Em toda a Europa, o conflito em Gaza está gerando uma reação mais generalizada contra os judeus, com ameaças, discursos de ódio, e até mesmo ataques violentos que proliferam em diversos países.
O que mais surpreende talvez seja a onda de incidentes que varreram a Alemanha, onde a reparação pelo Holocausto e por outros crimes do nazismo é um dos fundamentos da sociedade moderna. Existe um comprometimento blindado com o direito à existência de Israel. Mesmo assim, os acadêmicos afirmam que os casos recentes podem refletir o clima crescente de antissemitismo que haviam observado antes do conflito em Gaza.
A polícia em Wuppertal recentemente deteve dois homens por suspeita de lançarem bombas incendiadoras na nova sinagoga da cidade. Em Frankfurt, segundo a polícia, uma garrafa de cerveja foi lançada pela janela dentro da casa de um crítico proeminente do antissemitismo. Uma ligação anônima para um rabino ameaçou matar 30 judeus em Frankfurt caso a família dele em Gaza fosse ferida, segundo a polícia.
A série de incidentes surgiu após a chanceler Angela Merkel condenar os cânticos antissemitas dos manifestantes pró-Palestina.
Uma explosão de violência espalhou o medo entre judeus, não só na Alemanha, mas também em outros países europeus.
Mais judeus começaram a deixar a França nos últimos meses, e o antissemitismo de espalhou pelas ruas desde o início do conflito em Gaza. Embora a maioria das manifestações pró-Palestina seja pacífica, um pequeno número de manifestantes violentos, muitos deles jovens árabes, atacou comércios judeus e sinagogas.
As autoridades francesas veementemente condenaram a violência.
Mesmo na Itália historicamente tolerante, o antissemitismo aparece nas ruas de Roma. As vitrines de lojas de judeus em vários bairros foram desfiguradas recentemente com suásticas e adesivos dizendo "Queimem as sinagogas" e "Judeus, o fim de vocês está perto". A polícia suspeita que os extremistas da extrema direita sejam responsáveis pelas ações.
Riccardo Di Segni, o rabino-chefe de Roma, disse acreditar que as ameaças estejam ligadas às tensões no Oriente Médio. "Existe ciclicamente um traço comum ligando as tensões dramáticas no Oriente Médio e o aumento dos casos de antissemitismo", ele disse.
Na Áustria, um jogo de futebol da pré-temporada entre o time israelense Maccabi Haifa e o time alemão Paderborn foi transferido para um local mais seguro depois de um grupo de jovens com a bandeira da Palestina e da Turquia invadirem o campo e agredirem os jogadores durante uma partida anterior.
Os jornais importantes, os políticos e os artistas populares na Áustria e na Alemanha responderam aos ataques de antissemitismo com uma campanha chamada "Aumente a Voz", em apoio às comunidades judaicas em seus países. Mas Samuel Salzborn, professor de ciências políticas da Universidade de Göttingen, não acredita que a campanha tenha alterado a opinião pública.
Para muitos dos mais de 100.000 judeus na Alemanha, a explosão do antissemitismo desde que o conflito se incendiou em Gaza mexeu com lembranças especialmente dolorosas. O Conselho Central dos Judeus na Alemanha já recebeu centenas de ligações dos membros perguntando se eles deveriam deixar o país.
"Não ouço isso há muitos anos", disse Dieter Graumann, presidente do conselho.
Os acadêmicos que estudam o antissemitismo afirmam que a aceitação de declarações pejorativas contra os judeus se tornou cada vez mais comum na classe média educada. Especialmente nas mídias sociais, onde hashtags como #HitlerEstavaCerto apareceram, houve um aumento significativo da intolerância contra os judeus.
Carola Melchert-Arlt, diretora de uma escola em Berlim e mãe de três filhos, disse que ficou com medo pela primeira vez há décadas morando na Alemanha.
"Sempre sentimos o antissemitismo latente por aqui", Melchert-Arlt disse. "Mas o que temos vivenciado nas últimas semanas e dias, não só na Alemanha, como também em toda a Europa, é um temperamento prevalecente da intolerância contra os judeus exteriorizada nas ruas".
Gaia Pianigiani, Katarina Johannsen e Aurelien Breeden contribuíram com a reportagem