Seis bancos de Nova York concedem microempréstimos| Foto: Ruth Fremson/The New York Times

Dezenas de imigrantes latinas estavam reunidas numa agência bancária em Nova York, esperando por meia dúzia de funcionários do setor de crédito que iam chamá-las pelo nome e entregar um cheque a cada uma.

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Os empréstimos foram registrados à moda antiga, a caneta, em cadernetas verdes que traziam uma lista dos compromissos assumidos pelos mutuários: ter "comportamento financeiro responsável", "buscar assistência médica preventiva" e se reunir semanalmente em "um lugar confortável e seguro". Os empréstimos concedidos variavam de US$ 1.500 e US$ 8.000 e tinham poucas garantias.

"As famílias da zona rural africana são mais semelhantes às famílias americanas do que as pessoas gostam de imaginar", comentou Jonathan J. Morduch, diretor executivo da Iniciativa de Acesso Financeiro, da Universidade de Nova York.

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A finalidade dos empréstimos, conforme concebidos por Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz e fundador do Banco Grameen, é fomentar o empreendedorismo de pessoas pobres, "usar dinheiro para criar dinheiro". Mas é possível que sua popularidade nos EUA se deva também ao caráter cada vez mais instável da pobreza no país, com as pessoas de baixa renda tendo dificuldade de acesso ao crédito e sustentando-se com trabalhos diversos de tempo parcial. Mais de 45 milhões de americanos vivem abaixo da linha de pobreza.

Os clientes do Grameen nos EUA formam grupos de cinco pessoas, aprovam os empréstimos uns dos outros e saldam suas dívidas em prestações semanais, a juros anuais de 15%. Se todos no grupo saldam suas dívidas dentro do prazo previsto, cada membro do grupo tem direito a um empréstimo maior no ciclo seguinte. A ideia é que os membros usem o dinheiro para finalidades de empreendedorismo.

O Grameen tem 18 mil mutuários e até setembro já tinha concedido mais de US$ 100 milhões em empréstimos. O banco tem seis agências em Nova York e cinco em outras cidades. A maioria dos mutuários salda suas dívidas, diz o banco.

Os mutuários disseram que usaram o dinheiro para adquirir bijuterias, suplementos nutricionais ou cosméticos para revenda de porta em porta ou em pequenos negócios montados em suas casas. Alguns fazem bolos ou empanadas para vender.

Mesmo donos de lojas pedem crédito ao Grameen. Guadalupe Perez, 51, contraiu um empréstimo quando ela e seu marido tiveram dificuldade em pagar o aluguel da loja de artigos de decoração para festas que tinham aberto com suas economias. "Isso me abriu o caminho para conservar meu negócio", disse.

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Dados coletados pelo programa Field do Instituto Aspen mostram que, nos Estados Unidos, os microempréstimos geram empregos e aumentos importantes na renda dos mutuários.

O Grameen diz que a renda de seus mutuários aumentou em média US$ 2.500 em cada ciclo de empréstimo de seis meses e que um em cada cinco deles contrata um funcionário adicional.

Nayrobi Gonzalez de Quiroz, 26, recebeu seu primeiro empréstimo do banco Grameen há pouco tempo, mas decidiu não levar adiante seu plano de comprar bolsas para revenda. Depois de usar US$ 200 do dinheiro para saldar uma dívida, decidiu que seria mais seguro deixar o dinheiro no banco e pagar as prestações da dívida com o que ganha como manicure.

"Aqui a gente tem crédito bom", explicou. "Tenho um filho pequeno. Preciso pensar no futuro dele."