Amy Cappellazzo entrou no mundo da arte de Nova York recentemente, quando deixou seu poderoso cargo de presidente do departamento de arte do pós-guerra e contemporânea da Christie’s para se tornar uma consultora particular. Em pouco tempo, ela estava intermediando vendas como a de um quadro de Rothko por US$ 82 milhões.
Tobias Meyer, o leiloeiro-chefe da Sotheby’s, também desceu surpreendentemente de seu pódio há menos de dois anos para ser um consultor.
Guy Bennett, que já foi um dos principais peritos da Christie’s, hoje assessora os Museus do Qatar e sua presidente, a xeique Al Mayassa bint Hamad bin Khalifa al-Thani, irmã do emir qatariano.
Por décadas, os consultores de arte foram um pequeno clube de profissionais que ajudavam pessoalmente seus clientes a formar coleções, usando sua erudição e seu conhecimento. Seu papel era consultar e oferecer perícia, raramente fazer negócios. Bernard Berenson, historiador da arte, foi um famoso assessor da colecionadora Isabella Stewart Gardner.
“Não estou ansioso para que você possua braçadas de Rembrandts, como qualquer milionária vulgar”, escreveu-lhe Bernard em 1900.
Mas o mercado de arte em rápida mutação —caracterizado por preços disparados, altas comissões e uma série de novos compradores em todo o mundo— levou dezenas de novos atores a saltar na piscina, desde jovens arrivistas do mundo da arte a ex-executivos das casas de leilões com conhecimento e conexões.
“É o faroeste”, disse Abigail Asher, que é consultora há 25 anos. “É como estar na corrida do ouro em uma cidade mineira. Nós somos garimpeiros há anos, e agora está aparecendo um monte de gente.”
Muitos desses assessores estão mudando a profissão —perseguindo agressivamente a arte-troféu, exercendo grande poder nas negociações e em alguns casos agindo mais como negociantes de movimentos rápidos do que consultores de mentalidade elevada.
Ainda não está claro que efeito as últimas oscilações do mercado financeiro terão sobre o mercado de arte, mas nos bons tempos as grandes vendas podem dar a um consultor milhões de dólares.
Muitos veteranos do ramo dizem que os praticantes são inexperientes para oferecer bons conselhos ou usam táticas que, segundo eles, ameaçam manchar a profissão, como negociar “por fora” ou cobrar taxas de mediação tanto dos clientes como das galerias.
“Existe uma nova raça estranha”, disse Wendy Cromwell, ex-presidente da Associação de Assessores de Arte Profissionais, “um fornecedor independente —meio operação secreta, como um pistoleiro contratado — que pode conseguir o que você quer em um ambiente duro e em mutação.”
A associação de assessores tem 140 membros, um terço dos quais aderiu nos últimos quatro anos. “Eu recebo coisas oferecidas por ‘consultores de arte’ todas as semanas”, disse o colecionador James R. Hedges. “Eles atuam cada vez mais como negociantes privados, em vez de verdadeiros assessores independentes.”
Karen Boyer estudou história da arte, mas tinha pouca experiência profissional quando saiu do ramo de fundos de investimento. Ela dirige uma consultoria de arte em seu apartamento em Manhattan desde 2010, tendo entre seus clientes colecionadores de Wall Street. “Meus clientes são muito analíticos, tratam a arte como qualquer outro investimento”, disse Boyer.
Cada vez mais assessores trabalham à base de comissões, geralmente ganhando de 5% a 10% do preço de compra —o que leva a grandes retornos quando os preços alcançam dezenas de milhões de dólares. Tais vendas são geralmente raras, mas segundo documentos de tribunais e registros estatais, Ben Heller, um assessor de J. Ezra Merkin, um destacado financista de Wall Street e colecionador, ganhou US$ 26,5 milhões em comissões em 2009, sobre a venda de uma coleção de arte cheia de obras de Rothko, por US$ 310 milhões.
É um aumento excepcional para especialistas das casas de leilões, que geralmente ganham um salário básico de US$ 350 mil a US$ 1 milhão anual, mais bônus.
Muitos negociantes e galeristas também estão atuando como assessores, violando um princípio da associação setorial, segundo o qual seus membros não devem possuir grande quantidade de obras de arte à venda.
A regra destina-se a evitar a sugestão de que os assessores forçam os clientes a investir nos mesmos artistas, assim aumentando o valor de suas próprias coleções ou lucrando com a venda de obras de sua propriedade para colecionadores.
Entre as mudanças mais questionáveis está a das pessoas que cobram duas comissões quando ajudam a fechar uma venda —uma do cliente e outra da galeria que vende a obra.
Algumas galerias acham que devem aceitar a prática para obter favores no futuro. Mas um colecionador nunca pode ter certeza de se a obra está sendo recomendada por seus méritos ou por causa do bônus da galeria. Se os consultores que têm um conflito de interesses não revelarem isso a seus clientes, eles podem ser acusados de romper seu dever fiduciário.
Elizabeth Szancer, antiga consultora de arte e curadora, disse que esses lapsos diluem o significado do termo “consultor de arte” e que o setor deve se manter fiel a seus princípios.
“Realmente, temos de defender nosso campo”, disse ela.
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