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Diário de Baan Klang

Comércio de carne canina e a paixão pelos cães

Um homem em Baan Klang diz que só os cachorros bravos, “que mordem as pessoas e matam as galinhas” são mortos. Cachorro de estimação em um quintal | Aaron Joel Santos para The New York Times
Um homem em Baan Klang diz que só os cachorros bravos, “que mordem as pessoas e matam as galinhas” são mortos. Cachorro de estimação em um quintal (Foto: Aaron Joel Santos para The New York Times)

A comunidade consumidora de carne de cachorro daqui, uma pequena minoria de agricultores e boias-frias, há tempos sabe que seus hábitos culinários revoltam muita gente em outras regiões do país.

Hoje em dia, porém, já se sente ameaçada.

O governo militar, que tomou o poder de um governo eleito, em maio, está elaborando uma lei para proibir o comércio de carne canina – decisão que, segundo os defensores dos direitos animais, seria uma forma de melhorar sua imagem perante o mundo.

A polícia nacional começou a repressão há dois anos, prendendo os envolvidos no negócio que não têm licença para abate nem transporte dos animais.

Além disso, montou operações-surpresa nas florestas onde os cães são abatidos e prenderam o que descrevem como "chefões do setor", que exportam caminhões lotados de animais para o Vietnã e a China, onde o consumo da carne canina é comum.

Entre os 70 milhões de habitantes da Tailândia, o número de amantes de cachorros é muito maior que o de consumidores de sua carne – e os moradores desse vilarejo pitoresco dizem estar de ambos os lados.

"A gente come só cachorro bravo, aqueles que mordem as pessoas e matam as galinhas", afirma Praprut Thanthongdee, um produtor de arroz de 45 anos, acariciando seu cão de estimação, Money. O consumo de carne canina se resume a bolsões isolados, principalmente na região nordeste.

A mulher de Praprut, Jantima Thathongdee, foi presa em julho e condenada a dois anos, com direito a sursis, por criar uma pequena feira de comércio de carne de cachorro.

E também foi multada em US$150, quantia enorme para uma família que possui três búfalos e alguns hectares de arrozais. "A carne de cachorro é uma delícia – é que nem a de porco, mas sem a gordura. Não dizem que esse país oferece liberdade? Pois eu deveria ser livre para comer o que quisesse", reclama Praprut.

Perto de Baan Klang, no vilarejo de Tha Era, camelôs vendem carne defumada de cachorro abertamente no acostamento da estrada.

O grupo ativista Soi Dog, fundado por holandeses e ingleses que moram na Tailândia, quer castrar todos os cães de rua.

"É uma atividade horrenda e cruel do início ao fim. Os animais ficam confinados em gaiolas e não é raro que, ainda vivos, sejam jogados nos panelões de água fervente", conta John Dalley, um dos integrantes do grupo.

Já os abatedores dizem que os animais são mortos da maneira mais humana possível.

Um deles permitiu que um fotógrafo visitante testemunhasse o abate de um dos cães, que recebeu um golpe na cabeça e, logo em seguida, foi desmembrado. A morte pareceu ter ocorrido em questão de segundos.

O homem, que se recusou a dar o nome por considerar o momento atual muito "perigoso", afirma que só mata cães problemáticos ou indesejados.

Já Kawai Thanthongdee, de 66 anos, que confessa consumir carne canina desde a juventude, diz: "O cachorro é o melhor amigo do homem, claro, mas alguns deles merecem ser mortos."

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