A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, com operários da Petrobrás, impediu que a empresa aumentasse os preços| Foto: Ari Versiani/Agence France-Presse — Getty Images

Nenhuma empresa foi símbolo da ascensão do Brasil como a Petrobrás, a gigante do petróleo.

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Reforçada por uma das maiores descobertas de petróleo deste século, a Petrobrás subiu para o topo do ranque dos produtores globais de petróleo. Os executivos da empresa estatal se gabavam de que ela podia até mesmo ultrapassar a Apple como a empresa de capital aberto mais valiosa do mundo. O Brasil parecia estar no ápice da independência energética.

Agora, a Petrobrás está começando a simbolizar algo completamente diferente: a confusão que aflige a economia estagnada do Brasil e a reavaliação das perspectivas de crescimento dos mercados emergentes de energia ao redor do mundo.

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A produção de petróleo da Petrobrás está estagnada, agravada pela dependência do Brasil do petróleo importado. Além disso, está atolada em investigações por corrupção e por acusações de improbidade administrativa. E é agora a empresa mais endividada do mundo.

"O declínio tem sido impressionante", declarou Fábio Fuzetti, sócio da Antares Capital Management, uma empresa de investimentos de São Paulo. "Essa é a empresa de energia que serviu de modelo para outras empresas nos países em desenvolvimento. Agora, é exatamente o exemplo do que não fazer".

Contudo, a Petrobrás continua lucrativa de forma geral, e é pioneira na tecnologia de exploração em águas profundas. Ela também controla bens ao redor do mundo, inclusive reservas de gás e de petróleo de aproximadamente 13 bilhões de barris.

Os acionistas estrangeiros, que financiam 43 por cento do programa de investimento da empresa, têm sido pacientes, porém, analistas alertam que a abundância de liquidez global está guiando isso. Se os problemas da Petrobrás piorarem, ela pode encontrar resistência nos mercados internacionais.

Os males que afligem a estatal refletem uma preocupação maior de que a era dourada do Brasil, da China, da Rússia e da Turquia, que antes era a vanguarda do crescimento dos mercados emergentes, está chegando ao fim.

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Os problemas da Petrobrás, da qual o governo brasileiro detém 60,5 por cento, tiveram destaque recentemente agora que ela luta contra um escândalo relativo à aquisição de uma refinaria em Houston pelo valor estimado de e 1,19 bilhão de dólares da Astra, empresa petrolífera belga que comprara a refinaria por apenas 42,5 milhões em 2005.

Recentemente também, a polícia prendeu um dos mais poderosos ex-executivos da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, que chefiava as operações das refinarias até 2012. Os investigadores afirmam que ele estava envolvido em um esquema generalizado de lavagem de dinheiro e pode ter recebido propinas ligadas à construção de uma refinaria que aumentou um custo de 2,5 bilhões de dólares para 18,5 bilhões de dólares.

A Petrobrás enfrenta investigações das acusações de propinas de 139 milhões de dólares da SBM Offshore, empresa holandesa de plataformas petrolíferas, e do superfaturamento de um contrato de 825 milhões de dólares com a Odebrecht, a gigante brasileira da construção civil e de serviços petrolíferos.

A empresa é a mais poderosa do Brasil e pretende investir cerca de 220 bilhões de dólares nos próximos cinco anos, segundo Tony Volpon, especialista da América Latina da Nomura Securities. Muitas outras empresas no país não estão investindo por causa das altas taxas de juros, da inflação e da moeda cara, e estão ficando menos competitivas. A agência de classificação de risco Moody rebaixou a classificação da dívida da Petrobrás em outubro do ano passado para Baa1, a terceira menor categoria da empresa de crédito.

Enquanto isso, ela luta para aumentar a produção de petróleo e de gás, que caiu 2,2 por cento em 2013 para uma média de 2,55 milhões de barris por dia. Há sinais de que este ano a Petrobrás possa finalmente ter sucesso em reverter essas quedas; a produção de petróleo da empresa subiu 0,3 por cento no Brasil em fevereiro em relação ao mês anterior.

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Em um esforço para impedir a aceleração da inflação durante o ano eleitoral, a administração da presidente Dilma Rousseff impediu que a Petrobrás aumentasse os preços dos combustíveis para igualar o custo de importação da gasolina e do diesel refinados. Ao mesmo tempo, houve um aumento interno do consumo de combustíveis.

O resultado é que os prejuízos da Petrobrás nas operações de refinamento, transporte e marketing atingiram oito bilhões de dólares em 2013.

Volpon prevê que a economia do país cresça menos de dois por cento este ano. Segundo ele, "O problema do Brasil é que o ciclo de quatro por cento de crescimento acabou".