“A verdade é que ajudei a salvar a Coreia do Sul num de seus momentos mais críticos.” Hong Yoon-Hee: O sul-coreano que teve sua condenação por traição anulada| Foto: Jean Chung para The New York Times

Hong Yoon-Hee tinha uma história para contar, a quem quisesse ouvir, sobre como arriscou a vida tentando salvar a Coreia do Sul em um momento crucial da Guerra da Coreia, foi condenado à morte e acabou fugindo para os Estados Unidos. O plano, disse ele, era limpar seu nome. No ano passado, após anos vasculhando arquivos militares e entrando com petições e processos judiciais, Hong alcançou seu objetivo. Em fevereiro, um tribunal em Seul anulou sua condenação de 1950 como traidor por ter lutado pela Coreia do Norte. Hong, de 83 anos, agora quer ser reconhecido como herói.

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"Durante 63 anos, vivi com o estigma de ser um traidor. A verdade é que ajudei a salvar a Coreia do Sul num de seus momentos mais críticos", afirmou Hong, que mora na Califórnia." Quando a Coreia do Norte invadiu o sul, em junho de 1950, Hong era sargento no exército sul-coreano. Ele estava entre aqueles presos em Seul quando o presidente Syngman Rhee fugiu para o sul e a ponte do Rio Han foi destruída, cortando a rota de evacuação.

Hong disse ter ficado desesperado para alcançar as tropas sul-coreanas em retirada. Ele aceitou o conselho de um amigo, que era na verdade um comunista clandestino, para se juntar ao avanço dos norte-coreanos e depois desertar para a Coreia do Sul na linha de frente.

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Antes de agosto, a unidade norte-coreana de Hong se aproximava da linha de defesa que tropas americanas e sul-coreanas haviam construído no sudeste da Coreia do Sul. Certo dia, ele ouviu que o líder norte-coreano, Kim Il-sung, havia ordenado uma ofensiva geral no início de setembro – em uma tentativa total de avançar pelo perímetro e vencer a guerra.

"Eu não podia esperar. Eu poderia ser morto cruzando a linha de frente, mas se o norte vencesse a guerra, minha identidade seria exposta e isso também seria o meu fim", contou Hong.

Ele fugiu na noite de 31 de agosto de 1950. Na manhã seguinte, ele avistou soldados sul-coreanos e lhes disse que possuía informações urgentes. Hong acabou sendo interrogado por um soldado de inteligência americano.

Em 11 de setembro, após ter retornado a sua velha unidade sul-coreana, a polícia militar o acusou de ser um espião comunista. Hong foi torturado e condenado à morte, mas seu advogado apelou ao juiz, que reduziu a sentença para prisão perpétua.

Ele foi libertado em 1955, dois anos após o fim da guerra, mas permaneceu sob vigilância policial. Em 1973, temendo voltar à cadeia sob leis de segurança mais rigorosas, ele e sua esposa mudaram-se para os Estados Unidos, onde tiveram um supermercado e um restaurante. Em 1994, ele descobriu que os americanos davam crédito a um desertor norte-coreano, o major Kim Song-jun, por oferecer as informações sobre a ofensiva de 1950.

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Em 2000, a Coreia do Sul admitiu que citar o major Kim como fonte foi um erro. No entanto, em 2007, a Suprema Corte do país rejeitou a apelação de Hong por um novo julgamento.

Então, em 2011, Hong encontrou um memorando de 1954 redigido por um oficial americano, declarando que Hong havia desertado e relatado o plano da ofensiva norte-coreana, que foi retransmitido ao Comando do Extremo Oriente, em Tóquio.

Esse memorando se mostrou crucial para conseguir o novo julgamento que limpou o nome de Hong. No veredito, em fevereiro, o tribunal distrital de Seul elogiou sua "longa luta para esclarecer a Guerra da Coreia e provar sua inocência". Mas Hong deveria ser reconhecido como um herói de guerra? O Instituto para Compilação da História Militar declarou que as forças aliadas já haviam descoberto a ofensiva norte-coreana com seus próprios relatórios de inteligência. Os historiadores do instituto disseram não poderem avaliar a contribuição de Hong até encontrar os registros do interrogatório. Após ler milhares de páginas de interrogatórios de prisioneiros de guerra, Hong afirmou: "Estou convencido de que fui um salvador para as forças aliadas".