Costureiras salvam patinadores

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O Campeonato Americano de Patinação Artística ainda nem tinha começado, quando uma patinadora enfrentou um problema de vestuário durante um treino de dança no gelo. Nada com que se preocupar. "A mãe dela chegou voando com um zíper", disse Jan O’Neill, costureira voluntária que há 25 anos faz e conserta roupas de patinadores.

Do outro lado do ginásio, na área de aquecimento do TD Garden, Paul Loder estava sentado num trailer com as ferramentas de um mecânico de patins: chaves de fenda, alicates, furadeiras, sovelas, cola, um afiador e uma máquina de costura própria para couro de sela.

Uma menina de 12 anos vem até a porta, precisando que suas lâminas sejam afiadas antes da cerimônia de abertura. Antes, Loder havia colado uma costura esgarçada em uma bota e afiado outro par de lâminas que parecia estranhamente fora do normal.

"Não sei o que a menina fez", disse ele. "Parece que ela caminhou no estacionamento."

Dos 500 voluntários do campeonato, talvez nenhum prestasse serviços mais urgentes do que as cinco costureiras e os três mecânicos que consertavam roupas e patins. "Eles vêm em boa hora", disse Michelle Kwan, duas vezes medalhista olímpica e cinco vezes campeã mundial, hoje aposentada. "Se o seu zíper não funciona, você está em apuros."

No nível da elite no esporte, as roupas podem custar milhares de dólares. Botas customizadas variam de US$ 500 a US$ 700, com um adicional de US$ 800 para as lâminas, as quais têm de suportar uma força tremenda toda vez que um patinador aterrissa no gelo depois de duas, três ou quatro piruetas no ar. Um defeito pode deixar um competidor exposto, constrangido ou em perigo.

Uma máquina de costura fica de prontidão no vestiário para reparos em costuras, alças e fechos. Um kit que lembra uma caixa de apetrechos de pesca está cheio de tesouras, agulhas de costura, fitas adesivas, alfinetes, cola, caneta de remoção de manchas, fechos, ganchos e uma fita métrica.

Um roupão fica disponível caso o patinador precise tirar o traje. Também há spray de cabelo, que funciona como um fixador temporário em rasgos no figurino causados por um imprevisto roçar de lâminas.

Uma exigência é feita aos voluntários: eles não devem falar com os patinadores, a não ser que os patinadores lhes peçam ajuda. E não se espera que eles façam milagres.

O ajuste de uma bota ou o posicionamento das lâminas é tão pessoal para os patinadores quanto as impressões digitais.

Alguns viajam somente com um par de botas. O risco de perder os patins cresceu depois do 11 de Setembro. Desde então, algumas cias. aéreas, por considerar as lâminas como uma arma em potencial, pedem que elas sejam despachadas na mala em vez de levadas na bagagem de mão. E um patim perdido ou quebrado pode arruinar uma competição inteira.

Em outubro, na Skate America, uma etapa no circuito do Grand Prix em Detroit, o americano Adam Rippon tentou um salto de quatro piruetas durante um treino e quebrou o salto da sua bota direita. Um técnico do fabricante de botas viajou mais de três horas desde Toronto com um novo par, somente para ouvir que Rippon preferia que a bota danificada fosse consertada. Então, o especialista foi de carro até um Walmart e comprou cola, parafusos e uma furadeira. Colocou uma placa de metal dentro da bota e reposicionou o salto. Rippon terminou a competição em segundo lugar.

Na final do Campeonato Mundial de 2001, em Vancouver, no Canadá, Kwan estava se aquecendo antes da etapa de qualificação quando o salto da sua bota direita se desprendeu da sola. Ela corria o risco de ser desclassificada.

"Prenda-o com um prego", pediu Kwan a um mecânico relutante, segundo relato dela própria. "Se você não fizer isso, meu Mundial está acabado."

A bota foi consertada. Kwan foi em frente e ganhou o quarto de seus cinco títulos mundiais.