Muitos congoleses veem a proposta do presidente Joseph Kabila de aumentar de 11 para 26 o número de províncias do país como uma manobra para adiar a próxima eleição presidencial e permitir que ele “deslize”, como se diz por aqui, para um terceiro mandato extraoficial.
“Já sabemos que são manobras políticas”, disse Theo Balsomi, que está desempregado apesar de ter formação universitária, enquanto se acotovelava com outros para espiar os jornais no bulevar Lumumba.
“Conhecendo a realidade do nosso país, já vivemos muitos regimes. Não permitiremos que Kabila deslize nem por um segundo. Toda a população irá se opor a isso.”
A subdivisão das províncias, proposta inicialmente em 2006, permaneceu dormente até que o presidente a ressuscitou, em março. As novas províncias já foram batizadas, mas ainda não houve eleição para governador e outros cargos.
Antes de votar para presidente em 2016, a República Democrática do Congo deve passar por uma série de eleições locais e provinciais. Prefeitos, chefes de aldeia e vereadores são nomeados, enquanto deputados e governadores provinciais são eleitos por voto direto.
Quanto mais tempo esse processo leva, mais provável se torna o adiamento da corrida presidencial.
De acordo com a Constituição do Congo, o presidente só pode cumprir dois mandatos.
No entanto, os percalços no lotado calendário eleitoral, que já está meses atrasado, alimentam temores de que a eleição presidencial seja adiada, permitindo que Kabila permaneça no poder por meses ou mesmo anos a mais.
Kabila, que raramente fala em público, ainda não disse explicitamente que deixará o cargo em 2016.
Questionado sobre o repentino ímpeto de dividir o país em 26 províncias, o ministro das Comunicações, Lambert Mende, disse que o presidente “não deveria deixar o cargo e não deve terminar o seu segundo mandato sem oferecer o que foi decidido em 2006”.
Essa não é a primeira vez neste ano que o presidente é acusado de tentar alterar o calendário eleitoral para permanecer no cargo.
Em janeiro, os legisladores começaram a debater um projeto de lei apresentado pelo governo que exigia a realização de um censo antes da eleição presidencial de 2016.
Especialistas dizem que esse processo pode levar anos, devido à falta de infraestrutura. O presidente permaneceria no poder durante o período do censo.
Milhares de pessoas foram às ruas em todo o país para protestar contra a ideia. Pelo menos 36 foram mortas pelas forças de segurança antes de o governo recuar, alterando o projeto para permitir que a eleição ocorra sem o censo.
“O povo congolês diz: com chuva ou com neve, haverá mudança na liderança em 2016”, disse Vital Kamerhe, líder oposicionista.
Colaborou Steve Wembi
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