amigos no início dos anos 2000. “Ela era a única comediante árabe que eu conhecia além de mim”, disse ele.
Em 2003, eles iniciaram o Festival de Comédia Árabe-Americano em Nova York para exibir comediantes árabes e se contrapor à hostilidade depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro. O evento, em sua 12a edição, acontecerá em novembro.
Nos últimos anos, porém, eles começaram a sentir que também a religião os diferenciava. Por isso, decidiram fazer um evento separado com comediantes muçulmanos de diversas origens étnicas. “Só começamos a fazer comédia étnica e comédia muçulmana quando sentimos que nossa comunidade estava sitiada e que não éramos tratados nos palcos como iguais”, disse Zayid.
No festival não foram servidas bebidas alcoólicas. “Achei que seria bom fazer uma noite sem álcool, para que pessoas bem mais conservadoras que eu ainda se sentissem à vontade para se expor.”
A religião é tema de piadas há décadas, e os organizadores dizem que o festival não poderia ser diferente. “Não estamos censurando ninguém”, disse Zayid. “Os comediantes podem falar sobre o que quiserem. Não vamos dizer: ‘Oh, vocês não podem falar que adoram sanduíches de bacon’.”
Os comediantes muçulmanos dizem que ainda lutam para serem aceitos pela corrente dominante.
Foi esse sentimento, segundo Negin Farsad, que inspirou o documentário “The Muslims Are Coming!”, que seguiu Farsad, Obeidallah e outros comediantes muçulmanos em turnê pelos Estados Unidos.
O filme mistura cenas inventadas —como a da campanha “Abrace um Muçulmano”— com iniciativas para discutir narrativas muito repetidas, como a ideia de que os muçulmanos querem levar a sharia (lei islâmica) aos EUA.
Farsad e seu estúdio abriram um processo judicial contra o metrô de Nova York após a empresa se recusar a publicar anúncios do documentário no ano passado. “Acho que deveríamos poder contar nossa história, e nossa história é que os muçulmanos são hilários”, disse Farsad.
Obeidallah disse que a hostilidade contra o islã é instigada quando organizações terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico dominam o noticiário, enquanto a maioria dos americanos não conhece muçulmanos que poderiam passar uma imagem diferente. Ele começa seu programa de rádio dizendo ao público: “Eu quero ser seu amigo muçulmano”.
“A realidade é que eu e pessoas como Maysoon e Negin jamais seremos acusados de ser maus”, disse. “Elas dirão: ‘Você é um dos bons’, mas como se fôssemos a exceção, e o EI fosse a norma. Mas eles são a exceção. Nós somos a corrente dominante do islamismo.”