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Coreia do Sul paga mesada, dá comida e fralda para estimular taxa de natalidade

O berçário de Haenam, palco do extraordinário salto de natalidade da região, hoje a mais fértil da Coreia do Sul. | Woo Hae-cho/NYT
O berçário de Haenam, palco do extraordinário salto de natalidade da região, hoje a mais fértil da Coreia do Sul. (Foto: Woo Hae-cho/NYT)

Nos anos 70 e 80, quando o governo sul-coreano estava preocupado em erradicar a pobreza, Kim Chung-jae e outros profissionais da área da saúde iam de vilarejo em vilarejo tentar convencer os casais a praticar o controle de natalidade. Distribuíam camisinhas e anticoncepcionais. Pediam às mulheres que fizessem laqueadura e aos homens, vasectomia, oferecendo incentivos como sacos de farinha para elas e isenção do serviço militar obrigatório para eles. Quem aceitava era levado às clínicas para a realização do procedimento.

“O Ministério do Interior estipulava a cota de quantos homens e mulheres deveriam ser convencidos a operar. Nenhum funcionário público que levasse a carreira a sério poderia ignorar essa informação”, conta Kim.

Algumas décadas depois, em 2015, Kim e seus colegas estão fazendo exatamente o contrário: tentando convencer os casais a terem mais filhos. Chegam a pagar um valor mensal e entregar pacotes de carne e roupinhas às famílias com recém-nascidos. Colocam anúncios nos jornais anunciando os nascimentos. Oferecem até o serviço de acadêmicos confucianos para sugerirem nomes auspiciosos para os bebês. E parece que todo o esforço valeu a pena.

Há três anos consecutivos, Haenam, condado agrícola no extremo sudoeste da península, tem a taxa de fertilidade mais alta da Coreia do Sul, posição rara de destaque em um país que os mais pessimistas predisseram se tornar “extinto” nos próximos séculos se mantivesse a mesma taxa de natalidade – 1,2 filho/mulher, uma das mais baixas do mundo.

Antes da instauração da iniciativa, há vários anos, a região obedecia ao padrão demográfico típico criado pela rápida industrialização e pelo controle de natalidade rígido. O governo militar promoveu incessantemente a campanha, na década de 70, estimulando as famílias a “ter apenas dois filhos e criá-los bem”. Uma associação nacional de donas de casa exortava as mulheres a “demonstrar o amor pela pátria através da contracepção”.

Nos anos 80, o governo decidiu empurrar o nível de fertilidade abaixo de dois filhos/mulher, alertando que “dois era demais”. Nos jornais, anúncios de associações nacionais de planejamento familiar diziam que as famílias com mais de dois filhos deviam “se envergonhar”.

Quando a província de Haenam, assim como a Coreia do Sul como um todo, percebeu que sua política de controle de natalidade era tão eficaz que já se transformara em ameaça, a tarefa de reverter a queda provou ser muito mais complexa do que se previra.

Para as famílias, ter um ou dois filhos e “criá-los bem”, significava concentrar os recursos na educação – o que gerou uma competição acirradíssima nos exames de admissão das universidades e elevou os custos das escolas, incluindo o de professores particulares e as chamadas “cram schools” (espécie de cursinho).

Muitas mulheres entraram no mercado de trabalho, mas ainda eram pressionadas a pedir demissão quando engravidavam. Para a maioria, uma licença-maternidade longa com a opção de volta ao trabalho, embora fosse um direito legal, continuava sendo sonho. Assim, tanto homens como mulheres optavam por não se casar, ou se casarem mais tarde e terem um filho só.

“Antigamente, ninguém pensava em usar o benefício. Eu mesma tive que contar com os meus pais para cuidar dos meus dois filhos quando tive que voltar a trabalhar e eles ainda tinham três meses.”

Min Young-seon funcionária pública de 35 anos de Haenam.

Depois que deu à luz o terceiro filho, em 2014, o governo lhe concedeu 1,5 ano de licença.

Em um país montanhoso, Haenam se destaca pelas planícies propícias à agricultura e produz mais arroz que qualquer outra nação. Só isso já deveria torná-lo um local de exploração estável para as famílias, mas os jovens preferiram ir embora, em busca de empregos bem remunerados nas cidades, como acontece em outras partes do mundo. A população encolheu de 235 mil, em 1969, para 76 mil, sendo que 28 por cento tem 65 anos ou mais.

O centro de saúde em que Kim trabalha, recém-reformado, já chegou a fazer de 300 a 500 partos por ano, mas agora cuida principalmente de idosos: cerca de 60 por cento da verba de Haenam é aplicada no segmento da terceira idade.

Quando visitei o prédio imponente, pelo menos uma dúzia deles jogava tênis de mesa. Funcionários jovens lhes serviam refrigerantes.

Kim Jeong-bin, diretor de escola aposentado e presidente do clube, lamenta o fato de haver tão poucas crianças em idade escolar em seu bairro que três ou quatro delas tiveram que fechar as portas. E a tendência é nacional.

“Vai chegar uma hora que não teremos mais jovens para cuidar dos mais velhos.”

Han Seoung-hee aposentado de 74 anos.

Como parte da iniciativa de mudança da atitude da comunidade em relação à natalidade, Haenam está tentando convencer o setor privado a garantir às funcionárias um período mais longo de licença. E também oferece cursos para ensinar os homens a serem pais melhores para os pequenos. Há grupos de namoros para os solteiros, além da oferta de financiamentos camaradas e outros incentivos para atrair 800 famílias jovens da cidade e apostar na agricultura.

Depois de chegar ao ponto mais baixo, em 2011, o número de nascimentos em Haenam subiu para 799 em 2012, 808 em 2013 e 823 em 2014. Em setembro, o condado se tornou o segundo a abrir um centro de cuidados pós-parto.

Kim ganhou uma medalha do governo federal por seu papel nessa retomada – e não é à toa que se mostra otimista em relação ao futuro de Haenam, um dos condados mais remotos da Coreia do Sul.

“Dos confins da terra nós nos tornamos um raio de esperança; torcemos para que o resto da Coreia siga nosso exemplo e tenha mais filhos”, conclui.

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