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Quando afundou, o S.S. Central America seguia para Nova York com uma carga destinada aos bancos da cidade. O navio a vapor transportava tanto ouro que seu naufrágio contribuiu para o Pânico de 1857, considerado a primeira crise financeira global.

A busca para resgatar o navio —que afundou durante um furacão na Carolina do Sul com milhares de moedas, barras e pepitas de ouro da Califórnia— produziu sonhos despedaçados e pesadelos legais em 25 anos.

Os destroços do barco de rodas propulsoras laterais foram achados em 1988. O descobridor resgatou moedas reluzentes e se vangloriou do tesouro de US$ 1 bilhão (R$ 2,22 bilhões).

No entanto, tudo ficou paralisado enquanto seguradoras e investidores moviam processos opostos. A recuperação do barco naufragado foi deixada de lado devido a acusações de fraude. Em 2012, o descobridor fugiu.

Agora, com os obstáculos legais removidos, a Odyssey Marine Exploration, que atua com um síndico de massas falidas designado por um tribunal, teve o prazer de encontrá-lo repleto de tesouros.

Em abril, a empresa retirou cinco barras de ouro que valem cerca de US$ 1,2 milhão (R$ 2,66 milhões) como metal. Isso abriu um novo capítulo na saga do Central America, que incluirá resgatar o resto do ouro e explorar os destroços da embarcação.

"Queremos mostrar que isso pode ser feito da maneira correta", disse Gregory P. Stemm, diretor-executivo da Odyssey.

Trinta anos atrás, Thomas G. Thompson, engenheiro do Battelle Memorial Institute, de Ohio, começou a procurar investidores que sonhavam em descobrir o navio. Isso deu origem ao Columbus America Discovery Group, cuja finalidade era financiar as buscas.

Em setembro de 1988, a equipe descobriu moedas e lingotes de ouro espalhados pelo madeirame apodrecido do barco e, da noite para o dia, os investidores ficaram milionários —ao menos na teoria.

A equipe retirou quase duas toneladas de ouro. Caso fossem vendidas hoje, elas chegariam a US$ 76 milhões (R$ 168,7 milhões).

Porém, surgiram reivindicações pela fortuna por parte de uma ordem de monges católicos, de um milionário do petróleo do Texas e da Universidade Columbia, onde um oceanógrafo fornecera imagens feitas com sonar do que seriam os destroços do barco.

Seguradoras afirmaram que o tesouro lhes pertence devido a indenizações pagas há mais de um século. Os litígios impediram Thompson de levantar mais fundos e abocanhar o tesouro.

Somente por volta de 2000, quando seguradoras receberam US$ 5 milhões (R$ 11,1 milhões) em ouro, ele ficou livre para agir. Então vendeu grande parte do tesouro restante que sua equipe recuperara e, ao que consta, ganhou US$ 52 milhões (R$ 115,4 milhões).

Seus 251 investidores, porém, nada ganharam, e em 2005 alguns deles o processaram. Uma disputa foi por 500 moedas que aparentemente desapareceram.

Em um depoimento em 2012, Thompson disse que elas foram para um truste em Belize, mas quando ele não compareceu ao tribunal um juiz ordenou sua prisão.

O engenheiro e sua assistente, Alison Antekeier, moravam há muitos anos na Flórida, em uma mansão em um terreno de cerca de dois hectares. Mas quando policiais federais chegaram lá para prendê-lo, a dupla já havia fugido.

Uma parte importante do drama legal foi resolvida em 2013, quando o juiz Patrick E. Sheeran, do Tribunal de Recursos do condado de Franklin, em Ohio, designou como síndico da massa falida Ira O. Kane, empresário de Columbus cuja tarefa é recuperar o máximo de ouro para ressarcir credores e investidores ludibriados. Em março, Kane escolheu a Odyssey para retomar as buscas.

Mark D. Gordon, presidente da Odyssey, disse que a estimativa feita pelo síndico quanto ao tesouro restante, possivelmente formado por moedas de ouro, atingiria no mínimo US$ 85 milhões (R$ 188,7 milhões) se fosse vendido por seu valor a colecionadores.

Mas a estimativa não inclui 13 toneladas de metais preciosos do Exército que talvez estejam a bordo. Em 23 de abril, o Odyssey Explorer partiu da Carolina do Sul para retomar as buscas.

A empresa absorverá os custos se descobrir poucos tesouros, mas se os ganhos forem substanciais ela receberá 80% até recuperar os custos e 45% a partir daí.

O juiz Sheeran, assim como os investidores ainda vivos, está ansioso para ver os resultados. Para ele, o plano despertará uma nova sensação de assombro quando "mais tesouros, tanto históricos quanto monetários, saírem das profundezas do mar".

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